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domingo, 5 de fevereiro de 2006

Nostalgias


Alguns papéis velhos. Muita nostalgia.

Hoje foi dia de arrumar papéis. Muito alimento para o contentor de reciclagem. E outras tantas recordações.
Entre os papéis poeirentos e de bordas amareladas, alguns trabalhos escolares, meus e da minha mulher, dos idos dos finais de setenta na Faculdade de Direito de Lisboa.
Era imensa a utopia, a ingenuidade, como era muito o romantismo de alguns trabalhos, elaborados quase sempre em grupo e sempre objecto de auto-avaliação como mandava o novo código da democracia académica.
Pensávamos, naqueles tempos do pós-revolução intensamente vividos (que privilégio teve a minha geração ao viver esses tempos!), que íamos mudar O mundo. Chegávamos mesmo a julgar que eramos capazes de mudar DE mundo...
"A análise marxista das crises", trabalho para a disciplina de economia política do 1º B, Unidade de Avaliação nº 2, produto de discussão de um não-crente e a Susana, então militante de um dos mais extremados partidos da esquerda.
Sorrio ao lê-lo quase trinta anos depois. Quanta utopia. Mas quanta generosa disponibilidade para tudo por em causa. Todos julgávamos convictamente ser esse o único método de aprendizagem.

Alguns papéis velhos e muita nostalgia, foi a receita de hoje.

Foi bom.

2 comentários:

Suzana Toscano disse...

Vejo que o meu caro amigo também viveu esses tempos épicos em que demos a História Económica e Social na perspectiva da luta de classes e em que um hoje conceituado advogado da nossa praça iniciou as aulas de Direito Comercial dizendo que o Código tinha interesse puramente histórico uma vez que a propiedade privada is ser abolida... Apesar dessa Susana de que fala não ser eu (levo-lhe uns anos de avanço e nunca fui extremista, de esquerda ou de direita!) guardei até hoje um trabalhinho de grupo sobre a autogestão na Jugoslávia em que o meu grupo - logo apelidado de reaccionário - levantava dúvidas sobre o sucesso daquelas empresas.
Mas tem razão, havia uma utopia própria de quem via tudo de novo e estava proibido de aproveitar o que quer que fosse do que já tinha visto... Mas aindsa sobrou alguma utopia para os tempos de hoje, não acha? senão a 4R tinha um nome mais curto!

josé disse...

Em Coimbra, logo a seguir ao 25 de Abril, alguns dos professores de Direito que contavam-Direito COnstitucional, Ciência Política, Direito do Trabalho, Processo Penal, Direitos Reais, Processo Civil, tinham evidente formação e inscrição marxista.Mostravam-na e militavam sem pejo- nos testes, nos textos e nas atitudes.
Também por isso mesmo, sempre fui do contra( eles), sem militar em partidos.

Vital Moreira; Canotilho; Aníbal Almeida; Jorge Leite; Orlando de Carvalho, Tavares de Almeida e outros Soveral Martins, dispunham-se abertamente a catequizar os neófitos- e alguns houve que foram nas cantigas.
Em 1976, fez até uma reunião da OLP nas instalações universitárias!

O tempore! O Mores!