Chamava-se Serafina Conceição Vilas Boas, morava em Quarteira, e segundo um jornal diário faleceu há dois anos totalmente cega.
Foi referenciada pelo Centro de Saúde de Loulé ao Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio para uma intervenção cirúrgica às cataratas. Em 2003.
A família, relata o jornal, foi agora notificada da marcação da operação.
No mesmo dia responsáveis pelo ministério da saúde dizem-nos que tudo vai no melhor dos mundos; e que o sistema público de saúde se regenera, aproximando-se do que melhor que se faz na Europa.
O senhor Governador do Banco de Portugal confirma-nos que estamos na senda do crescimento. Que exportamos mais para vivermos melhor. E que se confirma também que mais umas décimas de crescimento se antevêem para o ano que vem.
O senhor Primeiro-Ministro mostra-se chocado com o sucedido com os dois professores entretantos falecidos obrigados por juntas "médicas" a permanecer no inferno do activo apesar da terminal doença que os afectava, e parte de imediato para o Parlamento Europeu onde assumiu o seu papel de líder do futuro da Europa. Dali nos confirma que estamos no bom caminho.
Vejo na RTP-N uma senhora professora de economia declarar com magistral firmeza que Portugal já não faz parte desses que dantes se chamavam "países em vias de desenvolvimento". Para júbilo dos circunstantes.
Mudo de canal e ouço o rol de costumeiros políticos, a propósito de umas eleições, dizer que para eles as pessoas é que contam...
Tudo isto no mesmo dia em que um jornal achou ser notícia que uma cidadã europeia, da mesma nacionalidade destes otimistas personagens, que viveu cega os seus últimos dias, foi finalmente convocada para uma singela operação às cataratas, pedida pelos médicos há quatro anos. Sem que conste que tenha legado o corpo à ciência...
O facto de Serafina ter falecido há já dois anos, seguramente em miserável sofrimento por se lhe ter apagado a luz da vida, é um pormenor que o "sistema" de um País desenvolvido suporta bem.
E bem vistas as coisas, ouvindo os discursos de políticos e sábios, que importa o caso se estamos a "crescer"?
1 comentário:
Pois que importa, caro Ferreira de Almeida? O caso do tempo de espera até à eternidade dessa senhora é um mero caso excepcional, que só evidencia a regra de prestação de cuidados de saúde na hora!...
Alguns hospitais já estão até tão folgados, que anteciparam a data dos abortos.E, para promoção, gratuitos, sem taxas moderadoras!...
Grande política de saúde!...
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