Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O institucionalização do absurdo

Recusei-me, num primeiro momento, a acreditar. Até que me convenci que a notícia corresponde à verdade. A Direcção Nacional da PSP estabeleceu como objectivos de cumprimento obrigatório para os agentes policiais, pasme-se, um determinado número de multas, detenções, viaturas a bloquear e a rebocar, operações stop, entre outras actividades. Em tempos surgiu a notícia de que a mesma lógica tinha sido adoptada pela ASAE...
Como se sabe, a "revolução" ensaiada na Administração Pública pelo anterior governo faz depender a evolução nas carreiras e a retribuição, do cumprimento dos objectivos de que depende a avaliação. Está-se mesmo a ver o que vai acontecer com a PSP. Em vez de estimulados para a prevenção, os agentes são empurrados para a multa, para a detenção. Pensei que vivia num País em que as autoridades eram formadas no respeito pelos direitos dos cidadãos. Afinal o Estado pretende que os agentes de autoridade se valorizem reprimindo, de acordo com o limite fixado pela sua Direcção Nacional.
Nem quero pensar nos objectivos que são fixados para os sapadores bombeiros!
E muito menos nos que são fixados aos coveiros pelas Câmaras Municipais!
Nem o maior absurdo mobiliza a sociedade?

7 comentários:

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Tecnocratas mal formados é o que dá!...
Li aqui há tempos que o Ministério Público tem objectivos de número de acusações.
Por isso, não admira que uma grande maioria das acusações formuladas venham a ser postas em causa e os respectivos sujeitos absolvidos pelos Tribunais.

Anónimo disse...

É absolutamente inacreditável Pinho Cardão! Como é que se tornou possível toda esta estupidez, este absurdo, sem que haja uma mobilização para por lhe termo!
Ao que chegámos...

Isa Maria disse...

sempre disse que as polícias não podem ter o mesmo sistema de avaliação que o restante pessoal da função pública. Não se pode avaliar um polícia tendo em conta um sem número de coisas, em que os objectivos são números gordos...
O patinhas só vê cifrões. Os polícos de hoje, números!!!
Aonde tudo isto nos leva????

Suzana Toscano disse...

Tem toda a razão, Zé Mário, também ouvi a notícia e até pensei que estava a ouvir mal!O que é incrível é que as chefias que marcam estes objectivos reflectem uma defeituosa interpretação da missão das instituições e depois admiram-se que as populações também vejam as instituições de uma forma profundamente errada. Não se trata de haver diferentes sistemas de avaliação, cara Maria, trata-se de interpretar correctamente o que é que se considera acrescentar valor, trabalhar de acordo com a missão, em vez de inventar critérios que, por serem fáceis de medir, finjam que se está a produzir muito. Ora, se todos os cidadãos forem muito cumpridores porque a função preventiva e de educação cívica funcionar, ou porque o trânsito é bem regulado ou porque a sinalização está bem colocada, por exemplo, isso quer dizer que a PSP não trabalha bem porque encontrou poucas infracções? Claro que não, pelo contrário, significa que está a funcionar mesmo muito bem.O objectivo das forças policiais é prevenir as infracções e criar todas as condições para que os condutores possam conduzir bem, as multas serão apenas a consequência das faltas, não a manifestação de uma boa acção profissional de uma instituição. É difícl definir isto? Claro que é, por isso é que a avaliação por objectivos é considerada um factor de melhoria, precisamente porque obriga a reflectir no que é mesmo importante e a seguir obriga a que toda a instiuição se oriente para cumprir esses mesmos objectivos. Se for tudo mal feito, só piora e só cria injustiças e absurdos.Mas o problema não está no sistema de avaliação mas sim em quem o trabalhou...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
O sistema anunciado é perverso e por isso mesmo inadmissível. Incentiva a polícia a não exercer a função preventiva mas antes a estimular a infracção. Passa a ser o nível do incumprimento a medida da avaliação do desempenho. Sem incumprimento não há multas, sem multas os objectivos não são cumpridos e com mau desempenho não há prémios e não há promoções. Está tudo ao contrário!

Tiago Barbosa disse...

A filosofia da Polícia de impor através da multa é um pouco o reflexo da cultura Portuguesa, veja-se o caso da lei anti-tabaco e da rapidez com que foi implementada, assim que foram conhecidas as coimas a aplicar. Mas basta um exemplo: A Polícia continua a não utilizar cintos de segurança! Isto é básico! além de extremamente perigoso, principalmente com os actuais airbags (SRS - sistema de retenção suplementar - indica mesmo que só funcionam em conjunto com os cintos) é muito pouco educativo, passando a mensagem "usem os cintos senão são multados, mas na realidade não servem para nada"... Em primeiro lugar a Polícia deve educar pelo exemplo!

Adriano Volframista disse...

Caro JMFAlmeida

Tem toda a razão, mas o que é que se pode esperar de uma direcção que não tem qualquer pejo de entregar armas a polícias e, depois, proporcionar-lhes nenhum ou quase nenhum treino com as mesmas.
Seria para rir se não fosse o efeito preverso que estes "incentivos" provocam: aumenta a multa em locais não problemáticos e aumenta a criminalidade em locais problemáticos.....
Como há muito tempo venho perorando contra os prémios individuais na função pública, o que relata não é mais do que a solução fácil que encontraram para que os funcionários sejam promovidos ou recompensados.
Cumprimentos
joão