Tanto se tem falado na China nos últimos dias, também neste BLOG, a propósito das saborosas declarações do Ministro Manuel Pinho, que se justifica dizer alguma coisa de mais objectivo e interessante (?) sobre este País e sobre a sua economia.
Servir-me-ei de um texto do notável colunista do Financial Times, Martin Wolf (MW), publicado na edição deste jornal de 24 de Janeiro último.
Com um título curioso “Gigante com pés de barro”, refere MW que em muitos aspectos a economia da China, apesar da sua influência crescente no quadro da economia mundial, é bem menos importante do que os 20% da população chinesa na população mundial.
Explica MW que o sucesso económico da China se deve à sua opção por uma política de grande abertura ao resto do Mundo, rejeitando claramente um modelo de autarcia tanto do gosto da maioria dos regimes comunistas – traduzida na entrada em 2001 na Organização Mundial do Comércio.
Assim, em 2004, a relação entre as importações e as exportações da China em relação ao PIB era de 60% (contra 25% na Índia, bem mais atrasada neste capítulo).
No final de 2005, o stock de investimento directo estrangeiro equivalia já a 14,5% do PIB, contra 2% no Japão e 8% na Coreia do Sul.
Em 2006 a China terá registado um impressionante superavit de 11% do PIB na sua balança de transacções correntes, que se decompõe em 8,5% da balança corrente e 2,5% da balança de capital (quase exclusivamente investimento directo). E tem as maioes reservas oficiais em divisas entre todos os países, ultrapassando os mil milhares de milhões de USD.
A China adoptou um modelo de industrialização de mão de obra intensiva, aproveitando o investimento estrangeiro e assumindo o papel de uma grande plataforma de transformação, beneficiando de uma superabundante oferta de mão de obra, a preços irrisórios, transformando-se naquilo que MW chama, citando a revista americana “Public Affairs”, o “final assembly stage of Asian production networks”.
Este modelo evidencia-se no facto de mais de metade das exportações chinesas ser originada na produção de empresas no todo ou em parte de capital estrangeiro, enquanto que as componentes e matérias importadas representam cerca de 55% do valor bruto das exportações de mercadorias.
A China é também um dos grandes consumidores de matérias primas, com 33% do estanho e do carvão, 29% do ferro e do zinco, 32% do aço e 23% do alumínio,no total consumido em 2005. No petróleo a expressão era menor, com "apenas" 7%.
A China é hoje, em suma, uma presença crescente na economia mundial, embora MW lembre que responda apenas (2005) por 7% das exportações mundiais de mercadorias.
Por outro lado, apresenta ainda algumas fragilidades significativas como, por exemplo, o facto de apenas 10% dos diplomados em engenharia e em tecnologias da informação serem capazes de competir globalmente.
Aconselho vivamente os visitantes deste blog a lerem o texto de MW, quanto mais não seja por ter sido com o objectivo de conquistar esta China que um punhado de bravos portugueses esteve por estes dias a abrir caminho.
2 comentários:
Caro Dr. Tavares Moreira
Uma resposta importante está em saber como poderemos aproveitar o dinamismo e o poderio económico da China para criarmos riqueza para o nosso País. Idênticas oportunidades e desafios se colocam relativamente a outros países em grande expansão económica como são os casos da Índia e do Brasil.
Estarão os nossos empresários realmente preparados para penetrar nestes grandes mercados?
Não basta dizer que temos que lá estar!
Cara Margarida,
A resposta, sendo obvia, não é simples: procurando vender-lhes os produtos e serviços em que temos vantagens comparadas ou know-how exportável.
Produtos tradicionais, com certeza: já imaginou se os chineses e indianos começam a beber vinho do Porto com gosto?
Produtos manufacturados, só de elevada qualidade.
Serviços, por exemplo no desenvolvimento de "resorts" turísticos, é possível.
Serviços, na área da distribuição, é possivel.
Enfim, a Margarida descobrirá um sem número de oportunidades que o mercado nos oferece como oferece a qualquer outro país.
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