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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

As culpas da Europa: o novo canto da sereia

Começa a gerar-se uma onda de opinião que, atribuindo todas as culpas da crise à Europa e à austeridade, faz perder de vista a causa das coisas e a esquecer as medidas estruturais de que apenas nós somos responsáveis e que é forçoso implantar. Nessa onda de opinião, que começa a ser dominante nos media, está sempre subjacente a ideia de que o antídoto para a austeridade é mais intervenção do Estado, que potenciaria o crescimento. No fundo, o que defendem, atacando a austeridade e a Europa, é mais Estado, mais impostos e mais endividamento. O que, naturalmente, no caso português, daria no fim da nossa adesão ao euro e, em geral, potenciaria a queda da própria moeda e traria nova convulsão aos mercados. Nem é bom pensar no que aconteceria se deixássemos de fazer o trabalho de casa e seguíssemos tal doutrina de “crescimento”. Seria criminoso se tal acontecesse.
Claro que para sair da crise tem que haver crescimento. Mas o crescimento em Portugal não vai depender da ajuda da Europa, nem de mais despesa pública, pelo contrário; depederá, sim, da concretização de medidas aque só a nós compete tomar, que tragam um bom ambiente à actividade económica e propiciem investimento e emprego.
O crescimento passa pela desburocratização, pela redução dos custos de contexto, por políticas estruturais viradas para a competitividade, políticas que tragam efectiva concorrência, melhorem o mercado de trabalho, dinamizando o emprego, políticas fiscais que incitem ao investimento e não o afastem, políticas energéticas que tornem a energia mais barata para particulares e empresas, mesmo que acometam os poderosos lóbis eólicos, ecológicos e ambientalistas. Uma política económica virada para a economia dos bens transaccionáveis e da exportação, em vez da política favorecedora das grandes obras públicas. Uma justiça rápida, licenciamentos rápidos, fim do “condicionamento industrial” burocrático que tolhe a nossa economia e afasta investimento.
Estas são as medidas, que são eficazes e não custam dinheiro aos contribuintes, custarão apenas muita impopularidade política. Caso nos fosse mais uma vez permitido continuar com as mesmas políticas centradas nos gastos do Estado, pelas quais novamente se propugna, nunca faríamos as reformas necessárias. E a crise seria permanente. A um nível que nem imaginamos.

2 comentários:

Tonibler disse...

Uma coisa que não tem ajudado Portugal (ou, por outras palavras, tem ajudado os oportunistas) é o facto de os anglo saxónicos usarem a expressão "austerity" para designar aumento de impostos para pagar a despesa, tal como nós usamos (erradamente) para corte de despesa. Austeridade não é cortar na despesa, isso é bom para os cidadãos.

Isto tem feito com que os media (que viveram anos debaixo de subsídios e falsa propaganda de institutos ) usem o facto como uma "validação internacional" da posição dos oportunistas.

Gonçalo disse...

Ou se revê a situação da Grécia ou o haircut arrastará tudo e todos.
Estamos a tratar de dívidas soberanas. O que se fará a uma será considerada saída possível para as outras.
O mais provável é que as agências de rating tirem (ainda mais) consequências de tudo isto.
E que todo o dinheiro fuja desse tipo de aplicações.
http://notaslivres.blogspot.com/2012/01/grecia-e-o-perdao-consequente-da-divida.html