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domingo, 4 de abril de 2010

Contos de encantar - Hans Christian Andersen


Dei por acaso com a notícia de que na origem da consagração do dia Internacional do Livro Infantil, 2 de Abril, está o dia do nascimento de Hans Christian Andersen, o escritor dinamarquês que povou a nossa infância de contos maravilhosos, chamados contos de encantar, tal era a magia que exerciam sobre nós. Digo maravilhosos no sentido da imaginação extraordinária, porque as suas histórias levavam-nos a mundos povoados de seres e enredos que nos tiravam da doce realidade infantil e nos confrontavam de repente com a coragem, com a desgraça, com a maldade, com a bondade ou com o espírito de sacrifício para lutar pelos sonhos ou para alcançar a fortuna. Muitas vezes sentíamos um medo horrível de continuar a ouvir ou a ler, a crueldade, ou a injustiça, faziam-nos arregalar os olhos e espantavam o sono, outras vezes ficávamos a sonhar com a transformação do Patinho Feio num lindo Cisne Branco ou sentíamos nos pés os picos que a Pequena Sereia tinha que suportar por ter renunciado à sua condição de sereia para ir ter com o seu amado príncipe. Uma escolha terrível e muito arriscada, a prova é que ela acabou transformada em espuma do mar. Havia também os Cisnes Selvagens, creio que era nessa história que uma menina tinha que tricotar uma camisola feita com urtigas, mas a minha preferida foi sempre a Princesa e a Ervilha. Um rei poderoso vivia muito preocupado porque o príncipe não encontrava noiva que lhe agradasse. Resolveu dar uma festa no palácio para a qual convidou todas as princesas dos reinos em redor, mas nesse caiu uma tempestade brutal e já ia a festa adiantada quando bateram à porta. Viram então uma jovem suja de lama, ensopada até aos ossos, que se apresentou como princesa de um reino longíquo que tinha sido apanhada no caminho pela tempestade. A sua beleza sobressaía de todas as outras que dançavam no salão mas o seu aspecto miseravel levou a rainha a desconfiar que fosse a princesa de um reino de que ninguém tinha ouvido falar. Para tirar as dúvidas, levou-a para um quarto onde mandou armar uma cama onde se empilhavam dezenas de colchões, quase até ao tecto, e debaixo do primeiro colchão a rainha deixou uma ervilha. Se, como ela dizia, fosse uma princesa, estaria habituada a dormir entre sedas e suaves penugens e certamente daria pela dureza da ervilha, se não desse seria expulsa do palácio. No dia seguinte a menina apareceu muito pálida, queixando-se de nódoas negras no corpo por causa de uma rudeza que sentia debaixo dos colchões. Assim se provou a sua estirpe e, claro, foi ela que casou com o príncipe.
Ainda me lembro das belas ilustrações do livro de histórias de H.C. Andersen que me deram quando era miúda e que muito mais tarde suscitou nas minhas filhas o mesmo fascínio por esse mundo imaginário e afinal tão real, que nos incutia a pressa e o gosto por aprender a ler para podermos reler uma e outra vez as partes favoritas, olhar bem os desenhos, tantas vezes, até o príncipe nos dirigir um sorriso ou a bruxa má deixar de meter medo, vencida pela coragem dos que não desistem de construir um mundo melhor.

6 comentários:

Catarina disse...

Sempre encantadores os contos de H.C. Andersen que continuarão a enlevar gerações.
E sempre disposta a transportar-nos a épocas não assim tão distantes de forma muito agradável esta “nossa” – se me permite - caríssima Suzana!
Sabia que H. C. Andersen escreveu “Uma Pata Portuguesa” ? Pois escreveu e começa assim: “Um dia, uma pata chegou de Portugal, mas houve alguns que disseram que ela veio de Espanha, que é quase a mesma coisa.”
: )

Bartolomeu disse...

;)))))))))))
OH Catarina... essa revelação coloca o Senhor Hans, uns furos abaixo do recepcionista-afro a que a Drª recorreu lá pelas Américas.
É que o outro, o das Américas, ainde se esforçou por encontrar no livro, aquilo que desconhecia, este o Hans, deixou-se "embalar" pelo "ouvi dizer"...
;)))))))))

Catarina disse...

: )
Não é necessário recuar a 1800 e tal. Há bem poucos anos perguntaram-me (nem me recordo onde me encontrava na altura) se em Portugal se falava espanhol. E não foi a primeira vez. As pessoas do oriente, por exemplo, não sabem tanto sobre a Europa como nós em relação aos países daquele lado do planeta! Têm uma vaga ideia de que os portugueses por lá passaram há uns séculos e pouco mais. Uma tristeza! Fomos os “maiores” e vejam só o que nos resta...

Bartolomeu disse...

Sucedeu-me, uns anos atrás num país eropeu, dirigir-me a um estação dos correios para enviar correspondência para cá e a menina que me atendeu para além de não conhecer Lisboa, também não suspeitava da existência do nosso país.
Como nesse dia me achava repleto de paciência e boa-vontade, peguei numa caneta e uma folha de papel e desenhei para a simpática funcionária, o mapa da europa. Em resumo, a mocinha teve de aturar um alfacinha armado em professor de geografia e história que lhe demonstrou existir um país depois de Espanha e antes do Atlântico, com o nome de Portugal, cuja capital tem o nome de Liboa.
E teve muita sorte, porque a minha mulher não parava de me puxar o braço e avisar que já se estava a formar uma fila grande demais atrás de nós.

Catarina disse...

Na Europa? Numa estação dos correios? Inadmissível! Absolutamente inadmissível!

Suzana Toscano disse...

Pois é, no melhor pano cai a nódoa, mas em compensação quem já cá esteve leva muito boa ideia do que viu, nem imaginam os elogios que ouvi aos americanos que já cá vieram, pena é que a maioria se fique por Lisboa e Algarve. A Rebecca, a anfitriã que nos ofereceu um belo jantar, esteve cá 15 dias e passeou por Braga, Aveiro, Óbidos, Lisboa, cascais e Sintra e dá gosto ouvi-la falar do nosso País.