Cerca da hora do almoço de hoje fui interpelado por um jornalista da Antena 1, solicitando-me que comentasse uma declaração muito recente (desta manhã, suponho) do Ministro Manuel Pinho que na visita à República da China terá acenado a empresários – presumo que chineses pois não vejo a que outros se poderia dirigir – com a suposta vantagem, para os investidores, dos baixos salários que se praticam em Portugal.
Ao que me foi referido pelo jornalista de serviço, a declaração do Ministro teria já provocado reacções de desagrado por parte de algumas centrais sindicais – UGT e CGTP, pelo menos - cujos porta-vozes mostraram alguma indignação (oficiosa, provavelmente) face a tais declarações, classificando de “anacrónica” a argumentação do Ministro.
Achei curioso que quisessem registar a minha opinião, agora que me encontro tão (cada vez mais) afastado do comentário político.
Limitei-me por isso a dizer que me parecia que tal declaração tinha sido feita no sítio errado: ao que se sabe, o salário médio de um operário chinês, na industria transformadora, andará por 1 USD. Ao câmbio de hoje, temos a módica quantia de € 0,77 por hora.
Uma mulher a dias em Portugal ganhará hoje 7 a 9 vezes essa quantia...
Resta acrescentar que em matéria de regalias sociais, a situação na China é de simples inexistência.
Será pensável, em tais condições, acenar com a competitividade dos níveis salariais que se praticam em Portugal?
Apesar da insistência do jornalista de serviço, não quis adicionar qualquer outro comentário pois me pareceu que o mais importante estava dito, o resto seriam mais observações de natureza política que não me dizem respeito.
Mas pareceu-me curioso este episódio, que revela pelo menos a dificuldade em que nos encontramos para oferecer aos investidores estrangeiros bons argumentos para investir em Portugal.
P.S. Jantar na Adega do Saraiva/Nafarros/Sintra fica para dia 15 de Fevereiro, depois de ouvido o oráculo Pinho Cardão e de percebida, mais ou menos, a disponibilidade ou indisponibilidade dos restantes interessados. Não podemos adiar mais, aparecerá quem quiser e puder – sei que pelo menos Pinho Cardão, Ferreira de Almeida, Tonibler, eu próprio e espero também que o Prof. Massano por si e em representação de Rui Vasco (mas sem o ónus de perdente da aposta...), temos a intenção de estar presentes. O jantar promete muita conversa e, quem sabe, inspirar algum post...
6 comentários:
"acenar com a competetividade dos níveis salariais que se praticam em Portugal", relativamente aos praticados no resto da Europa, presumo!
Sinceramente, caro Sr. Tavares Moreira, aquilo que realmente me preocupa, não é a declaração do Sr. Ministro, mas sim a possibilidade de o Sr. 1º Ministro já ter decidido abandonar o modelo Finlandês e poder estar a cogitar, virar-se para o modelo Cinês. Afinal, se pensarmos um pouco acerca, concluimos com facilidade que para o nosso governo será muito mais fácil retirar aos funcionários as já escassas garantias de de segurança social que presistem, inversamente à possibilidade de atingir o nível social do povo Finlandês.
Dr. Tavares Moreira, que óptima é essa declaração do Ministro Manuel Pinho...
Agora resta-nos esperar que, na próxima remodelação, ele seja "trasladado" para a pasta das finanças... e se encarregue das próximas negociações dos aumentos salariais para o ano de 2008!!!
Depois de um dia intenso acabei de ouvir há pouco a declaração do Ministro Manuel Pinho.
Se a ouvisse através de outrem, admitiria erro de interpretação. É que para alem, da "inapropriedade e oportunidade" da afirmação perante um mercado como o chinês, é a imagem que um Ministro da nossa Republica transmite ao mundo oriental, de um mundo ocidental e da UE em que se vangloria e usa como "publicidade" que somos os que temos mais baixos salários...etc! Mais do que as reacções naturais e obvias das centrais sindicais, eu senti vergonha que um responsavel deste país ande a vender tal imagem do "meu País"...
E cara Clara Carneiro acho que a "trasladação" de tal Ministro seja para bem longe...talvez como assessor dum consulado num país do interior africano,de onde raramente saiam noticias para a Europa e a sua voz não chegue cá!!
Desculpem, mas o ministro Pinho tem razão. Na generalidade dos caso, os salários portugueses são baixos. O problema é o salário dele, do financiador dele, dos adjuntos dele, do chefe dele, dos adjuntos do chefe dele, dos financiadores do chefe dele,etc. Por causa disso, um baixo salário acaba por ser um custo elevado.
Caro Ruy,
O Senhor presume e presume muito bem!
O problema não é a comparação com os salários doutros países europeus - matéria em que aliás a nossa posição é duvidosa por causa dos chamados custos não salariais do factor trabalho - mas sim o facto de se estar a dirigir a empresários chineses.
Para empresarios chineses, os custos da mão de obra na Europa são o último argumento que se pode utilizar.
Pela simples razão de que eles jamais decidirão investir na Europa por atenção a esse factor mas, e apesar desse factor, em atenção a outros factores, por exemplo a proximidade dos mercados consumidores.
É preciso entender que os chineses conseguem as taxas de cresciemnto que admiram o resto do Mundo graças, em boa parte, à abundante oferta de mão de obra, aos baixíssimos salários e à quase inexistência de custos não salariais do trabalho, fazendo prosperar uma industria transformadora que é predominantemente de mão de obra intensiva.
Quando deslocam investimento para o exterior - está a suceder muito em África actualmente - a mão de obra vai também da China, pelo menos os trabalhadores menos especializados.
É neste contexto que acenar com os relativamente baixos salários em Portugal, num discurso para empresários chineses e na China, é surrealismo.
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