Dos 96.000 alunos que fizeram o exame de Matemática do 9º ano, três em cada quatro tiveram nota negativa e um em cada quatro não tiveram mais que 1 valor numa escala de 1 a 5!...
Uma professora correctora refere, no Público, “ que os alunos não entendem o que lêem, não conseguem interpretar os enunciados...”.
Há muitos anos que assim é, como eu próprio já referi num texto no quarta república de 7 de Dezembro de 2005, que reproduzo, e o Prof. Massano, noutro contexto, acaba de corroborar. O que me espanta é que o Ministério e sucessivos Ministros da Educação não se tenham dado conta do facto ou, então, pior emenda que o soneto, tenham inventado o famigerado TLEBES para resolver a situação. Aqui vai o texto.
“Fui, já lá vão bastantes anos, professor de Cálculo Financeiro, disciplina que exige uma sólida preparação matemática. Verificando as dificuldades dos alunos, procurei saber as causas. A Matemática, na sua formulação algébrica, é uma linguagem simbólica: traduz-se em transformar a linguagem corrente em símbolos e, depois, operar com eles. A transformação em símbolos algébricos da linguagem corrente, oral ou escrita, por exemplo, na equacionação de um problema, não é possível, se o aluno não compreender essa mesma linguagem, isto é, se não a souber decompor e distinguir nos seus diversos elementos. Sem isso, nunca conseguirá navegar na matemática. Concluí assim que a principal dificuldade dos alunos advinha, pasme-se, de não saberem ou dominarem mal o português!...Por isso, ao propor, oralmente ou por escrito, qualquer exercício, a primeira coisa que passei a exigir aos alunos era aquilo que, no tempo em que aprendi, se chamava divisão das orações. (Agora, se esta prática não for ainda anti-pedagógica, terá, pela certa, nome bem mais complexo!...) Dividida a oração, obrigava os alunos a saberem onde estava o sujeito, o predicado, os complementos, etc, etc. (Julgo que a esses conceitos correspondem agora outras palavras, como sintagma verbal para o predicado, entre muitas igualmente eruditas!...) Chegados a este ponto, mandava traduzir em símbolos matemáticos as diversas orações, ligando os elementos conhecidos com aqueles que se pretendia conhecer, as incógnitas. A colocação de um problema em equação, por exemplo, tornava-se assim razoavelmente simples. Às regras da operativa matemática dava semelhante tratamento. Confesso que os resultados me espantaram!...O problema não estava na Matemática, mas no Português.Por isso, não me causa qualquer espanto que os maus resultados de matemática andem associados aos de português. Sendo inevitável que assim seja, aqui deixo uma leve sugestão: aponte-se para o que é básico e ensine-se bem português, para que os alunos comecem por saber e compreender português, para poderem compreender e saber matemática!..."
Uma professora correctora refere, no Público, “ que os alunos não entendem o que lêem, não conseguem interpretar os enunciados...”.
Há muitos anos que assim é, como eu próprio já referi num texto no quarta república de 7 de Dezembro de 2005, que reproduzo, e o Prof. Massano, noutro contexto, acaba de corroborar. O que me espanta é que o Ministério e sucessivos Ministros da Educação não se tenham dado conta do facto ou, então, pior emenda que o soneto, tenham inventado o famigerado TLEBES para resolver a situação. Aqui vai o texto.
“Fui, já lá vão bastantes anos, professor de Cálculo Financeiro, disciplina que exige uma sólida preparação matemática. Verificando as dificuldades dos alunos, procurei saber as causas. A Matemática, na sua formulação algébrica, é uma linguagem simbólica: traduz-se em transformar a linguagem corrente em símbolos e, depois, operar com eles. A transformação em símbolos algébricos da linguagem corrente, oral ou escrita, por exemplo, na equacionação de um problema, não é possível, se o aluno não compreender essa mesma linguagem, isto é, se não a souber decompor e distinguir nos seus diversos elementos. Sem isso, nunca conseguirá navegar na matemática. Concluí assim que a principal dificuldade dos alunos advinha, pasme-se, de não saberem ou dominarem mal o português!...Por isso, ao propor, oralmente ou por escrito, qualquer exercício, a primeira coisa que passei a exigir aos alunos era aquilo que, no tempo em que aprendi, se chamava divisão das orações. (Agora, se esta prática não for ainda anti-pedagógica, terá, pela certa, nome bem mais complexo!...) Dividida a oração, obrigava os alunos a saberem onde estava o sujeito, o predicado, os complementos, etc, etc. (Julgo que a esses conceitos correspondem agora outras palavras, como sintagma verbal para o predicado, entre muitas igualmente eruditas!...) Chegados a este ponto, mandava traduzir em símbolos matemáticos as diversas orações, ligando os elementos conhecidos com aqueles que se pretendia conhecer, as incógnitas. A colocação de um problema em equação, por exemplo, tornava-se assim razoavelmente simples. Às regras da operativa matemática dava semelhante tratamento. Confesso que os resultados me espantaram!...O problema não estava na Matemática, mas no Português.Por isso, não me causa qualquer espanto que os maus resultados de matemática andem associados aos de português. Sendo inevitável que assim seja, aqui deixo uma leve sugestão: aponte-se para o que é básico e ensine-se bem português, para que os alunos comecem por saber e compreender português, para poderem compreender e saber matemática!..."
4 comentários:
Interessante perspectiva!
Como sabem um plano de Marketing, decompõem uma estratégia em 4 vertentes, os famosos 4P, sendo todos eles de suma importância.
Produto, Preço, Ponto de venda (distribuição) e Promoção.
No caso do ensino, está a falhar um deles a distribuição, a língua é o canal de distribuição do ensino. Pode estar muito bonito, agora se o cliente, não consegue receber o serviço.
Colmatar a falta de código dos alunos, não resolverá tudo, pois ainda sobra os maus professores, o sistema, os maus alunos, ... mas será sem dúvida uma boa ajuda.
Caro e estimado Pinho Cardão Cálculo Financeiro com ou sem português é um grande bife =)
Os alunos não percebem o que lêem, não porque não saibam português, mas porque os semi-analfabetos que lhes ensinam matemática não percebem nada do assunto. Eu explico.
Um professor de matemática de jeito não recorre ao formalismo para resolver problemas, mas ao raciocínio. Posso dizer que o ponto médio de um segmento de recta é a média das coordenadas dos pontos extremos ou posso dizer que é ((x1+x2)/2,(y1+y2)/2). Um grande professor de matemática resolve um problema em português e, só depois, o resolve no formalismo matemático. Um mau professor, ou um que não percebe nada do que faz, recorre ao formalismo desde o início até ao fim. Os alunos não percebem o que lêm porque nunca "leram", nem "escreveram", matemática, só viram e escreveram formalismo, só leram x's e y's sem perceberam o que queriam dizer em português.
Curioso que essa professora de matemática não reconheça o problema. Ou será mais fácil dizer que o problema é português...
Isto é um comentário a reter!
Apoiado cmonteiro.
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