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terça-feira, 3 de julho de 2007

Se quiser, peça para sair da União Europeia...

Rezam as crónicas que o Ministro da Agricultura e Pescas, defrontado ontem com ruidosa manifestação de desagrado por parte de pescadores na lota de Matosinhos, se terá voltado para um dirigente sindical e afirmado “Se quiser, peça para sair da União Europeia”.
Tenho a clara noção de que a margem de manobra das autoridades nacionais em matéria de política agrícola e das pescas é actualmente muito reduzida.
Já é assim há muito, aliás: o melhor que os políticos nacionais podem fazer é conseguir à mesa das negociações, em Bruxelas, as melhores contrapartidas para os agricultores e pescadores portugueses, no âmbito da definição da política comum europeia.
A partir daí cabe-lhes executar, o melhor que puderem, a política definida em comum.
Acresce que a vigilância exercida pela máquina de Bruxelas à execução da política é muito apertada e que qualquer desvio à aplicação das regras comuns é objecto de um processo de infracções, com sanções normalmente pesadas.
Portugal teve dois excelentes negociadores, no quadro europeu: os ex-Ministros Álvaro Barreto e Sevinate Pinto, sem menosprezo para o grande trabalho de outros como o Dr. Arlindo Cunha.
Mas há partidos políticos em Portugal que continuam a discutir este tema como se não existisse política agrícola e das pescas comum: é tipicamente o caso do PCP, que parece ignorar a nova realidade e insistir num discurso nacionalista - sem qualquer sentido na actualidade - só para manter os seus apoiantes em estado de insatisfação permanente.
Compreendo, nesta perspectiva, que perante as demonstrações de desagrado e as exigências desprovidas de realismo dos dirigentes sindicais, o Ministro da Agricultura se tenha sentido à beira da impaciência.
Mas já não me parece curial que tenha respondido aos protestos com que se viu defrontado com o comentário “ Se quiser peça para sair...”.
Ao responder dessa maneira, o Ministro demonstra não ter “fair-play” para situações destas, em que é exigido grande sangue frio.
Ele sabe perfeitamente que a resposta que deu não tem sentido, é um desafio gratuito, só pode ser tomada à conta de piada de mau gosto, legitimando que a outra parte lhe responda, à letra, “porque não sai o Senhor do Governo?”.
E convenhamos que é mais fácil o Ministro deixar o Governo que o sindicalista sair da União Europeia...

6 comentários:

CCz disse...

Ouvi hoje, na rádio, o diálogo entre o ministro e o sindicalista.

Percebo que um ministro tenha de ter sangue frio, mas deve ser exasperante não poder dizer na cara do sindicalista aquilo que ele merecia ouvir.

Primeiro o disclaimer:
Quanto à União Europeia estou mais próximo das ideias de Pacheco Pereira do que do mainstream; quanto ao governo de Portugal, apesar de PSL, não contribuí para a maioria parlamentar que o suporta.

O sindicalista fala, por exemplo, do envelhecimento das embarcações. Será que a pesca é um actividade nacionalizada?
Será que os barcos pertencem ao Estado?
Será que os barcos não têm dono?
Será que a pesca não tem empresários?
Será que a pesca moderna se compadece com uma gestão à antiga, uma gestão por cabotagem?

Na indústria, e numa economia decente, quem não evolui, quem não se aperfeiçoa deve sair!!!
Os clientes decidem, não os ministros e burocratas.

Se calhar, os subsídios da UE o que fazem é atrasar a saída do mercado de quem já devia ter saído, dificultando o acesso de gente nova (de ideias e métodos de gestão).

Tonibler disse...

Pois eu acho que a atitude pateta do ministro revela bem a atitude dos portugueses face à europa. Temos que fazer o que os senhores querem ou então temos que sair, como se nós não fossemos a união europeia e não decidissemos o que a união europeia é ou deixa de ser, sem que com isso nos digam para sair!

Virus disse...

Antes de nós saía a Polónia que acabou de entrar...

Tavares Moreira disse...

Caro CCzed,

As suas observações são pertinentes, em linha de princípio.
Os nossos vizinhos espanhois, por exemplo, parece que se adaptaram muito melhor à política comum de pescas, compraram muitas das nossas melhores embarcações e as suas capturas não terão diminuído assim tanto, se é que diminuíram...
Admito que nem todas as dificuldades, no entanto, sejam imputáveis aos agentes económicos, talvez o facto de as pescas serem o parente pobre da política tenha contribuído para as quebras acentuadas nas capturas.

Caro Virus, não esqueça que a Bulgária e a Roménia entraram ainda mais tarde, há seis meses apenas...

Caro Tonibler, estamos de acordo que a reacção do Ministro não foi sensata, embora em parte desculpável pelo calor da disputa verbal em que se deixou envolver.
Chamar-lhe-ia patética e não propriamente pateta...

Virus disse...

Caro Tavares Moreira,

não é pela questão da antiguidade tanto como é pela questão da "vontade" de integração europeia demonstrada pela Polónia nos últimos tempos!

A sua dimensão não pode ser justificação para todas as atitudes que têm vindo a ter.

David disse...

Os espanhóis estão onde estão porque os governos se empenharam nisso. Os nossos governos foram negligentes, por isso as queixas (desde sempre) dos pescadores. E quem fala das pescas, fala da agricultura e mesmo da indústria.