1. Como deixei anotado em textos recentes neste Blog, a hipótese de recurso a um Orçamento Rectificativo podia colocar-se antes mesmo da erupção do actual período de turbulência financeira que muitos comentadores, por ingenuidade natural ou por conveniência, teimam em classificar como resultado de um ataque especulativo, insidioso, prenhe de malvadez, perpetrado pelos "hordas" dos mercados...
2. Nesse anterior quadro, a necessidade de um O. Rectificativo decorria da manifesta insuficiência dos dados já divulgados quanto à execução orçamental nos primeiros meses do ano, deixando antever a necessidade de alterar os pressupostos do OE aprovado há apenas ½ dúzia de dias.
3. Neste momento e num quadro de aflição aguda - com os especuladores à porta tentando destruir as nossas já tão fragilizadas defesas financeiras - que até determinou a realização de uma reunião inédita entre o principal responsável do Governo e do maior Partido da oposição para discutir medidas a tomar, tudo parece indicar que a apresentação do um Orçamento Rectificativo poderá ter ganho novos contornos...
4. Co efeito, antecipar medidas do PEC, como foi mencionado pelos dois responsáveis políticos hoje reunidos, significa na prática aplica-las já em 2010, em vez de aguardar para 2011 ou 2012, o que terá obviamente implicações orçamentais significativas...
5. Nomeadamente importará mostrar ao Mundo, para ver se os “especuladores” nos largam a porta de vez(?), que estamos prontos para reduzir o défice mais do que estava previsto no OE/2010 (ainda bebé mas já tão gasto...) e que para esse efeito se prepara um novo Orçamento mais ambicioso – que é para cumprir...
6. Assim, pois, o Governo tem a possibilidade de apresentar um O. Rectificativo integrado numa estratégia de verdadeira “salvação nacional” sem a carga negativa que teria se fosse apresentado num contexto de simples remendo, em que não existisse a “colaboração” dos "especuladores" do mercado...
7. ...E pode aproveita-lo para introduzir alterações que mais tarde ou mais cedo teria de reconhecer face à insuficiente execução orçamental caso esta se prolongue como não é de excluir...
8. Será que vamos ter proposta de O. Rectificativo antes mesmo das férias parlamentares? Não me surpreenderia; e então os “especuladores” não serão, a final, tão inimigos assim...
9 comentários:
Caro Tavares Moreira, os so-called especuladores nunca são inimigos embora no momento em que os seus ataques são sentidos sejam percebidos pelo público em geral dessa forma. No entanto, quantas e quantas debilidades financeiras foram postas a nú e corrigidas pelos tão mal amados especuladores? Para não ir longe, o mais famoso ataque especulativo de sempre, de Soros contra a libra. Sem ele, até onde teria continuado a regredir a economia britânica com taxas de juro artificialmente altas? E por causa dele, o que os ingleses ganharam em robustez e competitividade da sua economia...
Mas enfim, os especuladores são maus, as agências de rating uns marotos e por aí fora. Pelos vistos bons são apenas aqueles que fazem as asneiras das quais os primeiros aproveitam e as segundas simplesmente denunciam.
Que fazer, caro Amigo? É a vida, é o que há, paciência.
O andamento do mercado accionista, devia pôr-nos a pensar?
Como é possível, no mesmo dia, uma oscilação tal.
Não nos devíamos preocupar com esse estranho veículo que dá pelo nome de short-selling?
A mim o que mais me deixa atónito é ainda ninguém ter posto suficientemente o dedo no facto de que o orçamento esdrúxulo e eleitoralista do ano passado é decerto o principal responsável, a curto prazo, da nossa actual situação, além de se poder afirmar que de certa maneira comprou a continuação minoritária do actual desgoverno.
Evidentemente que a coisa tem apenas que ver com o nosso regime político de partidocracia corporativa, se visto em conjuntura, e que só realmente uma IV República, com um estadista e um financeiro à Salazar, desta vez democrático, espera-se, nos pode agora voltar a salvar da corruptocracia reinante que se instalou entre nós desde que falhou a implantação do tão "progressista" comunismo pró-soviético em 1975.
Lapidar o seu comentário, caro Zuricher, os ditos "especuladores" acabam por nos prestar um real serviço - a si, a mim e a todos aqueles que como nós têm sido pessimamente governados.
É claro que para os beneficiários do regime instalado, que se estão virtualmente "nas tintas" em relação aos que pagam impostos, a situação não é auspiciosa...
E protestam, por si ou por comentador mandatado, contra os "especuladores" que ameaçam a subsistência das fartas benesses...
Caros maioria e Paulo,
Bem interessante a questão que levantam...terá havido algum movimento patriótico de compras, com dinheiro alheio?
Teria sido para salvar as mais-valias e salvar alguma matéria colectável para ver se até final do ano conseguem arrecadar mais algum euro em sede desse reforçado imposto?
Quais ataques especulativos!!
Isso é a carapuça que a classe política quer enviar ao povo português.
Os "especuladores" estão para sócrates como os Jesuítas estavam para Afonso Costa.
A divida total (Pública + Privada) de Portugal é de 217% do PIB. A Divida total da Grécia é 167% do PIB.
Falem menos e trabalhem mais!
Caro P.R.
Certamente que o Orçamento de 2009, com todos os seus artifícios concorreu bastante para a actual insustentabilidade...
Pode crer que isso já foi dito, por mais que uma vez, incluindo neste Blog, mas oa media tinham o seu papel a cumprir, abafaram todas essas chamadas de atenção...
Caro Luís Bonifácio,
Muito bem, com números é que a gente se entende...
Talvez por isso é que todos os políticos profissionais e comentadores do regime que têm protestado oficiosamente contra a equiparação de Portugal à Grécia evitam cautelosamente falar nesses números...
Caro Tavares Moreira,
Continuo a achar que é de repensar medidas como a venda dos CTT e a participação da E.D.P. . São grandes empregadores que não geram despesa para o Estado. Deveriam aproveitar, isso sim, para privatizar as empresas como resultados negativos crónicos!
Quanto ao O.Rectificativo penso que este seria importante para mostrar aos mercados a vontade de Portugal entrar nos eixos. Sem dúvida que a redução da despesa é vital, ainda para mais neste momento, mas é importante uma economia que cresça para manter este Estado Social.
Caro André,
No tocante à contribuição das privatizações para redução da dívida, parece-me que terá de ser usada muita cautela uma vez que as possíveis receitas serão, no contexto actual, extremamente contingentes...
Quem estará interessado em comprar estes activos e a que preço, num contexto de tamanha incerteza - é uma questão que legitimamente se poderá colocar.
Quanto à ideia da escolha das empresas deficitárias, parece-me um tema de magna dificuldade...
A questão a colocar aqui será, ao invés do que é habitual neste tema, a de saber quanto é que os potenciais adquirentes quererão receber para aceitarem assumir o risco económico inerente à propriedade destas empresas...
O que significa que o Estado, para se ver livre deste "stuff", terá que desembolsar quantias não despiciendas - ou, para ser mais preciso, assumir dívidas de montantes não despiciendos...
O que significa, adicionalmente, que a privatização de tais empresas terá como consequência não uma redução mas um aumento - e que aumento...- na dívida pública!
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