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terça-feira, 2 de maio de 2006

Por Terras do Tio Sam – Maio 01, Segunda – Capítulo 10

O dia começou hoje com a primeira visita a uma universidade desde que estou nos States: a University of Washington, aqui mesmo em Seattle. Para além de ter conhecido o campus universitário – lindíssimo, muito verde, afinal como acontece um pouco por todo o lado nesta cidade- e de ter visitado a biblioteca, um edifício magnífico, ao estilo antigo, em pedra, muito grande e cheio de vitrais, mas muito funcional, tive ainda uma reunião com o Professor Stephen Turnovsky, do Research Center for International Economics, Department of Economics. Discutiu-se um pouco o trabalho do Professor Turnovsky na modelização do comércio internacional e na distribuição do rendimento, áreas para que a sua investigação tem estado mais virada. Além disso, o Professor Turnovsky conhece relativamente bem os Professores António Nogueira Leite, Vasco D’Orey, Ferreira Machado, Isabel Horta Correia e Sérgio Rebelo. Com excepção do Professor Sérgio Rebelo, todos os outros foram meus professores, ou na licenciatura, ou no mestrado, pelo que foi fácil estabelecer comunicação.

Como a reunião terminou mais cedo do que o previsto, houve oportunidade para visitar o Jardim Japonês de Seattle (Seattle Japanese Garden), que fica perto do campus universitário, no Washington Park Arboretum. Foi o meu primeiro contacto ao vivo com um jardim deste género, e posso dizer que gostei imenso: muito bem arranjado, uma enorme variedade de cores nas flores, um lago bonito e, claro, muito, muito verde.

Foi, pois, com esta visão que arrancámos rumo à maior unidade produtiva da Boeing, nos arredores de Seattle, em Everett. Aí, tivemos um almoço oferecido pela companhia, com o Dr. David K. Reese, Federal & International Government Relations e com a Dra. Debra Santos (de ascendência portuguesa), Director, International Sales, Europe, Russia & Central Ásia, Commercial Airplanes.
Hoje, a Boeing emprega, só em Seattle, mais de 60 mil trabalhadores, embora possua outras instalações nos EUA (para o que ajudou a fusão com a – ou melhor, a compra da – McDonnell Douglas, em 2000) e opera em três vertentes: aviação comercial, aviação militar e área espacial.
Foi uma refeição muito agradável e produtiva, porque creio que aprendi imenso sobre aviação e a Boeing. Na verdade, abordámos tópicos tão interessantes como o mercado global de aviação, a realidade actual da Boeing e as perspectivas da própria empresa, as relações Boeing-Airbus e a visão que a Boeing tem da sua rival europeia, e a Boeing em Portugal (hoje, toda a frota da TAP é composta por Airbus, por exemplo…), a problemática dos modelos com 4 motores versus modelos com 2 motores, entre outros.

Seguiu-se, depois, a visita à linha de produção da companhia, nomeadamente dos modelos Boeing 777 (o mais moderno jacto da Boeing), 767 e o clássico “Jumbo” 747, que em breve sofrerá uma remodelação, que envolverá, por exemplo, o aumento do upper deck, e que se chamará Boeing 747-8. O maior modelo hoje produzido pela companhia é o Boeing 777-300 (pouco maior que o 747), com capacidade para cerca de 360 passageiros (menos que o 747 que, por causa da cabina superior le,va mais de 400 passageiros) existindo igualmente a menor versão 777-200.
Cada um destes modelos é de longo (767) e muito longo curso (777 e 747), sendo que o único modelo de médio curso que a Boeing fabrica hoje em dia é o 737, que é montado noutra fábrica, também no Estado de Washington.
Desde 2000 que a sede social da Boeing se situa em Chicago, o que aconteceu por motivos de gestão; no entanto, as unidades produtivas principais continuam, como já referi, a situar-se em Seattle, onde a companhia foi fundada, em 1919.

Enfim, não poderia deixar de referir que a “jóia da coroa” da Boeing é o modelo “787 – Dreamliner”, que começará a ser produzido no final desde ano e que se prevê começar a voar em meados de 2008. Trata-se de um modelo mais pequeno que o 777, que transportará cerca de 300 passageiros (segundo eles, em condições bem mais cómodas do que as actuais), muito rápido, com um alcance de mais de 15 mil kms (igual ao que os maiores aviões conseguem hoje percorrer) e que, devido à investigação levada a cabo pelos engenheiros da companhia, precisará de cerca de menos 20% de combustível do que outros aviões utilizados em missões semelhantes. De acordo com a Boeing, tratar-se-á de uma “pequena” revolução no mundo da aviação. Este modelo representa uma opção totalmente diferente da da Airbus que, como se sabe, apostou no “Super-Jumbo” A-380, que, ao que soube, em versão standard, tem capacidade para cerca de 550 passageiros. De acordo com a Boeing, na rota directa que recentemente abriu entre Chicago e Shanghai, operada pela American Airlines, e que se encontra propagandeada pela empresa por todo o lado, enquanto que o A-380 transportará os 550 passageiros nessa rota, o Boeing 787 poderá, com a mesma quantidade de combustível utilizada pelo A-380, percorrer três vezes essa distância, o que, a acontecer, permitirá o transporte de 900 passageiros (300x3)… Daí que a companhia esteja muito confiante com o lançamento deste modelo.

No enormíssimo pavilhão de produção que visitámos (1000 metros de comprimento, 500 de largura) num veículo motorizado, trabalham por turnos cerca de 22 mil empregados, enquanto que nos escritórios se concentram cerca de 10 mil engenheiros, projectistas, pessoal administrativo e outros. Apesar de a linha de montagem se situar aqui em Seattle, as diferentes peças e partes dos aparelhos são fabricadas em pouco por todo o mundo (em mais de 100 países, entre os quais se conta, segundo me disseram, Portugal), tendo nós tido oportunidade de verificar os casos da Turquia, do México, do Japão e da Rússia.

Tratou-se de uma experiência muito enriquecedora e impressionante e que, por si só, valeu a vinda a Seattle.

O resto da tarde foi passado a conhecer um pouco de down town Seattle, isto é, os arredores do hotel. A cidade é muito acolhedora (apesar do frio que continua a fazer) e creio que deve ser muito agradável viver aqui, até pelas imensas zonas verdes que existem. Depois, jantei novamente no quarto, porque, não sei se devido aos efeitos do jet lag, se por qualquer outra razão, me sinto muito cansado...
... e por isso, é hora de dormir, que amanhã o dia torna a começar bem cedo.

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