Chama-se desumanidade. Todos nos devíamos interrogar se é isto que queremos. Aqui mesmo ao nosso lado. São pais que em desespero renunciam às suas crianças por não terem dinheiro para lhes dar um prato de sopa e uma cama onde dormirem. Não são os maus tratos e a negligência, agora é a pobreza extrema que impõe a separação de pais e filhos. Só pode ser grande o sofrimento. Para ambos. As crianças que não compreendem porque são abandonadas, que se vêem privadas dos afectos mais importantes da sua existência, do calor do colo dos pais. A tragédia é que estes pais podem ser aqueles que amam verdadeiramente os seus filhos. Não deixa de ser irónico que a mesma sociedade que trata dos filhos dos pais abandonados seja a mesma que não trata dos pais para que estes não abandonem os filhos. Não é apenas uma tragédia grega. Assim vai a Europa dos direitos humanos, da liberdade e da democracia...
7 comentários:
Cara Margarida,
Infelizmente por cá, parece que o grupo de pressão dos políticos já renunciou ao seu povo.
O que se está a passar neste país é inacreditável; e a falta de vergonha é assustadora.
Parece que a economia de mercado, a concorrência, a austeridade, o interesse nacional, as reformas estruturais e outros chavões habituais são para os... outros, ou seja para o... zé!!
E com este desabafo me despeço deste espaço e quem sabe se dentro de uns tempos do país.
Caro Fartinho da Silva
Mas porque se vai embora deste espaço? Gostamos de o receber e de o ler. Não queremos que emigre da Quarta República.
Miséria total. Entretanto, ouço individualidades a justificar o seu "preço" de acordo com o valor do mercado, invocando para o efeito o Cristiano Ronaldo! Estou a falar de quem? De "mister" Catroga. Depois, o senhor ministro Gaspar explicou que estas "coisas" têm a ver com os accionistas e as suas vontades. Pode ser que sim, mas, em termos práticos, deem a volta que quiserem dar, causa desconforto nos demais, é obsceno, um atentado à dignidade dos que trabalham e produzem, embora não tenham por detrás accionistas. Sinceramente, começo a sentir alguns estremeções e se um dia destes acabarmos à batatada não fiquem admirados. Eu não vou ficar.
Poderia contar muitas histórias, como a de um jovem africano amputado das duas pernas (agora tem duas próteses) que vive em frente da minha casa e que ficou desamparado devido à morte dos seus protectores. Agora temos de arranjar forma de providenciar às suas necessidades, alimentos, cuidados, ajuda diversa. Hoje foi "obrigado" a comer, porque a sua dignidade lhe impede pedir auxílio. Quantos andarão por aí nas mesmas condições? Chega. O melhor é calar-me.
Irra, este mundo é mesmo uma grande m. Não presta.
Cara Margarida
Por cá, a dimensão da miséria ainda não é a mesma dos gregos. Mas atinge um nível já muito preocupante. Como sabe, visito muitas Instituições de Solidariedade Social e é frequente ouvir dos respectivos responsáveis que muitas das crianças por eles assistidas só conseguem comer ali a única refeição quente por dia. E esta desumanidade imprópria de um mundo que quisemos construir de novo - melhor, menos desigual e, portanto, mais justo - existe e, infelizmente, tende a aumentar. Apesar de todos os esforços oficiais e da solidariedade manifestada pela sociedade civil. Temos que fazer mais…
Lei das Sesmarias!
Não faço ideia, qual terá sido o motivo maior que motivou aquela mãe grega a abandonar a filha no infantário. Quais as condições que deixou de ter para continuar a criar o seu Bem Maior.
Lembro-me em criança, de ver famílias nas aldeias e no lugar onde nasci, Algés, famílias que de tão pobres que eram, os filhos íam descalços para a escola, muitos deles sem a primeira refeição do dia. Contudo, isso não era motivo suficientemente forte, para que os pais os abandonassem. Não! Eles, os pais, trabalhavam duramente, mendigavam, aceitavam ajudas de outros com um pouco mais de posses, mandavam os filhos bater à porta de quem tinha uma tigela de sopa e um naco de pão que lhes pudesse dispensar, mas a manutenção dos filhos no seio da família, isso era sacramental. Estou crente que em muitas famílias se choraram lágrimas de sangue, que muitos pais não comiam para deixar aos filhos o mínimo de sustento, muitos, a maioria arrisco dizer, estaríam dispostos a morrer pelos filhos, mas abandona-los, nunca! Em algumas situações que conheci, pais houve que face a uma pobreza tão grande, com o coração a sangrar, deixaram que os filhos lhes fossem tirados para ser entregues a instituições que lhes proporcionariam alimento, agasalho e instrução. Outros, que fossem adoptados por famílias com maiores posses.
No entanto, percebemos com facilidade, que os pais, dos dias de hoje, sobretudo aqueles que auferem baixos ordenados e aqueles que se encontram no desemprego, enfrentam dificuldades de dimensão incalculável que lhes permitam proporcionar aos filhos, o conforto mínimo desejável.
Aqui, cabe ao Governo, em minha opinião, encontrar formas de prevenir uma catástrofe social.
Eu compreendo que na prespectiva do governo, haja uma confiança fundada, de que no futuro, iremos recuperar, desta situação de crise que actualmente se vive. Mas, enquanto isso não sucede, muitas famílias correm o risco de colapsar, económica e psicológicamente.
Em 1375, o nosso rei D. Fernando I, promulgou a Lei das Sesmarias. Esta régia decisão, como sabemos, veio na sequência de uma grave crise económica que debilitou fortemente toda a Europa e, pretendia colmatar a grande falta de bens agriculas, obrigando a cultivar as terras e acabando com a indigência.
É importante que o nosso Governo adquira consciência absoluta destas situações e crie programas qapazes de proporcionar alternativas às famílias em situação desesperante. Programas agrículas, acompanhados e em parceria com jóvens acabados de formar em técnicas no âmbito da agropecuária, por exemplo. O Estado é detentor de terrenos e de instalações e de equipamentos que não estão a ser usados e que pode ceder gratuitamente àqueles que se propuzerem explora-los e mantê-los. Seria esta, por exemplo, uma forma de produzir a baixo custo, proporcionando aos mais carenciados, uma forma mais económica de fazer face às necessidades alimentares.
Penso que não seria asneira nenhuma, recuperar algumas produções artezanais, como a cestaria, o mobiliário de madeira, a tecelagem, utilizando o saber ancestral detido por idosos inactivos, arrumados em centros de dia ou a jogar dominó nos bancos do jardim erevitalizar o mercado tradicional das feiras.
Dizia a minha avó, senhora de imenso saber, que: Em tempo de guerra... não se limpam armas!
;)
É uma união muito estranha esta (!), em que os mais ricos não estão dispostos a ceder um pouquinho que seja para se minimizar o sofrimento dos países mais pobres...
Bom ano Drª. Margarida!
"Uma parte dos nossos males provem de haver demasiados homens excessivamente ricos ou desesperadamente pobres"
Tirando as arengas de gente 'responsável' sem efeito, words, words, words, Who cares?
"Memórias de Adriano"
Razão para eu aplaudir alegremente:
Que no BdP não haja cortes de qq mês;
Que Mr Catroga não veja cessar as pensões de reforma por 40+20 anos de trabalho (=60?) neste regresso à produção.
Para isto, não há revolução que valha.
Sorte desta gente fina, já não haver padres nem militares.
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