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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ainda o facilitismo dos exames

A questão dos exames tem sido amplamente debatida no 4R pelos seus autores e ilustres comentadores. Eu próprio tenho sido dos mais ácidos na crítica ao facilitismo dos mesmos. Nesta linha, um post recente do M.Frasquilho mereceu comentários diferenciados. A propósito, e porque o assunto é importante, permito-me fazer umas quantas observações.
1. Só por milagre seria possível, num único ano, de 2007 para 2008, conseguir, com o mesmo grau de exigência, que as avaliações negativas de Matemática caíssem para metade no 4º e 6º ano, e as positivas subissem de 52% para 82% no 2º ciclo.
2. Claro que o milagre foi os exames serem mais fáceis. Muitos factos o ilustram e evidenciam. Apenas a mero título de exemplo, uma pergunta da prova de aferição de Matemática de 2007, respeitante ao 4º ano, foi replicada em 2008, na prova de aferição do 6º ano. E os exemplos de questões dos exames do 9º ano que o nosso comentador JM incluiu no seu comentário ao post do MFrasquilho também o comprovam.
3. Claro que exames fáceis não significam automaticamente que os conteúdos não sejam os adequados e que o ensino não seja exigente.
4. Mas se estes testes correspondem à exigência dos conteúdos, estamos mal de conteúdos. Na antiga quarta classe, e até mesmo na terceira, resolvia-se, pelo menos, o segundo problema indicado por JM numa prova do 9º ano. Basta ver os cadernos de exercícios de então.
5. Ao contrário, se os testes não correspondem às exigências dos conteúdos, foram unicamemte feitos para fins estatísticos, de nada valendo para aferir conhecimentos e foram uma fantochada.
6. Em qualquer caso, há facilitismo, ou dos conteúdos ou dos testes. E daqui não podemos sair.
7. Pelo que, como dizia FAlmeida também em comentário não totalmente concordante, se as provas “devem ser exigentes, tão exigentes como exigentes devem ser os critérios de ensino, tal como os critérios de aprendizagem”, pela exigência das provas se vê a exigência do ensino.
8. Ou, concluo eu, pelo facilitismo das provas, o facilitismo do ensino.

7 comentários:

Pedro disse...

Caro Pinho Cardão,

Sejamos realistas. Esta malta jovem vai toda parar ao desemprego. Para quê complicar-lhes a vida?

Infelizmente nem para uma guerra servem, é que os soldados modernos são tão caros que se tornaram poucos...

Ainda por cima sabe que estes jovens custam uma pipa de massa ao OE. Reduzir a exigência nos exames é a grande contribuição da nossa ministra para a redução do défice.

Cumprimentos,
Paulo
PS: Caro Pinho Cardão ainda não vi um post aqui no 4R sobre o colapso do pinhal português... Eu sei que o Pinho Cardão se dedica mais à cebola, e eu preguiçoso me confesso, só uma vez por ano corto 1% das silvas da minha terra. Mas essa do pinhal foi ainda mais chocante que a bolsa. Ou dos incêndios de há um par de anos...

Pinho Cardão disse...

Caro Paulo:
Boa sugestão!...

Arnaldo Madureira disse...

o ensino não pode ser todo exigente ou todo facilitista. tem de haver ensinos mais exigentes e ensinos mais facilitistas. e todos tenderão a encontrar o seu melhor ensino.

Camoesas disse...

De há muito que consulto o 4R, mas jamais me deu ao trabalho de mandar um comentário. Mas como há sempre uma primeira vez, aproveito esta para emitir a minha opinião.
O que mais se surpreende nesta polémica é o facto de se esquecer o relativismo do "facilitismo".
Se as provas do 9.º ano este ano foram mais fáceis, foram-no em comparação com que outras provas? Talvez as do ano passado ou as dos anos anteriores? Se as deste ano foram mais fáceis, daí se conclui que os autores aceitam que as dos anos anteriores foram mais difíceis. Então porque não falam do "dificultismo" das provas dos anos anteriores?
A questão fundamental está em saber se as provas são bem ou mal elaboradas. Se são devidamente testadas e se correspondem aos níveis de exigência ou de facilidade das aprendizagens.
Em princípio uma prova bem concebida deverá ter uma distribuição equilibrada de diferentes graus de dificuldade: das perguntas mais acessíveis às mais difíceis, passando das questões ou problemas com um grau de dificuldade intermédio.
A qualidade de uma prova deverá aferir-se também pelos resultados esperados e os obtidos efectivamente.
Os senhores já analisaram as distribuições de frequências das classificações dos testes dos anos anteriores? É um bom exercício.
É uma boa maneira de verificar que muitas das provas realizadas nos anos anteriores estavam objectivamente mal concebidas.
Um ilustre fundador deste blogue que infelizmente deixou de escrever, conhecedor do problema chegou mesmo a falar em "exames de autor". Ele sabia bem do que é que estava a falar.
Mas, pelos vistos, até os seus amigos mais próximos andam distraídos.
É natural que as pessoas se escandalizem com o aparecimento de uma ou outra pergunta mais fácil. O problema está em saber se todas as perguntas são fáceis e se TODO o teste é fácil. E não é!
Pela primeira vez vejo um teste concebido com alguma qualidade (ainda há alguns desvios a corrigir) e logo os arautos da exigência vêm falar de facilitismo. Facilitismo há, mas nas classificações internas de algumas escolas, facto esse que constitui um verdadeiro escândalo e ninguém fala nele.
No caso dos exames de acesso ao ensino superior, como já foi salientado por JMFA, é uma verdadeira injustiça que há muito tem ficado por resolver.
Como poderemos concluir, facilitismo há, mas cada um toma o que quer.
Cumprimentos

jm disse...

Dedicado aos defensores da sociologia do coitadinho, do direito ao sucesso dos alunos, do processo ensino-aprendizagem, e outros patetas de outras patetices.


Prova de aferição 2008 do 4ºano, exercício:

19. Num torneio de salto à corda, cada concorrente inscreveu-se numa das seguintes classes: iniciados, médios e avançados.
O gráfico mostra o número de concorrentes, rapazes e raparigas, de acordo com a classe em que se inscreveram.

“segue-se um vulgar gráfico de barras”

Pergunta:
19.1. Em qual das classes estão inscritos mais rapazes?


Exame 2008 do 9º ano, exercício:
4. Numa escola com 1000 alunos, fez-se um estudo sobre o número de vezesque, em média, as raparigas e os rapazes da escola iam ao cinema por mês.
Com os dados recolhidos construiu-se a tabela que se segue.

Nº idas ao cinema
1 vez 2 vezes 3 vezes
Raparigas 200 150 100
Rapazes 300 200 50


Pergunta:
4.1. Qual dos gráficos que se seguem representa os dados da tabela?

“segue-se uma escolha múltipla entre quatro vulgares gráficos de barras”

Nove menos quatro igual a cinco. Cinco anos a aprender o quê?

P.S. para os mais cépticos www.gave.pt

jm disse...

Prova de aferição 2008 do 6ºano, exercício:

19. Escreve um número que seja, simultaneamente, múltiplo
de 2, 3 e 5.


Exame 2008 do 9º ano, exercício:

2. Qual é o mínimo múltiplo comum entre 12 e 24?

Resposta em escolha múltipla:

2 ao quadrado x três
2 ao cubo x três
2 à quinta x 3 ao quadrado
2 à sexta x 3 ao quadrado

Não, não é facilitismo. Eu diria que é mais oposição ao dificultismo.

Pinho Cardão disse...

Caro JM:
Fiquei de vez sem palavra!...
Para a próxima, vêm as questões já respondidas...