Num dia frio como o de hoje, nada melhor do que lembrar os belos dias de Verão!
A figueira ficava no terreno da quinta vizinha, mas os ramos mais frondosos estendiam-se para o lado de cá do muro, cheios de figos suculentos e tentadores.
Eles chegavam de comboio para visitar os netos na casa de férias dos outros avós, ela com o seu ar roliço e tranquilo, ele com os bolsos recheados de caramelos e o chapéu de feltro preto enterrado na cabeça, para lhe tapar a careca.
Seguia pachorrenta a tarde de domingo de Verão quando ele se levantava, olhava para os figos, e lançava a bisca: “-Não há por aí um escadote? Aqueles figos a apodrecerem é uma dor de alma!”
A garotada ia a correr e em breve lá estava ele empoleirado, já sem casaco, com o chapéu às três pancadas, a deitar a mão aos figos. Os netos esperavam cá em baixo, com cestinhos, à espera que ele os atirasse com pontaria.
Mas era sempre a mesma coisa.
Apanhava um, avaliava-o e, se lhe agradava, abria-o com o canivete e comia-o sem cerimónias.
“-Então, avô Ahah, não atira o figo?”
“-Ná, este estava muito maduro, quando aí chegasse estava em papas!” e lambia-se, deliciado.
Quando eram os pequeninos e meio verdes, lá vinha um ou outro, mas os pingados de mel, apetitosos, era como ele dizia: “Chamei-lhes um figo!” E ria às gargalhadas, fazendo tremer o escadote.
A cena acabava sempre em gritaria, os cestinhos à míngua dos frutos e a implicância do compadre:
- Bonito serviço, sim senhor! Sempre quero ver se aparece aí o dono dos figos, como é que descalça a bota!
- Deixe-o vir, deixe-o vir, que eu conto-lhe um conto...
E estendia-se na cadeira de lona, debaixo dos cedros, a dormir regalado o resto da tarde.
A figueira ficava no terreno da quinta vizinha, mas os ramos mais frondosos estendiam-se para o lado de cá do muro, cheios de figos suculentos e tentadores.
Eles chegavam de comboio para visitar os netos na casa de férias dos outros avós, ela com o seu ar roliço e tranquilo, ele com os bolsos recheados de caramelos e o chapéu de feltro preto enterrado na cabeça, para lhe tapar a careca.
Seguia pachorrenta a tarde de domingo de Verão quando ele se levantava, olhava para os figos, e lançava a bisca: “-Não há por aí um escadote? Aqueles figos a apodrecerem é uma dor de alma!”
A garotada ia a correr e em breve lá estava ele empoleirado, já sem casaco, com o chapéu às três pancadas, a deitar a mão aos figos. Os netos esperavam cá em baixo, com cestinhos, à espera que ele os atirasse com pontaria.
Mas era sempre a mesma coisa.
Apanhava um, avaliava-o e, se lhe agradava, abria-o com o canivete e comia-o sem cerimónias.
“-Então, avô Ahah, não atira o figo?”
“-Ná, este estava muito maduro, quando aí chegasse estava em papas!” e lambia-se, deliciado.
Quando eram os pequeninos e meio verdes, lá vinha um ou outro, mas os pingados de mel, apetitosos, era como ele dizia: “Chamei-lhes um figo!” E ria às gargalhadas, fazendo tremer o escadote.
A cena acabava sempre em gritaria, os cestinhos à míngua dos frutos e a implicância do compadre:
- Bonito serviço, sim senhor! Sempre quero ver se aparece aí o dono dos figos, como é que descalça a bota!
- Deixe-o vir, deixe-o vir, que eu conto-lhe um conto...
E estendia-se na cadeira de lona, debaixo dos cedros, a dormir regalado o resto da tarde.
3 comentários:
Suzana,
Que belo conto! Que bem que me fez. Que quadro tão pitoresco! A lembrar um pouco a minha infância: as férias grandes na quinta, os figos, as amoras, os passeios no rio, as feiras, as procissões, um mundo de coisas...
Só mesmo um Avô muito querido poderia comer tanto figo empoleirado num escadote com os netos de roda dele, cá em baixo, a admirarem a proeza do Avô.
Lindas imagens, Suzana. Também a mim trouxeram memórias de dias de sol, remotas...
E de chapéu na cabeça empoleirado em cima da figueira, olhem que é obra!...
Enviar um comentário