Na edição de hoje do Financial Times, pág. 6, encontra-se uma interessante notícia acerca da febre capitalista que atravessa o Vietnam.
Segundo essa notícia, estudantes, funcionários públicos e gestores de empresas estatais manifestam um tal entusiasmo pelo investimento na bolsa, ou mesmo fora de bolsa, que bem se pode falar de uma "mania colectiva" com alguns aspectos caricaturais.
Em Hanoi, ao que parece as conversas de café são dominadas pela evolução das cotações e das oportunidades de investimento.
Muitos funcionários públicos e empregados bancários passam grande parte do seu tempo a observar os ecrans da Bloomberg, descurando os seus afazeres profissionais...
Ao lado do mercado organizado da Bolsa de Hanoi, tem-se desenvolvido um mercado informal de transacção de títulos não cotados (uma espécie de “over-the-counter”), que vem despertando também um enorme entusiasmo dos investidores individuais.
O número de companhias que se dedicam às transacções de títulos cotados e não cotados (“brokers”), passou de 16 no início de 2006 para 56 actualmente.
No mesmo período, o nº de titulares de contas-títulos passou de 32.000 para 120.000.
Em resultado desta febre capitalista, o índice de cotações no mercado organizado de acções – ironicamente chamado “Ho Chi Min stock market” – passou do nível 300 em Janeiro de 2006 para 1.100 no corrente mês.
No mesmo período, o valor total das acções cotadas ou “market capitalization”, passou de menos de USD 500 milhões para USD 14 mil milhões.
As autoridades estão naturalmente preocupadas com este febre bolsista ou capitalista, pelos elevados riscos que dela decorrem para os investidores mal informados que neste caso, como em tantos outros já conhecidos, podem vir a perder uma boa parte das suas poupanças quando o mercado – finalmente – vier a sofrer uma correcção.
Quem não se recorda da famosa expressão “comprar gato por lebre”, utilizada pelo 1º Ministro português, em 1987, pouco tempo antes do “crash” bolsista de Outubro desse mesmo ano?
Mas as autoridades vietnamitas, ao que parece firmemente convertidas aos princípios capitalistas, às regras da economia de mercado, têm a preocupação de agir de forma a não matar o interesse dos investidores. Por isso estão a tomar algumas medidas destinadas a arrefecer esta febre dos investidores, mas com bastante cautela.
Quem diria que pouco mais de 30 anos depois da retirada dos americanos e da queda de Saigão para os combatentes comunistas, se iria assistir a uma tal revolução do sistema económico?
O que dirão a mais este exemplo os nossos ideólogos do estatismo económico?
Com a sua proverbial “abertura de espírito”, naturalmente nem quererão ouvir falar. Se instados, dirão talvez que se trata de exageros da imprensa internacional...
A Globalização tem destas coisas...Quem diria?
4 comentários:
É a demonstração que não há bons e maus sistemas. Há o certo e os errados.
Já agora, gostava de sublinhar que "Quem não se recorda da famosa expressão “comprar gato por lebre”, utilizada pelo 1º Ministro português, em 1987, pouco tempo antes do “crash” bolsista de Outubro desse mesmo ano?" poderia muito bem ser dito como "Quem não se recorda da famosa expressão “comprar gato por lebre”, utilizada pelo 1º Ministro português, em 1987, QUE PROVOCOU O “crash” bolsista de Outubro desse mesmo ano?"
Não vamos dourar as pílulas...
Caro Tonibler,
Recordo-lhe que o crash bolsista de 1987 começou na Bolsa de Nova Yorque, com uma queda das cotações superior a 5% num só dia - 17 de Outubro - seguida por novas quedas que lançaram o pânico nos mercados, um pouco por todo o Mundo.
Acha que esse acontecimento se deveu às declarações do 1º Ministro português alguns meses antes?
Perdoe-me esta observação,meu Caro, mas esse seu comentário é um exercício de fantasia dificilmente igualável...
Caro Tavares Moreira,
5% num dia? Eu falava de 75% num ano. Nova Iorque caiu 75% num ano?
Caro Dr. Tavares Moreira,
Com essa agitação dos Mercados de Capitais no Vietman, provavelmente têm que contratar um "Dr. Paulo Macedo" para haver mais rigor e controlo por causa da evasão fiscal que possa surgir.
Um abraço
Pedro Sérgio (Palmela)
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