Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 6 de abril de 2010

Pangalos, amigo, o Povo está contigo!

1. O Vice Primeiro-Ministro do governo grego, Theodoros Pangalos afirmou ontem que “Portugal será provavelmente a próxima vítima da crise económica, se não encontrar uma saída para a subida dos custos da sua dívida pública...”.
2. Esta afirmação de Panagalos pode ser analisada de vários ângulos, um dos quais se resume no velho provérbio “Quem te avisa teu amigo é...”.
3. O “aviso” de Pangalos seria assim ser acolhido como um gesto de amizade, merecendo os melhores agradecimentos por parte dos responsáveis políticos portugueses.
4. Mas não foi isso que aconteceu, como se sabe, o “aviso” foi recebido com imensa frieza, não merecendo qualquer comentário oficial - preferiram ignorar, para minorar o impacto da declaração.
5. Percebe-se esta reacção fria, de serena ignorância do “aviso”, quando a posição oficial em Portugal tem sido – por parte das mais variadas instâncias, com excepção da ex-lider do PSD – de negar qualquer comparação entre a situação da Grécia e de Portugal em especial no tocante ao problema do financiamento da dívida pública...
6. E, como parece evidente, a declaração ou “aviso” de Pangalos, ainda que de forma indirecta, estabelece um paralelo entre as situações financeiras dos dois Países - doutro modo que sentido faria dizer Portugal que se prepare, pois pode muito bem ser a próxima “vítima” dos especuladores financeiros?
7. A mensagem de Pangalos contém ainda o habitual elemento de ataque aos especuladores pelas altas margens atingidas pela dívida pública grega nos mercados.
8. Esta “teoria da vitimização” do devedor/emitente tem de resto sido uma tónica dominante do discurso oficial grego, esqucendo que a responsabilidade pelo crescimento exponencial das necessidades de financiamento da Grécia não se deve aos tais especuladores mas à indisciplina financeira que tem vigorado no País...sem a qual não existiria qualquer especulação.
9. Tenho a percepção de que o “aviso” de Pangalos, excepção feita à “teoria da vitimização” deveria merecer a maior atenção por parte dos responsáveis políticos portugueses...
10. Os responsáveis políticos portugueses terão consciência de que não é pelo facto de negarem, “urbi et orbe”, que as situações dos dois países são diferentes que se convence ou se acalma os mercados?...
11. E de que a única metodologia verdadeiramente eficaz de convencer os mercados é conseguir reduzir, significativamente, o ritmo de crescimento da dívida pública?
12. Não parecendo que nesse plano os resultados – por ora – sejam brilhantes, bem pelo contrário?..
12. Assim sendo e até porque estamos em Abril, a resposta mais inspirada ao “aviso” de Pangalos poderia bem ter sido: “Pangalos, amigo, o Povo está contigo”!

14 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

O grito desesperado e a avaliação feita por Augusto Morais, Vice da Confederação Europeia das PME e responsável pela associação das PME, devia ser ouvido pelos órgãos do Estado, Presidência da República incluída.
A imagem degradante de um Estado gigantesco, replicado de amiguismo e eivado de corruptos, para lá do admissível e castrador da sua própria sustentabilidade, faz-nos pensar, como Augusto Morais, que caminhamos para a catástrofe empresarial e por via disso para a catástrofe dos órgãos do Estado.
Um Estado que não percebe que já passou há muito o puxar de corda sobre as empresas, é um Estado que não percebe que por via da insustentabilidade de quem o mantém, caminha rapidamente para a catástrofe. Quando desaparecerem mais uns milhares de empresas aonde é que o Estado balofo vai buscar os impostos?
Mas não é apenas o Estado um dos grandes responsáveis deste estado de coisas. As Confederações patronais tomadas pelos interesses das grandes empresas com delapidação e canalização dos fundos atribuídos pelos organismos comunitários, numa simbiose perfeita com o poder político, é também ela uma parte deste polvo que tem empobrecido Portugal.

