Tenho um amigo que vive com a mulher num local isolado na margem esquerda do rio Dão. Em boa verdade é uma de três famílias que lá habitam, sendo uma delas o filho e uma nora. Zona paradisíaca, onde guardo a minha gaivota com a qual pretendo fazer algum exercício durante as férias, vasculhando recantos maravilhosos do rio e desfrutando momentos únicos num pretenso silêncio natural em comunhão com as mais diversas aves e animais cujos hábitos acabei por conhecer ao longo do tempo.
Na quinta do Sr. Lopes há de tudo. Mimoseia-me à sua maneira com a simplicidade de homem do campo. Tem várias aves, entretendo-se a capturá-las com as suas criativas armadilhas. Ao redor de uma árvore construiu uma gaiola avantajada e tosca onde vive um melro.
- Oh Sr., Lopes, tem aqui um melro muito interessante! Dá-se bem aqui? - Oh se dá! Sabe há quanto tempo tenho este melro? Há 12 anos. - Coitado do pássaro estar preso há tanto tempo! Não é justo. Nem sabia que duravam tanto tempo. Riu-se e vendo que tinha ficado preocupado com tamanha clausura, apressou-se a dizer: - Mas este melro é especial. - Especial?! - Sim. Quer ver aqui em baixo junto da terra? E mostrou-me uma pequena escavação. - Foi o gajo que fez isto. – O melro? - Sim! Fugiu por aqui. Mas depois voltou, coloquei-o na gaiola e tapei o buraco. - Oh senhor Lopes o melro deve ser parvo! - Mas passado algum tempo fez o mesmo e depois voltou. - O quê? Não acredito! – É verdade! Deixei de tapar o buraco. Volta e não volta vai dar uma curva e depois regressa. - Vai às “melras”, não? - Hum, não me parece, porque já lhe arranjei uma, está a ver ali? E mostrou-me uma ave mais pequena, cinzenta e nada bonita, mas mesmo assim continua a dar as suas escapadelas. - Oh senhor doutor essas coisas também antinge os animais? Disse-lhe que sim, mas nas aves não sabia. - Cá me parecia. O que o gajo quer é dar uns passeios e depois casa. – Mas, Oh senhor Lopes, o animal tem por aí tanta comida, árvores de fruto, insectos e vermes, logo não tinha razão para regressar. - Aí é que o senhor doutor se engana. Procurar comida dá trabalho, muito trabalho, ao passo que aqui a comidinha está sempre à mão. Julga que os melros são parvos? - Oh senhor Lopes, então talvez venha daí aquela frase: “Fulano é um grande melro. Sabe-a toda”! Usar o bico para depenicar a papinha feita é obra de passarão. - Quem sabe, quem sabe?
Ao ler a crónica de um destacado politico, que deve estar de férias, divinamente inspirado pelo canto dos rouxinóis, e que ameaçou “picar” (talvez quisesse dizer “bicar”) em defesa da sua propalada e amada esquerda (até o "moldador" colocou o coração à esquerda!), fez-me recordar o melro do senhor Lopes. Um grande melro que sabe onde está a comidinha...
Na quinta do Sr. Lopes há de tudo. Mimoseia-me à sua maneira com a simplicidade de homem do campo. Tem várias aves, entretendo-se a capturá-las com as suas criativas armadilhas. Ao redor de uma árvore construiu uma gaiola avantajada e tosca onde vive um melro.
