A viagem que o Primeiro-Ministro se encontra a realizar à República Popular da China, e que só termina no próximo dia 4 de Fevereiro, já ficou indelevelmente marcada pelas declarações do Ministro da Economia sobre a competitividade e a atractividade a investidores estrangeiros da economia portuguesa.
De facto, não creio que seja um bom cartão de visita para Portugal basear a nossa atractividade para investidores estrangeiros nos baixos salários que, face à média da União Europeia, são praticados no nosso país.
Podia o Ministro ter citado 20 razões pelas quais o nosso país é atractivo (e não o fez) – mas nem uma dessas razões podia ser esta.
Não é num modelo assente em baixos salários que o desenvolvimento da nossa economia se deve fazer. Nem me parece que seja das matérias mais sensíveis aos olhos dos investidores internacionais – ainda para mais chineses, eles sim, os campeões da mão-de-obra barata…
Ora vejamos.
Não é o Ministro o “pai” do famoso plano tecnológico? Pois bem, que melhor argumento poderia Manuel Pinho ter dado do que as acções que o Governo tem vindo a desempenhar na área da qualificação dos recursos humanos e da inovação?
E, quando o tema da “flexisegurança” está sobre a mesa, por que não terá o Ministro da Economia abordado o que pensa o Governo fazer para flexibilizar a legislação laboral?
E quando está em curso, segundo se sabe, uma reforma da administração pública, não podia o Ministro ter referido que uma das prioridades do Governo era desburocratizar e facilitar a vida aos investidores e às empresas em geral?
E quando está em vigor um acordo na área da justiça entre o Governo e o maior partido da oposição, não podia Manuel Pinho ter vindo centrar as atenções na reforma da justiça e numa maior celeridade do nosso sistema judicial?
Percebo que sobre fiscalidade o Ministro nada tenha para dizer: afinal, o Governo tem, nesta área, feito tudo ao contrário do que seria aconselhável. Aumentou delirantemente os impostos e não simplificou em nada o sistema fiscal português – o que significa que, nesta área, tão importante para captar investimento como qualquer uma das outras que acima apontei, regredimos em vez de progredirmos.
Mas se sobre todas os outros factores referidos o Ministro não foi capaz de esclarecer o que tem sido feito pelo Governo, estamos conversados: ou o próprio Ministro da Economia não acredita nas acções do Executivo a que pertence, ou então temos, efectivamente, uma (in)acção governativa caracterizada por muitos anúncios (que têm, realmente, tido lugar) mas… muito pouca prática (o que, infelizmente, também é verdade).
Seja como for, nada justifica o cartão de visita de Portugal que o Ministro da Economia apresentou na China. Já ensombrou a viagem do Primeiro Ministro e não deixou o país bem na fotografia. De uma grande infelicidade, é o mínimo que se pode dizer…
3 comentários:
Bem, conhecendo o que é uma "reforma", o que é um acordo com o maior partido da oposição, o que significa "estar sobre a mesa", ou a porcaria do plano tecnológico; posto dessa maneira o ministro, para ser honesto, só poderia falar nos baixos salários.
Podiam também referir que estão actualmente a fazer um grande trabalho na saude, na educação e na economia. Penso que o altismo com que padece o nosso 1º ministro está se alastranto...
E essas declarações são dos males, o menor, se considerarmos os resultados insignificantes da diplomacia económica, bem como o fracasso total da própria diplomacia política strictu sensu, com a viagem do Presidente chinês a África no mesmo período.
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