José Maria Brandão de Brito disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Não podia estar mais de acordo consigo. Será que ninguém explica aos nossos governantes que a atitude de negação aguça o "instinto predador" dos mercados, tal como os cães farejam o medo?

Dito isto, parece-me pouco elegante do ministro grego utilizar a fragilidade orçamental portuguesa como instrumento de chantagem para com os países "ricos" da UE.

Subjacente ao comentário do Sr. Pangalos está uma realidade perturbante para o sistema financeira do "centro" da área do euro: a grande exposição dos bancos alemães e franceses a dívida titulada (pública e privada) da Grécia e de Portugal - documentada pelas estatísticas do BIS.

A ameaça velada do Sr. Pangalos consiste em avisar que uma situação de ruptura na Grécia provavelmente levaria a fenómeno idêntico em Portugal, o que se traduziria em perdas incomportáveis para o sistema financeiro europeu.

Parece que a ilusão do euro não deslumbrou só os países da "periferia"...

Tonibler disse...

A defesa dos gregos, juntando mais "desgraça" ao bolo, é compreensível. Aquilo que não concordo é que fosse compreensível que os portugueses se assumissem como parte da "desgraça", por muito desgraçados que estejamos.

Continuo a achar que ninguém sabe o fim desta história, nem ninguém pode prever o comportamento dos mercados pela simples razão que nunca passaram por semelhante situação - nunca houve um país meio-ilíquido. Portanto, acho que devemos fazer aquilo que podemos fazer (não acho que estejamos a fazer porque o Teixeira ainda tem emprego...), mas não nos devemos assumir como gregos. Se os mercados não sabem o que fazer, não vamos ser nós a dizer-lhes antes deles perceberem pelo caso grego.

Se fosse grego, ameaçava com o fim dos tratados agrícolas e piscatórios para poder face ao problema económico. Cheira-me que nessa altura choviam soluções...

Anónimo disse...

Caro Tonibler, já faltou mais para o que preconiza na primeira frase do seu último parágrafo suceder. O que já não estou tão certo é que leve à ocorrencia do que preconiza na sua segunda frase...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bartolomeu disse...

Caríssimo Dr. Tavares Moreira, faz hoje precisamente uma semana, postou V. Exª sobre o tema da crise económica Grega e a semelhança da situação Portuguesa.
Comentei que via como possível salvação os princípios noéticos. Respondeu-me V. Exª: Caro Bartolomeu, A noética? Como assim?
Tencinei não voltar a tocar no assunto, porque achei a sua interrogação, indefinida. Mas, como sou (muito) teimoso, volto ora, a comentar.
Para a situação económica de Portugal, Grécia e restantes países do mundo conhecer o equilíbrio e a humanidade voltar a sentir a segurança dos seus postos de trabalho e a economia encontrar a sua sustentabilidade, não existe outro caminho que não seja o da aplicação dos conhecimentos e experiências da noética.
A noética é uma ciência conhecida na generalidade, como propícia a sustentar métudos de cura, através da aplicação do poder da mente.
Mas não é só no campo físico que esta ciência tem aplicação. Sabe-se que através do poder concentrado da mente é possível fazer com que certos e variadíssimos fenómenos aconteçam. E, um fenómeno, só detem essa designação enquanto não se consegue explicar aquilo que lhe deu origem.
Mas a noética, os seus princípios e os seus efeitos são ilimitados, quão ilimitado é o pode da mente humana, sobretudo se focalizada e congregada. Não foi por acaso que Jesus convidou aqueles que o seguiam a congregar-se em oração, assim como não é por acaso que todas as religiões monoteístas, convidam os seus fieis ao mesmo.
É fácil de entender que se uma multidão focar a sua mente, o seu pensamento num só assunto, num só querer, será gerada uma vontade única.
E a noética, caro Dr. Tavares Moreira, funciona sob a égide do mesmo princípio, congregar, focalizar e criar algo de novo, tendo como matérias-primas, o antigo e o actual, ou seja, o passado e o presente.
E este o bjectivo que se pretende atingir, só depende da vontade de congregação e de focalização, que, se forem fortes, resultarão num modelo novo de ecónomia sustentável e por conseguinte numa nova ordem social, onde muitos dos males que afligem a actual sociedade poderão deixar de existir.

