Caríssimos,
Já em 2007 (bom ano novo a todos!...), confesso que, até por ter sido colocado no período festivo entre o Natal e a Passagem de Ano, não esperava que o meu texto sobre as projecções para o ano em que já estamos tivesse tanta leitura!... Mas enfim, é um sinal de que o Quarta República nunca pára e, por isso, o meu muito obrigado a todos.
Resolvi escrever este novo post e não comentar o texto anterior essencialmente para responder muito sumariamente às questões que CMonteiro me coloca, ao mesmo tempo que, claro, agradeço os comentários e sugestões que todos me endereçaram.
Quanto às questões (provocações...) de CMonteiro, cumpre-me referir o seguinte:
1. Fiz parte do Governo de Durão Barroso como Secretário de Estado do Tesouro e dasFinanças durante exactamente 1 (um) ano: de 8 de Abril de 2002 a 8 de Abril de 2003;
2. O “discurso da tanga” retratava de forma muito fiel e correcta, como hoje facilmente se constata, a realidade do país. Estávamos e estamos “de tanga”. E foi uma pena que os “remédios“ adequados para sairmos a prazo desta situação (que não deixaremos com um passe de mágica) não tivessem sido prosseguidos (alguns tinham sido, aliás, anunciados na campanha eleitoral de 2002 e depois, infelizmente, foram abandonados parcial ou totalmente). Lamento que o país não tivesse entendido na altura, como creio que hoje já entende muito melhor – e quanto mais tempo passar, ainda melhor entenderá – que estamos mesmo, e já desde 1998/1999, “de tanga”… Só que dantes não se sentia tanto!...
3. O “globalmente positivo” a propósito do OE’2006 foi um lapsus linguae lamentável. Fui eu que o protagonizei e, por isso, aqui refiro que o que devia, na altura, ter afirmado, era que “o discurso subjacente ao OE’2006 é globalmente positivo (…) mas não encontra, depois, aderência no próprio documento”. Aqui vai o mea culpa de algo por que sou co-responsável. Quanto aos 3 OE já apresentados pelo Engº Sócrates (sim, já são 3: OER’2005, OE’2006 e OE’2007), meu caro CMonteiro, não tenha dúvidas de que, ao contrário do discurso e intenções que lhes estão subjacentes, consubstanciam opções de política económica erradas – como já em repetidas ocasiões tenho referido/escrito – e por isso o PSD tem feito muito bem em se lhes opor.
E é tudo, até porque, para um “A propósito” de um post anterior, o texto já vai longo!...
Mais uma vez um bom ano de 2007 para todos são os meus votos muito sinceros.
7 comentários:
Caro Dr. Miguel Frasquilho,
As críticas que lhe enderecei não foram "provocações" mas sim convicções pessoais que tenho sobre um certa postura sua e do seu partido, que se mostrou prejudicial ao país quando este era governo, e que agora se mostra prejudicial ao próprio partido, o que na minha perspectiva é menos mau, perdoe-me a sinceridade.
A saber: Fazer queixas à Comissão Europeia, propagandear a má situação económica de Portugal no estrangeiro, como fez o PSD quando estava na oposição e já depois de ser governo, não é trabalhar para o país, é minar a confiança de quem pretende investir em Portugal e assustar os que já cá estão. Pode rebater que a verdade é para se dizer, mas eu respondo-lhe que a roupa suja se lava em casa. Não vale tudo para chegar ao poder e as consequências estiveram bem à vista: Desinvestimento estrangeiro e deslocalização de fábricas. Tudo isto tem a ver com algo mais vasto, a nível global? Tem... mas não deixo de relacionar uma coisa com outra. Eu sendo estrangeiro, não confio num país do qual os seus governantes falam mal. Concorda comigo?
Reformas da Drª. Ferreira Leite: O caminho estava certo? Talvez... Mas ouvi-la numa entrevista dizer que "foram as medidas mais estúpidas que teve que tomar" não ajuda o eleitorado a compreender a gravidade do assunto, principalmente depois de o Governo PSD/PP ter catalogado ao longo de um par de anos 700 mil pessoas como inimigos de Portugal.
Défice: O governo PSD apurou e divulgou um défice que derivou de contas aldrabadas (perdoe-me a falta de especialização na linguagem, mas parece-me o termo apropriado). Depois massacrou-me a mim e aos portugueses com o "défice", dois anos a fio, de tal forma que deu origem à celebre frase do Dr. Jorge Sampaio "há vida para além do défice".
O país precisava de mais, mas o seu governo falava-me em rigor orçamental, em vender património, em despedir pessoas, muitas pessoas. O seu governo falava muito e mantinha-nos na expectativa de quando é que passávamos das contas de subtrair para a acção, para o investimento, para... sei lá! A solução?...Resultado de tanto rigor? 6,8%...
