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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Stayin' Alive"

Não tenho hábito de andar a ler bisbilhotices, histórias mundanas, vidas de artistas ou de outras figuras ditas públicas, mas, atendendo à prolixidade com que são produzidas, é difícil não tropeçar nas ditas. Até nas áreas cientifica e ética são por vezes objeto de atenção para debater assuntos muito importantes. Foi o que me aconteceu com a notícia de Robin Gibs que sofre de um cancro do fígado. O membro da banda Bee Gees adoeceu gravemente e foi sujeito a terapêutica adequada, quimioterapia, porque provavelmente estaria numa fase complicada que impediu outras técnicas, nomeadamente cirurgia e transplantação. Agora, face à situação que parece ser complicada, sujeitou-se a "naturapatia oncológica", através de uma boa nutrição e sessões de desintoxicação de forma a eliminar as toxinas e a permitir que organismo se cure a si próprio.
É óbvio que o desespero pode levar qualquer um a socorrer de práticas ultra duvidosas e nada condicentes com as evidências cientificas, pelo que a escolha de Gibs e da sua mulher, que parece que é uma sacerdotisa druida, não deverá ser criticada, o que não impede que se possa fazer algumas considerações sobre certas pessoas que se auto intitulam como praticantes de medicinas alternativas e que se alimentam como sanguessugas, como vampiros do desespero humano, levando-lhes o coiro e o cabelo o mais rapidamente possível enquanto a morte anunciada não faça a sua entrada fulminante.
O desplante e a falta de pudor levam mesmo os praticantes a afirmar, em caso de insucesso, que não puderam fazer grande coisa porque os "químicos" destruíram as defesas do organismo, ou seja, a responsabilidade passa a ser sempre da medicina, evitando a penalização das trafulhices de uma fauna repugnante.
Estes tipos de comportamentos deveriam ser denunciados ad nauseam.
Ao longo da vida tive oportunidade de ver muitos casos de actuação que classifico como criminosos. Doentes fragilizados física e psicologicamente foram e são alvos de abutres ávidos de ganhos fáceis. Não culpo os doentes ou os seus familiares que, em momentos de desespero, querem acreditar em tudo a fim de fugir à morte e ao sofrimento atroz, mas repugna-me os "outros", os vigaristas que se aproveitam da situação. Este fenómeno, real na área da saúde, tem, também, o seu equivalente na área social. Em tempos de miséria, de insuficiência de valores e de princípios, de desigualdades socioeconómicas verdadeiramente obscenas e incompreensíveis num estado democrático, que vendeu ilusões atrás de ilusões, é de esperar o aparecimento de grupos de oportunistas que quererão sacar aos mais carenciados o pouco que ainda possuem, empobrecendo-os a uma escala difícil de entender. Entretanto, vamos assistindo à promoção de "sempre os mesmos" como se vivêssemos no país mais rico do mundo, capaz de por a salivar de inveja o D. Manuel I ou o D. João V. E nós, os papalvos, deprimidos, ansiosos, que é que poderemos fazer? "Stayin' Alive"!

4 comentários:

Bartolomeu disse...

i sware... sometimes when i look deep in your words, i sware i cam see your soul!
http://www.youtube.com/watch?v=ejU5YAHN3vQ&feature=related

Bartolomeu disse...

not cam, but... can

jotaC disse...

Conheci uma pessoa que passou por um caso semelhante, gastou rios de dinheiro na esperança duma cura que a medicina clássica não lhe prometia, mas como é óbvio acabou por falecer. É, sem dúvida, um crime monstruoso ludibriar alguém às portas da morte...

carla disse...

A questão que o Professor aqui tão bem expõe, é tão velha quanto a consciência do Homem perante a perenidade da vida.
Ao longo dos tempos, bem sabemos que muitos foram os truques que foram sendo inventados para enganar a morte e os desesperados que a temiam; do sacrifício de animais a pós milagrosos e beberagens provindas de mãos de bruxas de origens duvidosas e desconhecidas... todos lembramos a miríade de situações que recolhemos das memórias, até das leituras do Luky Luke.
Quanto a mim, a verdadeira pedra de toque desta questão tem a ver com a posição absolutamente solitária de quem está doente, a saber, a ACEITAÇÃO e a RESIGNAÇÃO.
Mas, obviamente, reconheço que só pode aceitar em paz quem nela vive , tendo a certeza que Ele está do outro lado, de braços bem abertos...