O que dizer de Goa? O que dizer para expressar uma pura sensação, qualquer coisa que passa muito para além do que os nossos olhos abarcam, uma estranheza por nos sentirmos em casa sem podermos reconhecer as nossas coisas?
Em Goa, recuamos umas décadas nas nossas referências, mas elas estão lá. É como se nos encontrássemos, feitos adultos, dentro de um desses filmes em que aparecíamos ainda crianças.
A aproximação à cidade é decepcionante, pelo ar de pobreza e abandono que encontramos pelo caminho. Parece que a natureza domina tudo e as pessoas se encontram salpicadas ao acaso no meio do capim e dos coqueiros, vindas não se sabe de onde.
A sensação começa a ganhar forma quando se passa pelas povoações. As casas coloniais, muitas decrépitas, surgem cada vez com mais frequência, paredes meias com casebres de zinco, tábuas e vasos de flores. Miúdos por todo o lado, como coelhos a espreitar das tocas, e a estrada bordejada de tendas, quitandas, lojas, lugares de fruta, num colorido que desmente a indolência caprichosa das gentes. Estas, sorriem e acenam para os carros que passam, perturbando a azáfama morna e húmida.
Azáfama, disse bem. Porque há como que uma energia contida naquela orgia de coisas exibidas, colchas, lenços, comida, mobílias, bugigangas e os vendedores espojados por perto, como nada os pudesse perturbar. As vacas à solta, com a soberba dos incontestados, pisam sem ver, atravessam sem pedir, seguindo sempre, como se vigiassem tudo sob a capa da sua indiferença petulante.
Passamos uma ponte, o rio alarga-se num sorriso radioso que nos entra no coração. Depois, some-se. De novo a estrada sinuosa, a vegetação densa, e logo outra ponte, as praias brancas, as traineiras azuis. O condutor aponta os lugares, desfia os nomes, larga o volante e dá guinadas assassinas enquanto procura palavras portuguesas na poeira da sua memória.
Em Goa, recuamos umas décadas nas nossas referências, mas elas estão lá. É como se nos encontrássemos, feitos adultos, dentro de um desses filmes em que aparecíamos ainda crianças.
A aproximação à cidade é decepcionante, pelo ar de pobreza e abandono que encontramos pelo caminho. Parece que a natureza domina tudo e as pessoas se encontram salpicadas ao acaso no meio do capim e dos coqueiros, vindas não se sabe de onde.
A sensação começa a ganhar forma quando se passa pelas povoações. As casas coloniais, muitas decrépitas, surgem cada vez com mais frequência, paredes meias com casebres de zinco, tábuas e vasos de flores. Miúdos por todo o lado, como coelhos a espreitar das tocas, e a estrada bordejada de tendas, quitandas, lojas, lugares de fruta, num colorido que desmente a indolência caprichosa das gentes. Estas, sorriem e acenam para os carros que passam, perturbando a azáfama morna e húmida.
Azáfama, disse bem. Porque há como que uma energia contida naquela orgia de coisas exibidas, colchas, lenços, comida, mobílias, bugigangas e os vendedores espojados por perto, como nada os pudesse perturbar. As vacas à solta, com a soberba dos incontestados, pisam sem ver, atravessam sem pedir, seguindo sempre, como se vigiassem tudo sob a capa da sua indiferença petulante.
Passamos uma ponte, o rio alarga-se num sorriso radioso que nos entra no coração. Depois, some-se. De novo a estrada sinuosa, a vegetação densa, e logo outra ponte, as praias brancas, as traineiras azuis. O condutor aponta os lugares, desfia os nomes, larga o volante e dá guinadas assassinas enquanto procura palavras portuguesas na poeira da sua memória.
4 comentários:
Cara Suzana:
Numa selecta de textos noticiosos referentes à viagem à Índia, os seus já ganharam por incontável vantagem. A prosa é esbelta, as descrições coloridas, o ritmo avassalador.Consigo, todos podemos a rever a Índia, a quilómetros de distância.
Mas com tal velocidade, que nem deixa fôlego para saborear pausadamente cada uma das imagens!...
Foi para aproveitar o fim de semana...
Faz nuito bem em aproveitar o tempo mais livre e o fim de semana para estes excelentes textos, e retratos de viagem.
A dificuldade do Dr Pinho Cardão em acompanhar o ritmo resulta apenas do afrontamento que lhe provocou o peixe grelhado que foi comer a Matosinhos! Tivesse ficado pelo cozido e pelos enchidos de Montalegre e estaria aí fino e ladino na leitura das suas mensagens!
Mas ele, depois, relê e vai apreciar ao seu melhor e verdadeiro nível!
De facto, o peixe grelhado não liga com as especiarias da Índia!Abaixo o peixe grelhado (mesmo o de Matosinhos...)
Enviar um comentário