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domingo, 26 de fevereiro de 2006

Públlico e privado: tão iguais e tão diferentes


Fala-se da eficiência, qualidade e responsabilidade na administração Pública como se fossem atributos que nascem nas instituições por vontade dos seus funcionários ou que delas se arredam por incapacidade ou má vontade dos mesmos.
Mas o discurso é radicalmente diferente quando se fala das empresas, onde a tónica vai para a definição de estratégias, para a qualidade da gestão, para a liderança de equipas, com tudo o que isso significa em termos de motivação, de objectivos, de avaliação e resultados. E, se numa empresa a motivação e o envolvimento são imediatamente determinados pela necessidade de competir no mercado para manter os lucros e garantir os postos de trabalho, na Administração Pública a questão torna-se mais complexa, uma vez que não é o lucro que está em causa mas sim a eficiência dos meios, e os postos de trabalho não estão directamente ameaçados, mas o que fica sacrificado é a satisfação do interesse público. Ou seja, é ainda mais importante encontrar os factores de estímulo da qualidade e competência, é ainda mais difícil captar e manter os talentos, é essencial que os dirigentes sejam respeitados, tenham poder e responsabilidade e conheçam com transparência o que se pretende deles.
Por isso é bastante incompreensível que se assentem baterias no comportamento das pessoas que trabalham no Estado ao mesmo tempo que se ignora, com mais ou menos evidência, a descontinuidade das políticas nos diferentes sectores, a instabilidade nos cargos dirigentes, o abandono de projectos que mobilizaram equipas, o emaranhado legislativo que torna impossível uma decisão rápida e transparente.
Sobretudo, não é uma questão de culpabilizar seja quem for mas sim de responsabilizar, de induzir comportamentos e de os reconhecer como adequados ou criticáveis perante os parâmetros de qualidade que foram definidos. De definir um rumo, em suma.
É evidente que as pessoas que exercem a sua profissão nos serviços públicos têm que ter aguda consciência da natureza e importância do serviço que prestam e que, na generalidade, está na origem das regalias e ónus das suas condições de trabalho. Não podem acomodar-se ou encontrar desculpa nas vicissitudes por que passa a sua organização e têm que manter lealdade e esforço para um desempenho de qualidade. Mas só é justo pedir isso a quem conhece e compreende o que se lhe exige e que confia que quem vai avaliar o seu trabalho tem o poder e os instrumentos para o fazer de forma séria e estável, sem solavancos, sem arbitrariedades, com competência e respeito pela equipa e por aqueles a quem o serviço se dirige.
No sector público, como no privado, as questões são iguais, o modo como se olham é que são muito diferentes…

4 comentários:

Suzana Toscano disse...

Caro ferrolho, a organização, a estabilidade das equipas, a estratégia clara, a motivação das pessoas,a avaliação de resultados, são factores que determinam a qualidade e o êxito seja no sector público, seja no privado. Por isso digo que as questões são iguais. No entanto, ninguém ouve dizer que os empregados da empresa X ou Y são uns incompetentes, estão cheio de regalias, não querem saber para nada do seu cliente. O que se ouve, nos casos em que as coisas não correm bem, é questionar os aspectos que acima referi. Por isso digo que são olhadas de modo diferente. E concordo totalmente com o seu comentário, claro.

just-in-time disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
just-in-time disse...

Andamos, nós e outros, a discutir as virtudes e os defeitos dos trabalhadores das AP´s e das SA´s. num emaranhado de conceitos factores distintivos e circunstâncias. Numa dança cíclica entre a excelência e a desprezibilidade. O ciclo longo que atravessamos vai a favor da entronização dos privados. Até quando?
As pessoas, na sua essência, são semelhantes. Como os emigrantes, muitos, não conseguindo progredir modestamente no país, logram atingir grandes sucessos no estrangeiro.
O problema não está nos trabalhadores das AP´s, está na direcção e organização do Estado. As constantes inflexões, reorganizações e "inevitáveis" substituições de dirigentes nada têm a ver com a essência das Funções de Soberania, ou do Serviço Público. É aqui que nos devemos concentrar, sem nos escondermos na epidémica discussão das funções do Estado, nem adiarmos a reforma da Administração Pública, iniciada, mas já reorientada.

Suzana Toscano disse...

Caro just-in-time, estamos completamente de acordo. E essa sua expressão "entre a excelência e a desprezibilidade" é mesmo muito bem encontrada!