Eu penso que se calhar o problema não é de competência, é de postura (embora esta minha conclusão seja benevolente, uma vez que os indicadores, os que interessam, são diferentes para melhor agora). O problema é mesmo de conversa: Sua com o seu admitido erro de discurso sobre o OE de 2006, do Dr. Barroso e da "tanga", e da Dr Manuela e das "medidas mais estúpidas que teve de tomar". É caso para afirmar que "pela boca morre o peixe" não é?
Falar mal de Portugal, caro Dr. Frasquilho, não é uma boa atitude, como eu lhe posso dizer, o Dr. Ricardo Salgado lhe pode dizer, e o eleitorado vos (ao PSD) continua a dizer nas sondagens.
Não pessoalize qualquer uma destas criticas. Eu sou apenas um anónimo eleitor, mas deixe-me que lhe sugira: Não é melhor tentar algo de diferente desta vez?...
Com os melhores cumprimentos,
cmonteiro
Dois comentários, camarada Monteiro.
O primeiro, é abusivo extrapolar para a tua argumentação as razões que, supões tu, terão levado a MF Leite a dizer o que disse.
Segundo, o défice de 6,8% nunca foi verificado. Foi uma previsão de Sua Exa. Magnânima Ilustre Governador do Banco de Portugal baseado em 30 entrevistas telefónicas, a 16 do sexo feminino e 14 do masculino, 29 na área da grande Lisboa,etc.... Aliás gostaria de o ver a fazer isso este ano, descontando as privatizações, claro!
Caro,
Não faço a mínima ideia das intenções da Drª Ferreira Leite, mas depois de dois anos a congelar salários, dizer que foi a medida mais estúpida, independentemente das razões que a levaram a dizer, não é coisa bonita de se ouvir. Sabes, eu tenho esta mania dos bons modos e do "passem-me a mão pelo pêlo devagarinho". E nem sequer sou funcionário público!
Segundo: O défice previsto no OE pelo governo PSD/PP estava mal calculado. Veio o BP e calculou outro. O que dizes é uma redundância. Não foram entrevistas, foi uma comissão que analisou contas e verificou desorçamentação e contas mal feitas.
Podes ter um ódio de estimação pelo BP, mas ninguém nunca, a não ser tu, questionou as contas a que chegou. O camarada Pinho Cardão ou Miguel Frasquilho podem dizer-te com mais propriedade com funciona a coisa. Estranho até como nunca usaste esse argumento no apuramento do défice deixado pelo governo PS de 4.2%. Curioso...
Os outros de agora? Deixa-os poisar...
Meu caro CMonteiro,
Deixe-me referir-lhe alguns pontos que considero importantes (a ordem é arbitrária):
1. Há uma grande diferença entre os défices de 4.2% de 2001 e o de 6.83% de 2005: o primeiro era um défice de um exercício já passado; o segundo uma mera previsão. Previsões, cada um faz as que quer, e se o défice original do Governo PSD/CDS podia enfermar de alguns erros/omissões, o calculado/estimado pela Comissão Constâncio foi feito à medida para o novo governo socialista brilhar. Os 6.83% só em sonhos... os 4.2% foram mesmo a realidade!... Quer se queira, quer não.
2. Tenho esta característica - defeito, se calhar - de dizer sempre o que penso, e o que penso que é verdade!... Que culpa tenho eu que desde 1999/2000 as perspectivas para Portugal sejam sempre negativas?... Quer que se minta à população? Pois olhe, já dois candidatos a PM não falaram a verdade toda em campanha eleitoral, sobretudo sobre os impostos, e depois viu-se o que fizeram quando lá chegaram, pois tinham ganho as eleições... claro, DB e JS!... Não meu caro: eu, por mim, falarei sempre a verdade e aquilo que penso, e algumas vezes mesmo contra algumas orientações partidárias... Por exemplo, numa entrevista ao Diário Económico em 2004, quando tinha sido eleito para a vice-presidência do Grupo Parlamentar do PSD, e durante o Governo PSD-CDS liderado por DB, disse, preto no branco, que em 2006 a retoma ainda não estaria aí... o que me valeu algumas críticas internas. Mais de dois anos depois, afinal, quem tinha razão? Meu caro, não adianta atirar areia para os olhos dos portugueses... e pintar uma situação como cor-de-rosa, quando ela é cinzenta-escura, muito escura - embora tenha saída, em minha opinião, como já muitas vezes tenho escrito (e como menciono abaixo).
3. Far-me-á a justiça de reconhecer que, para além de criticar, proponho sempre soluções: as que considero mais adequadas para o progresso do nosso país, para podermos sair desta situação em que nos encontramos (e que, a continuarmos como nos últimos 6/7 anos, se perpetuará no tempo). Ora, como essas opções/soluções não têm sido aplicadas em grande parte, não quer que eu passe a defender algo em que, manifestamente, não acredito, pois não?...
