1.A Irlanda, como todos sabemos, teve de solicitar em Novembro de 2010 a ajuda financeira da União Europeia e do FMI – tal como a Grécia em Maio de 2010 e Portugal em Maio de 2011 – na sequência de uma grave crise bancária que arrastou consigo uma crise orçamental e financeira colocando o País à beira da bancarrota.
2.Passado pouco mais de 1 ano, o que nos mostra a situação da Irlanda? Muito em resumo, o seguinte:
- A sua economia, em vez de contrair como a grega (-6%) e a portuguesa (-1,6%), terá crescido em 2011 um pouco mais de 1% segundo as mais recentes previsões do Eurostat, devendo continuar a crescer em 2012 apesar da ligeira contracção que se espera ao nível da zona Euro (e das severas contracções em Portugal e na Grécia);
- Segundo o último relatório do FMI de revisão do PAEF irlandês, a Irlanda, em total contraste ao que se passa na Grécia, tem vindo a cumprir todas as medidas e metas estabelecidas no Programa;
- A taxa de juro da dívida irlandesa a 10 anos, segundo a cotação mais recente dada pelo mercado secundário, já é inferior a 1/2 da taxa de juro da dívida portuguesa (7,33% versus 15,1%), e à volta de 1/5 da taxa da dívida grega.
3. Mais notável ainda, sabe-se que a Irlanda está de volta ao mercado internacional de capitais, pela primeira vez desde Setembro de 2010, tendo conseguido interessar investidores para uma operação de troca (swap) de dívida com vencimento em Janeiro de 2014, no montante de € 3,52 mil milhões, por dívida com vencimento em Fev/2015 vencendo juro de 5,15%.
4. Esta troca de dívida insere-se numa estratégia que visa aliviar o serviço de dívida nos primeiros meses de 2014 quando deverá terminar o Programa de Assistência e a Irlanda tiver de voltar a financiar-se no mercado.
5. Em Portugal, curiosamente, tanto a classe política como os opinion-makers, de uma forma geral, quando querem encontrar um paralelo com a dificílima situação em que nos encontramos citam, invariavelmente, o exemplo da Grécia e das sua desgraças, omitindo sistematicamente o caso da Irlanda...
6. …às vezes para se ufanarem (tristemente, direi) da nossa situação, podendo afirmar que a Grécia é um caso à parte, que não podemos ser equiparados à Grécia, estamos numa divisão superior (isolados, embora…), e não sei que balelas mais...
7. É mais uma manifestação da mediocridadezinha generalizada que para aí se instalou, tanto na classe política como nos comentadores que ocupam lugares cativos nos telejornais, nos frente-a-frente, nos lado-a-lado, no inevitável "prós-e-prós", etc…
8. Porque razão omitimos a Irlanda, como se não fosse tb um país sujeito a um Programa de Assistência, preferindo voltar-nos sempre para a infeliz Grécia? Porque não olhamos antes para a Irlanda e utilizamos um discurso do tipo: a Irlanda está muito melhor que nós, mas aquilo que nos cumpre é tudo fazer para conseguir, pelo menos, atingir idênticos resultados?
9. Quem sabe se o motivo não estará em saberem que a Irlanda evitou subir impostos (sobretudo os directos) e concentrou todos os esforços na redução de despesa?...
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