É uma espécie de jogo da estátua, de repente alguém dá sinal e tudo fica parado na exacta posição em que estivesse quando soou o apito. Interrompe-se a inércia que ia levar ao movimento seguinte, ao que se seguiria naturalmente para recuperar o equilíbrio e continuar a acção até se chegar ao destino e fica-se assim parado, um pé no ar, o braço avançado, o pescoço torcido em posições tão incómodas e arriscadas quanto a liberdade dos gestos que se ousou durante jogo.
A nuvem que tolda a Europa bloqueou os movimentos incessantes, a gigantesca inércia das deslocações, dos transportes, da rapidez e da pressa das agendas. De repente, tudo se suspende, amontoa e bloqueia, como por magia, uma nuvem, imagine-se, ainda por cima vinda dos fundos do mar, parece ficção científica, se houvesse um filme com este tema diríamos que já não se sabe o que mais inventar para atrair multidões. É bem certo que a realidade muitas vezes ultrapassa a ficção.
Já estávamos convencidos de que era possível dominar tudo, controlar tudo, prever quase tudo, e é um espectáculo impressionante ver como não há transição, não há tempo de adaptação, tudo acontece tão depressa que as distâncias que a modernidade já tinha vencido de repente lembram-nos a sua real dimensão.
Não houve mortos nem feridos, felizmente, quase passa despercebida a tragédia do terramoto algures na China, onde o socorro tarda em chegar, aqui é só fuligem e passageira, mas para quem está habituado a viver na organização e na segurança este caos é intolerável. As pessoas estão zangadas e impacientes e reparam assustadas que as respostas tardam e que “não há responsáveis” a quem exigir protecção ou dirigir o pedido de indemnização. Bem vistas as coisas, é apenas uma gigantesca contrariedade, muitas das coisas inadiáveis são adiadas, muitas urgências podiam afinal esperar uns dias, outras passam sem nós, os prejuízos materiais de uns são a galinha dos ovos de oiro para outros. O nosso mundo evoluído e confiante é afinal tão frágil, mas uma nuvem que deixa os aviões em terra é talvez a mais suave das maneiras de nos lembrar o grau de conforto e de liberdade de movimentos com que nos habituámos a viver e de que usufruímos com a naturalidade de uma rotina garantida. De vez em quando, lá vem a natureza lembrar que “o céu nos pode cair na cabeça”…
A nuvem que tolda a Europa bloqueou os movimentos incessantes, a gigantesca inércia das deslocações, dos transportes, da rapidez e da pressa das agendas. De repente, tudo se suspende, amontoa e bloqueia, como por magia, uma nuvem, imagine-se, ainda por cima vinda dos fundos do mar, parece ficção científica, se houvesse um filme com este tema diríamos que já não se sabe o que mais inventar para atrair multidões. É bem certo que a realidade muitas vezes ultrapassa a ficção.
Já estávamos convencidos de que era possível dominar tudo, controlar tudo, prever quase tudo, e é um espectáculo impressionante ver como não há transição, não há tempo de adaptação, tudo acontece tão depressa que as distâncias que a modernidade já tinha vencido de repente lembram-nos a sua real dimensão.
Não houve mortos nem feridos, felizmente, quase passa despercebida a tragédia do terramoto algures na China, onde o socorro tarda em chegar, aqui é só fuligem e passageira, mas para quem está habituado a viver na organização e na segurança este caos é intolerável. As pessoas estão zangadas e impacientes e reparam assustadas que as respostas tardam e que “não há responsáveis” a quem exigir protecção ou dirigir o pedido de indemnização. Bem vistas as coisas, é apenas uma gigantesca contrariedade, muitas das coisas inadiáveis são adiadas, muitas urgências podiam afinal esperar uns dias, outras passam sem nós, os prejuízos materiais de uns são a galinha dos ovos de oiro para outros. O nosso mundo evoluído e confiante é afinal tão frágil, mas uma nuvem que deixa os aviões em terra é talvez a mais suave das maneiras de nos lembrar o grau de conforto e de liberdade de movimentos com que nos habituámos a viver e de que usufruímos com a naturalidade de uma rotina garantida. De vez em quando, lá vem a natureza lembrar que “o céu nos pode cair na cabeça”…
3 comentários:
Pois é!...
Mas a prolongar-se pode muito bem vir a constituir um argumento de peso para os "têgêvistas"!
:)
Cara Suzana,
Enquanto lia o primeiro parágrafo deste texto, recordei-me de uma simples (mas poética) frase num livro que estou a ler (de Mia Couto): “Zero (nome de um dos protagonistas) tropeçou no passo que não deu.”
Este acontecimento faz-nos pensar (mais uma vez) quão “pequeninos” somos e como estamos à mercê da Natureza. Nunca na história da humanidade houve uma evolução tecnológica tão rápida (ao ponto de se fecharmos os olhos por segundos ou se nos distrairmos iremos perder o ritmo da caminhada), mas haverá sempre a Mãe Natureza que, esporádicamente, nos fará recordar quem realmente somos e até que ponto Ela nos deixará correr no nosso próprio devaneio e arrogância. É caso para pensar (tal como Mia Couto escreve no mesmo livro): quantas vezes não nos fazemos “maior que o nosso tamanho.”!
É verdade, Suzana, a realidade superou a própria ficção! E o pior é que de tão seguros que andamos das nossas conquistas tecnológicas e da nossa capacidade de tudo controlar e resolver que nos esquecemos de traçar "planos de contingência".
Estamos zangados porque estamos impotentes para resolver uma questão tão aparentemente simples que é a deslocação de pessoas e bens de um lado para o outro à volta do mundo.
Este drama da "civilização ocidental" coloca outras questões não menos importantes nos campos da defesa e da segurança.
Os prejuízos acumulados das companhias de aviação europeias ascendem já a mil milhões de euros. Um caso muito sério!
Enviar um comentário