Parece irremediável o abandono da intenção de investimento numa nova refinaria, protagonizada por Patrick Monteiro de Barros.
O caso suscita-me duas breves notas.
Infelizmente confirma-se o que muitos suspeitaram: a ligeireza dos anúncios do senhor Primeiro-Ministro de muitos e vultuosos investimentos. Anúncios que têm escassos meses e que, nas palavras do chefe do governo, demonstravam a imensa confiança dos empresários na evolução positiva da economia do País e, logo, na capacidade de realização deste governo.
Afinal, uma de duas: ou a confiança dos empresários nunca foi a que o governo imaginou (face até às exigências conhecidas para concretização deste projecto); ou então foi o governo que depressa perdeu a confiança nos empresários.
Segunda nota. Se for verdade o que foi tornado público, o projecto da refinaria vai por água abaixo porque o governo não se definiu - ou não se definiu a contento das pretensões dos empresários - quanto à comparticipação pública no investimento inicial e no pagamento do encargo decorrente do nível de emissões de CO2 provocadas pela nova refinaria.
Se assim foi, acho espantoso.
A irresponsabilidade de anunciar como certo um investimento que dependia da ponderação de condições que pelos vistos não estavam criadas e, pior do que isso, não estavam estudadas (uma delas, a questão das emissões, necessariamente do conhecimento do Engº Sócrates, ex-ministro do Ambiente!), pode custar ao País bem mais do que a deserção de um projecto, por muito importante que se revele na conjuntura actual. Pode justamente atingir aí, onde a crise tem raízes: na confiança de quem tem condições para investir e na credibilidade geral das medidas de política que com pompa e circunstância são tornadas públicas.
Sempre me pareceu que a leveza da política prisioneira das preocupações mediáticas, teria um alto preço. Está, para nossa desgraça, a confirmar-se.
Desejo patrioticamente que este sentimento se desvaneça com futuros anúncios de concretização dos grandes investimentos na mesma ocasião anunciados. O País agradeceria. E os resultados das sondagens, então sim, compreender-se-iam melhor.
8 comentários:
"Mas oxalá que este sentimento se desvaneça com futuros anúncios de concretização dos grandes investimentos na mesma ocasião anunciados."
E então Deus* começou a chorar e disse:
-Oh, nunca verei esse dia!
*Não esquecer que a entidade Deus tem por atributo a eternidade...
Para que Deus não chore pela eternidade, meu caro CCz, alterei a parte final do post e converti o "oxalá" num pessoal desejo patriótico.
Assim, pouparei a Deus as lágrimas e chorarei eu... ;)
Oh camarada JMFA,
Se o Monteiro de Barros precisa que seja eu a pagar a refinaria dele bem a pode meter pelo rabinho acima.
E isto parece-me razoável.
Não sei se é assim, nem isso no imediato me preocupa. O que me aflige é a constatação de que provavelmente não foram politicamente honestos propósitos de anunciar os investimentos privados que o primeiro-ministro e o ministro da economia anunciaram há escassos meses. Volto a repetir: infelizmente porque, sem recorrer a grandes locubrações teóricas sobre as dinâmicas da economia (para as quais sempre aliás seria incompetente), tenho para mim que sem crescimento nenhum dos nossos problemas será resolvido.
Embora não me sinta informado o suficiente para emitir uma opinião sobre as razões do abandono do projecto, sempre lhe direi que não me choca que o Estado estimule projectos sustentáveis e reprodutívos. Aliás, não é isso que acontece em todos os países desenvolvidos? (veja-se por exemplo o que o Miguel Frasquilho escreveu numa das suas crónicas a propósito da capacidade de atracção do Texas)
Caro JMFA,
De facto, quem nos fez acreditar que iríamos ter uma refinaria foi o Monteiro de Barros, até descobrirmos que não passava de um intermediário.
Honestamente, a pergunta é esta: O estimado Ferreira de Almeida faria algum negócio com ele?
Provavelmente o governo não terá sido avisado suficientemente para ponderar este facto. Terá sido o seu único pecado, e nesse campo, o meu caro tem razão.
O que importa nesta questão não é quem investe mas o mérito do investimento, em si mesmo, para a economia portuguesa, logo para os portugueses. O resto são trocos... ou fait-divers.
O caro cmonteiro é um homem dual: absolutista no que concerne ao ambiente e relativista no que à actuação do governo diz respeito.
Nem sempre é fácil estabelecer uma linha de rumo...
Prezado cmonteiro, honestamente a pergunta não pode ser a que me põe porque é absolutamente irrelevante saber se eu faria negócios com o sr. Monteiro de Barros. Mas sempre lhe diria, caso a resposta alguma coisa adiantasse ao assunto, que faria sim senhor, desde que o negócio me fosse vantajoso.
Mas não fui eu que anunciei o que quer que fosse que dissesse respeito à afamada criatura. Foi o Governo que esteve empenhado e cantou loas ao negócio pela voz do próprio PM que chamou as câmaras de televisão para mostrar ao País como estávamos bem de investimentos!
Não é de somenos importância (negativa, muito negativa...), como prentende o meu Amigo, que o Governo o tivesse feito sem analisar todas as implicações e sobretudo todas as condições, designadamente aquelas que, pelos vistos, tinham sido colocadas pelos investidores ou seria previsível que viessem a sê-lo.
Acha o meu ex.mo Amigo normal que se colocando a questão da comparticipação nos encargos com as emissões de CO2, o PM, que já foi Ministro do Ambiente, antes de anunciar o investimento não tivesse curado de salvaguardar com os interessados quem os pagaria? Não se interessou, hipnotizado como sempre está pela projecção mediática do que diz e do que diz que faz.
Volto à minha. Desejo sinceramente que a vontade de aparecer sempre bem na fotografia, esta tendência de governar pela imagem, não dê sistematicamente este resultado e redunde num agravamento do clima de desconfiança no Estado.
Em certa medida tem o caro LMSP razão quando comenta esta inclinação para o Estado meter o bedelho em tudo. De facto, que necessidade têm os ministros, ou os políticos com funções executivas em geral, de aparecerem sempre ao lado de quem empreende, exibindo as intenções de investimento como seus troféus?
E depois admiram-se que assumido o compromisso público, os investidores menos escrupulosos queiram tirar vantagem da situação, conhecedores de como doloroso é o ónus do recuo?
Eu, ignorante da ciência política, me confesso.
Mas cada vez mais percebo, ou julgo perceber e ver exemplos concretos, daquilo a que Joaquim Aguiar chamou no seu livro o "neopatrimonialismo". Se o estado não estiver em todo o lado, como poderá exigir lealdades e outras coisas de tempos idos.
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