Tavares Moreira disse...

Caro maioriasilenciosa,

Palavras duras, contundentes, as suas, mas com um forte sentido de justiça certamente!

Caro Dr.Brandão de Brito,

O problema que bem aflora, da grande exposição de bancos alemães e franceses às dívidas grega e portuguesa deve constituir uma das razões pelas quais nas últimas colocações de dívida a Grécia tem sentido um reduzido apetite do mercado...
E agora se está voltando para o mercado americano, procurando cativar investidores interessados em dívida de mercados emergentes - a zona Euro integra tb,sem o sabermos atá agora, economias emergentes...

Caro Tonibler,

Mas quem é que sugeriu que nos assumíssemos como gregos?
Não é certamente esse o sentido deste Post, permita-me a legítima defesa...
Aliás o facto de nos pretendermos apresentar como não gregos ou como gregos, em minha opinião pouca diferença fará, meu Caro.
Infinitamente mais importante é o que fazemos ou não fazemos para convencer o outro lado da barricada (os especuladores segundo Pangalos) de que não estamos, seguramente, trilhando o "sendero luminoso" dos Helénicos!

Caro Paulo,

Vamos ver no que dá a intervenção do FMI...também estou curioso, confesso-lhe.

Caro Bartolomeu,

Creia que lhe estou grato, muito sinceramente grato, por esta interessantíssima exegese em torno das virtualidades da noética...
Estou consigo: só mesmo a noética nos pode ajudar a sair do poço, num impulso colectivo pleno de energia regeneradora!
Quem dá o primeiro passo - o meu Amigo? Algum grupo de noéticos?

Simon disse...

http://pesdexumbo.blogspot.com/
Estamos de volta!Queria pedir a tua colaboração, linkando e ajudar este blogue a reerguer-se! Obrigado!

Freire de Andrade disse...

Portugal, Grécia e os especuladores

Tem-se discutido muito a responsabilidade dos especuladores financeiros na crise que, com início nos EUA, ainda mostra duramente os seus efeitos e, mais recente e especificamente, na crise grega e na dos outros países do Sul da zona euro. Agora diz-se que os especuladores “atacaram” a Grécia, põe-se a hipótese de o verdadeiro alvo dos ataques dos ditos especuladores ser não a Grécia mas sim o euro, teme-se que logo que os gregos consigam com o seu plano de austeridade amansar os ataques, os referidos especuladores se poderão voltar para o segundo elo mais fraco, ou seja Portugal.

Pouco percebo de economia e nada de finanças internacionais. Confesso que não sei o que são os “ataques dos especuladores” nem o que eles fazem de concreto. Agora compreendo que qualquer pessoa que tenha dinheiro para emprestar deseje receber o máximo rendimento e evitar ao máximo o risco, o que por vezes exige um equilíbrio difícil. Também compreendo que o mecanismo da oferta e da procura (uma das poucas coisas que sei de economia e que me foi ensinado há muitos anos pelo Prof. Pinto Barbosa na cadeira de Economia no IST) leva naturalmente a que seja mais difícil vender dívida de retorno duvidoso e que os financiadores exijam uma taxa maior. Será isto especulação? Também compreendo que na dúvida de um retorno dos seus investimentos, os investidores tentem vender os títulos que os suportam. Será isto especulação? A mim só me parece bom senso.

Bartolomeu disse...

