A Velha Goa tem uma magia que não há máquina de filmar capaz de captar.
Imaginem-se num ponto muito alto, onde está a Igreja Nossa Senhora do Monte, um pináculo branco debruado a arabescos vermelhos que parecem um azulejo de renda. Lá dentro, uma voz de mulher entoava cânticos religiosos com uma voz límpida e firme mas com a suavidade de um recolhimento.
Esse som maravilhoso espalhva-se até ao adro, rodeado de um muro de pedra que limita um abismo de verde denso que se estende por ali fora até onde o mar permite. Aqui e acolá, espreitando na folhagem como se brincassem às escondidas, cúpulas brancas ou torres afiladas denunciam a profusão de igrejas com que os portugueses marcaram o seu território. Dizem-nos que são 200 no Estado de Goa.
Descemos à Basílica do Bom Jesus, onde a missa teve a força de um cerimonial de fé.
Parecia que a liturgia estava a ser feita ali, naquele momento, que o coro e o padre falavam português porque essa era a língua da sua emoção contida. Com fé ou sem ela, a verdade é que passou uma corrente que não conhecia gentes nem lugar e que nada parecia poder perturbar.
O coro calava-se e as notas ficavam suspensas no ar, saindo devagarinho em bicos dos pés. Kátia Guerreiro cantou (ou rezou?) o fado Nossa Sra.das Dores e os acordes soaram como se aquele ângulo da igreja fosse deles e eles ali estivessem desde sempre.
Imaginem-se num ponto muito alto, onde está a Igreja Nossa Senhora do Monte, um pináculo branco debruado a arabescos vermelhos que parecem um azulejo de renda. Lá dentro, uma voz de mulher entoava cânticos religiosos com uma voz límpida e firme mas com a suavidade de um recolhimento.
Esse som maravilhoso espalhva-se até ao adro, rodeado de um muro de pedra que limita um abismo de verde denso que se estende por ali fora até onde o mar permite. Aqui e acolá, espreitando na folhagem como se brincassem às escondidas, cúpulas brancas ou torres afiladas denunciam a profusão de igrejas com que os portugueses marcaram o seu território. Dizem-nos que são 200 no Estado de Goa.
Descemos à Basílica do Bom Jesus, onde a missa teve a força de um cerimonial de fé.
Parecia que a liturgia estava a ser feita ali, naquele momento, que o coro e o padre falavam português porque essa era a língua da sua emoção contida. Com fé ou sem ela, a verdade é que passou uma corrente que não conhecia gentes nem lugar e que nada parecia poder perturbar.
O coro calava-se e as notas ficavam suspensas no ar, saindo devagarinho em bicos dos pés. Kátia Guerreiro cantou (ou rezou?) o fado Nossa Sra.das Dores e os acordes soaram como se aquele ângulo da igreja fosse deles e eles ali estivessem desde sempre.
Ninguém estranhou o cântico em língua doce e indecifrável que se seguiu, como uma desgarrada de contrastes que se ajustam sem esforço, conduzindo-nos ao abismo da nossa alma maravilhada.
À noite, houve a recepção no aldeamento onde ficámos alojados, com os coqueiros iluminados e as mesas espalhadas pelo relvado imenso. No palco, a saia vermelha com bordados prateados da fadista fez empalidecer os saris de seda e a elegância esmerada das indianas.
À noite, houve a recepção no aldeamento onde ficámos alojados, com os coqueiros iluminados e as mesas espalhadas pelo relvado imenso. No palco, a saia vermelha com bordados prateados da fadista fez empalidecer os saris de seda e a elegância esmerada das indianas.
O fado encheu a noite quente de emoção e evocação, num tempo suspenso.
2 comentários:
Cara Suzana:
Ou estou muito sensível ou fui tomado pela beleza do texto.
Quando li que a "Kátia Guerreiro cantou (ou rezou?) o fado Nossa Sra.das Dores e os acordes soaram como se aquele ângulo da igreja fosse deles e eles ali estivessem desde sempre", até me arrepiei!...
Pode crer que foi um momento de rara beleza, uma alma sensível como a do meu amigo não podia deixar de captar o ambiente...
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