- Oh Sr., Lopes, tem aqui um melro muito interessante! Dá-se bem aqui? - Oh se dá! Sabe há quanto tempo tenho este melro? Há 12 anos. - Coitado do pássaro estar preso há tanto tempo! Não é justo. Nem sabia que duravam tanto tempo. Riu-se e vendo que tinha ficado preocupado com tamanha clausura, apressou-se a dizer: - Mas este melro é especial. - Especial?! - Sim. Quer ver aqui em baixo junto da terra? E mostrou-me uma pequena escavação. - Foi o gajo que fez isto. – O melro? - Sim! Fugiu por aqui. Mas depois voltou, coloquei-o na gaiola e tapei o buraco. - Oh senhor Lopes o melro deve ser parvo! - Mas passado algum tempo fez o mesmo e depois voltou. - O quê? Não acredito! – É verdade! Deixei de tapar o buraco. Volta e não volta vai dar uma curva e depois regressa. - Vai às “melras”, não? - Hum, não me parece, porque já lhe arranjei uma, está a ver ali? E mostrou-me uma ave mais pequena, cinzenta e nada bonita, mas mesmo assim continua a dar as suas escapadelas. - Oh senhor doutor essas coisas também antinge os animais? Disse-lhe que sim, mas nas aves não sabia. - Cá me parecia. O que o gajo quer é dar uns passeios e depois casa. – Mas, Oh senhor Lopes, o animal tem por aí tanta comida, árvores de fruto, insectos e vermes, logo não tinha razão para regressar. - Aí é que o senhor doutor se engana. Procurar comida dá trabalho, muito trabalho, ao passo que aqui a comidinha está sempre à mão. Julga que os melros são parvos? - Oh senhor Lopes, então talvez venha daí aquela frase: “Fulano é um grande melro. Sabe-a toda”! Usar o bico para depenicar a papinha feita é obra de passarão. - Quem sabe, quem sabe?
Ao ler a crónica de um destacado politico, que deve estar de férias, divinamente inspirado pelo canto dos rouxinóis, e que ameaçou “picar” (talvez quisesse dizer “bicar”) em defesa da sua propalada e amada esquerda (até o "moldador" colocou o coração à esquerda!), fez-me recordar o melro do senhor Lopes. Um grande melro que sabe onde está a comidinha...
7 comentários:
Consigo imaginar o sossego da natureza, interrompido, aqui e ali, pelos passeios do Professor Massano Cardoso na sua gaivota!
Mas a história do senhor Lopes e do seu melro é deliciosa. O melro do senhor Lopes de parvo é que não tem nada! Casa, comida e roupa lavada custam muito dinheiro e dão muito trabalho. Não admira que o melro não queira outra coisa.
Faz inveja a muitos "melros" que por aí andam... Quem não gostaria de viver, repimpadamente e à “borla", num hotel de cinco estrelas!?
Esse melro é um sabichão, fica com o melhor de dois mundos: comidinha a horas, casa protegida contra ladrões e a possibilidade de dar umas escapadelas quando quiser, porque o dono só lhe pede que ele volte...Donos desses é que são raros!Se calhasse ser uma melra,teria o dono a mesma tolerância bonacheirona?? :)
Os ditados e ditos populares revelam muita sabedoria, sabedoria de milénios, e aqui está a confirmação!...
altura para um up-grade aos ditos populares:
A Beira é um jardim...zoológico!
É mesmo! Há sempre lugar para qualquer animal...
Não há descriminação!
Lá estão as malvadas reticências... ali..., não estão a ver?... Ora, vejam com atenção, a terminar a última linha, isso, isso mesmo, aí tão bem escarrapachadinhas. Essas malvadas são uma tentação. E eu aqui feito melro a fingir que as não vejo, e elas sempre a atentarem-me e a seduzirem-me. Até parece que as estou a ouvir... vamos padre Bartolomeu, embarca nessa passarola, solta-lhe a vela e parte com o melro do Sr.Lopes, é descoberta dos prazeres da liberdade. Hooops... lá vem a famigerada dúvida, ao fim e ao cabo, fiquei sem perceber (começo a suspeitar da capacidade cognitiva deste Bartolomeu... nunca percebe nada...) quem é que está preso? O melro que se pira quando lhe apetece, ou o sô Lopes, que lá no fundinho, deseja que o melro nunca lhe falte?
Ou... querem vocês ver que afinal estão os dois presos um ao outro?
Ai, o que um bom Dão (refiro-me ao rio) pode operar nos humanos e nos animais...
:)))
Belo comentário, caro Bartolomeu!
Enviar um comentário