Sendo ainda cedo para se extraírem conclusões firmes, a redução do preço do barril de petróleo a que se tem vindo a assistir desde há 3 ou 4 semanas pode, se prosseguir, vir a ter efeitos muito favoráveis sobre a actividade das economias mais desenvolvidas – e, assim, alterar para melhor o cenário macro de 2009.
Haverá efeitos mais rápidos, quase imediatos, traduzidos na melhoria da confiança de consumidores e empresas, que vêm seus orçamentos/custos aliviados.
E haverá efeitos a prazo mais longo, neste último caso em especial através de uma menor pressão para a subida da inflação ao longo dos próximos meses.
É provável, a persistir a inversão de marcha dos preços do petróleo, que a inflação comece a dar sinais de abrandamento a partir de Agosto o que pode abrir caminho, no caso da Europa, a que o BCE alivie a política monetária baixando os juros mais cedo do que se podia prever – talvez ainda em 2008 quem sabe...
Não se pode esquecer que os efeitos dos factores de contracção do ritmo da actividade – aumento acumulado dos preços das matérias-primas, escassez e preço mais elevado do dinheiro, forte abrandamento económico dos mercados de destino das exportações - aliados ao elevadíssimo endividamento da economia, ainda deverão fazer-se sentir durante mais algum tempo, condenando sem remédio o desempenho da economia em 2008, concretamente no caso português.
Mas não é de excluir que os efeitos benéficos da queda dos preços do petróleo venham beneficiar a economia portuguesa ainda em 2009, apesar da subsistência dos problemas estruturais.
Quer isto também dizer que o indicador de confiança dos consumidores/famílias (INE), que tem vindo a deteriorar-se e que, segundo notícias de hoje, terá mesmo atingido no corrente mês de Julho um “mínimo histórico” – explicado por expectativas mais pessimistas - é susceptível de inverter a curto prazo.
A economia portuguesa pode assim, algures ao longo do próximo ano, começar a evidenciar alguns sinais de recuperação conjuntural – o que o Governo não deixará de aproveitar a seu favor até à exaustão, disso podemos estar certos.
Os problemas estruturais persistirão, com certeza, haverá mesmo a “tentação conjuntural” de os esquecer, de os deixar para 2010 ou para mais tarde.
Apesar da persistência desses problemas estruturais, a hora será de algum alívio, de alguma descompressão, o que é susceptível de alterar, até certo ponto, o estado de espírito mais negativo dos cidadãos...a oposição que se vá acautelando...
Será muito interessante verificar o efeito destas alterações no ambiente do próximo debate orçamental, daqui por 3 meses.
5 comentários:
Caro Tavares Moreira, sinceramente eu não embandeiro já em arco. O petroleo está a rondar os US$120, um suporte forte que já aguentou em meados de Junho, fez ricochete e daí subiu até aos seus máximos históricos. Deste suporte aguentar dependerá estarmos perante uma verdadeira inversão da tendencia ou uma mera correcção há muito devida e que propicia apenas boas oportunidades de compra. Se o suporte em US$120 aguentar não será nada estranho vermos o ouro negro de volta aos US$140 e mesmo mais além nos próximos 3 meses.
E mais uma achega: estamos no Verão. Vejamos em Outubro como se comportam os preços.
Caro Zuricher,
Se bem ler o meu texto, concordará que não se trata de embandeirar em arco, que nem tampouco é meu estilo...
Trata-se simplesmente de tentar antecipar alguns efeitos de possíveis recuos do preço do petróleo.
Que caso prossiga, como tem sucedido, não deixará de produzir efeitos pode estar certo.
Essa teoria dos patamares de resistência dos preços funciona na descida como funcionou na subida, não esqueça...
E de antecipar também, claro está, os ruidosos festejos que internamente se irão promover ao menor sinal de alívio conjuntural -não olvidar o calendário político de 2009...
Caro Tavares Moreira,
Leio este seu post depois de acabar de ler a notícia de que os preços inverteram a tendência e subiram hoje em N York em consequência da informação da quebra das reservas a semana passada nos EUA.
Mas muita gente qualificada afirma o mesmo: os preços vão regredir até um patamar de 80/90 dólares a curto prazo para voltarem a subir a médio prazo. São melhores notícias, apesar de tudo, daqueles que fustigaram as economias nos últimos meses.
Por outro lado, segundo contas de M Frasquilho, distinto quarto repúblico, publicadas no Jornal de Negócios Online, é bem provável que o défice das contas públicas portuguesas rondem os 2,8% do PIB.
Nada mau. Para o governo, diz MF. Para nós, penso eu.
Subsistem os problemas estruturais.
Eu também penso que existem problemas estruturais e que o ciclo eleitoral não é bom conselheiro para os atacar. De qualquer modo, é inegável, penso eu, que este governo tentou resolver alguns desses problemas (a reforma da segurança social parece estar a ser bem sucedida, por exemplo) mas viu-se confrontado com as já esperadas reacções de uma dita esquerda que nunca será poder (assim o espero)a que, do meu ponto de vista mal, se juntaram frequentemente apoios oportunistas da direita a essas reacções esquerdistas.
Confrontado em período pré-eleitoral à esquerda e à direita o governo encolhe-se agora à espera que passe a onda e, mais uma vez, os tão decantados problemas estruturais são postos no congelador.
De modo que, salvo melhor opinião, pode o petróleo baixar e o défice reduzir-se, se não houver um consenso alargado entre as principais forças políticas do país no sentido de ultrapassar as tais questões estruturais, continuaremos a assistir a acusações recípiocas que, muitas vezes, não são mais do que disputas pessoais.
O problema estrutural maior é que ninguém tem paciência para estar na oposição defendendo alternativas.
Caro Tavares Moreira, o embandeirar em arco não era para si especificamente, não era associando o embandeirar em arco especificamente a si que, realmente, já vi - e com muito agrado - que usa de cautela e prudencia. Era um "embandeirar em arco" genérico, muito para os lados do governo até. É que se embandeiram em arco agora, daqui a uns meses pode muito bem sair tudo furado novamente.
E, claro, não tenho a mais pequena dúvida que os benefícios para a economia, o balão de oxigénio proporcionado por esta descida, será usada pelo governo para elogios em boca própria sobre as virtudes e o saber da equipa governativa. Isso é mais do que certo.
Caro Rui Fonseca,
Num exercício de sinceridade, subscrevo suas principais conclusões.
Também não vejo vontade decisiva de ultrapassar os grandes problemas estruturais da economia -verifico até comportamentos, não sei se plenamente conscientes, que induzirão seu agravamento.
Caro Zuricher,
Então estamos de acordo - qualquer leve alívio da conjuntura será motivo para enormes festejos governamentais, canticos de vitória, exacerbação do auto-elogio... fustigando-nos com um marketing impiedoso e lodoso, mas em muitos meios eficaz...como estamos aliás habituados.
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