O meu "papel" caríssimo Dr. Tavares Moreira, resume-se a exaltar, apoiar aqueles que como oSr. detêm o conhecimento, o saber técnico, a experiência do fazer e, enfileirar no seu "exército".
Se é da Presidência do Banco de Portugal que surgem as directrizes, os conselhos, as opiniões fundamentadas que influênciam o caminho da nossa economia... então, seja V. Exª. Conduzido a esse lugar, acompanhado de uma equipe visionária, imbuída do espírito da neótica... é aquilo que eu tenho para propôr como primeiro passo a ser dado.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Relativamente ao seu post as seguintes adendas:

a) Seria boa altura do Governo da Republica Portuguesa preparar a população para um "solavanco" do euro; arrisco a afrimar que o prazo para essa ocorrência situa-se entre Maio de 2010 e o final do próximo ano.
b) Era essencial explicar, ou preparar os portugueses para o facto do euro ser apenas uma união cambial e nada mais. Com isso poupava-se muitos dissabores e ainda mais desilusões.
c) A solidariedade europeia com os gregos está dependente da carteira dos alemães e holandeses.
Uns preocupam-se em clamar pela falta de solidariedade alemã (omitindo, convenientemente o despudor holandês) e, outros, contratam agências para se diferenciarem dos novos "leprosos" europeus.
d) O herói da tragédia devia o seu heroísmo ao facto de conhecer o seu destino e nada poder fazer em contra.
Nessa época não existiam as câmaras digitais. Hoje, com as novas tecnologias podemos alterar a realidade, basta querermos. O psicodrama grego antecipa o nosso, caso não desejemos alterar as circunstâncias.

Está na hora de terminar com esta era da irresponsabilização colectiva, onde os benefícios são privados e os danos sociabilizados

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro Freire de Andrade,

O seu comentário está carregado de bom-senso.
Na versão Pangalos, especuladores são, em última análise, aqueles que "aproveitam" as fragilidades do devedor Grécia para exigir taxas de juro mais altas como contrapartida da compra de dívida por ele emitida...
As fragilidades, essas, devem os gregos agradece-las apenas a si próprios...

Caro Bartolomeu,

Agradeço sua luminosa ideia, mas tenho de confessar, humildemente, que me encontro ainda a balbuciar as primeiras noções de noética.
E, sem prejuízo de reconhecer que graças à qualidade do meu Mestre é minha obrigação aprender depressa essa nobre arte, seria uma temeridade confiar-me uma tarefa que tem por pressuposto um conhecimento aprofundado dessa matéria...
Meu Amigo terá pois de se lembrar doutro protagonista, que este está muito verde!

Caro João,

Suas adendas são sempre bem-vindas e, neste caso, especialmente oportunas.
Sem embargo, deixe-me observar que o período de tempo mencinado na sua alínea (a) se afigura algo apertado...sugeriria estende-lo até 2015, para sermos mais realistas, não concorda?

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Estou de acordo consigo.
O motivo de arriscar a previsão é o seguinte:
Como sabe melhor, o mercado está muito nervoso e, sobretudo, muito desconfiado ou pouco confiante.
Tenho lido cada vez mais comentários que salientam a similitude da situação grega com a crise argentina de 2001.
O conhecimento sobre a história recente a os programas de computadores usados, podem accionar os mecanismos de defesa já preparados pelos actores no mercado.
Nesse sentido, os acontecimentos podem, mais do que precipitarem-se, acelararem-se.....

Note que o tom geral dos comentaristas, mesmos os mais eurófilos, já interiorizou (em linguagem financeira, já está a descontar) o fim de um "certo" euro e de uma "certa" solidariedade. Se, por um qualquer motivo (que a história se encarregará de demonstrar que não era, por si só relevante), os actores considerarem que a Grécia vai sair ou incumprir os pagamentos, desencadeia-se o "estouro da boiada"....

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

O que está hoje a passar-se nos mercados está a fazer pender a balança das razões para o seu lado, caro João.
Se quiser ter a amabilidade de ler o Post que acabeii de editar, verificará que a perplexidade dos mercados está a atingir um ponto em que o famoso Acordo entre os países europeus para ajudar os "desgraçadinhos" do Euro parece não merecer qualquer crédito...