4. Quanto ao facto de se criticar o país lá fora, não creio que no mundo globalizado e competitivo que hoje enfrentamos tenha um impacto melhor ou pior do que se as críticas forem internas. Quase todos os jornais têm edições online que podem ser consultadas em qualquer local do planeta, e portanto tanto faz falar aqui como na Bélgica ou na China... Só não vê quem não quer. E, mais uma vez, far-me-á a justiça de reconhecer que ao criticar a apontar o dedo ao que entendo que está mal, avanço sempre com soluções... Não, não me limito a discordar e a apontar os erros. Aponto caminhos a seguir. São os mesmos desde há algum tempo? São, é verdade. Porque não têm sido seguidos!... E olhe: infelizmente, à medida que o tempo vai passado, vou tendo razão e as minhas posições vão encontrando aderência na realidade. Infelizmente, repito. Bem gostaria de estar enganado, para bem de todos nós: era sinal que a saúde da nossa economia era bem melhor do que temos hoje...
E é tudo. Lamento discordar de si, mas creio que se leu com atenção o que acima escrevi, dificilmente poderá querer que eu mude a minha postura e a forma como tenho vindo a actuar. E enquanto eu continuar a acreditar que estou certo e que as opções de política económica que defendo são as mais adequadas para este nosso Portugal, não tencio mudar em nada!...
Mas, com frontalidade e lealdade, agradeço-lhe os seus comentários e as suas sugestões...
Caro Miguel Frasquilho,
Antes de mais, deixe-me também agradecer-lhe a frontalidade com que apresenta os seus argumentos.
Creio não ter percebido o essencial da minha mensagem, ou eu não me terei feito entender:
- Eu não pretendo que o meu caro minta sobre a situação do país, mas não pretendo que plante uma bandeira a meio de Portugal, bem alta e esfarrapada com a inscrição "Fechado para balanço, volte mais tarde". Não lhe sei sugerir de que forma o faça, mas certamente o Engº Sócrates soube fazê-lo bem melhor. Porque de facto o que aconteceu neste país durante os anos do governo PSD/PP foi que o país estagnou. Completamente.
- Se o défice era confirmado, ou se era previsto é a conversa (perdoe-me porque vou ser duro) "politiqueira" do costume; O essencial da questão aqui é: Acha o meu estimado Miguel Frasquilho que no final da governação PSD/PP as contas do Estado estavam dentro dos números que o Dr. Bagão Félix anunciou? Ou acha que os números do défice eram outros? Terá o Dr. Bagão Félix dito a verdade, ou... mentido? Caro Miguel, eu ainda sou daqueles que acha que o antónimo de "verdade" é "mentira".
E também daqueles que tem uma consideração pela "forma" tanto como pelo "conteúdo" e assim pensam muitos portugueses, como nas eleições se viu ao penalizarem a "forma" dado que o conteúdo, em boa verdade era o mesmo.
Assim sendo o grande desafio que lhe faço é o seguinte: Abandone a forma destrutiva como fala do país. Acredite que ela se faz sentir no seu discurso. Abandone a forma clubistica como faz política. Acredite, ela é por demais visivel e dir-lhe-ia que "bater no ceguinho" até à eternidade acaba por demonstrar apenas que não tem soluções novas à vista... O Engº Guterres não tem as consta assim tão largas.
Comece a falar para NÓS, portugueses em vez de falar para circulo restrito dos que estão no "jogo" da política.
O seu problema não é a sua competência técnica, é forma como se apresenta aos portugueses, e esse problema estende-se ao resto do partido a que pertence. E para ser governado por técnicos só é preciso de um computador.
Mais uma vez lhe apresento os meus cumprimentos e agradecimentos pela troca de ideias.
cmonteiro
Caro CMonteiro,
Pronto, agora é a minha vez de dizer que também a minha mensagem anterior não terá sido bem entendida!...
E só vou tocar num ponto: eu não creio que tenha clubite política, e a prova é que tenhoa admitido, com alguma frequência, que no período de governação de DB se podia ter feito bem mais do que se fez... Se acha aque eu tenho clubite, então nem sei o que o meu caro amigo pensará de outros colegasmeus de Partido!...
Depois, há outro pormenor: eu não consigo falar sobre o que não sei, nem sei defender o que não acredito... portanto, se o meu discurso é esse, é nisso que acredito... E mais uma vez lhe digo: não creio que seja destrutivo - porque apresento soluções como já em várias ocasiões lhe pude referir!
Agora, tenho muita pena, mas não vou deixar de criticar o que acho que está mal só para ser mais agradável!... Se algum dia me quiserem mandar embora, saio com a mesma facilidade com que entrei "nisto" da política. Sabe, não sou - e ainda bem!... um político profissional... E isso, acho que é impagável...
Agora: continuo a achar que tenho alguma razão (não, não pretendo ter toda, nem ser o dono da verdade absoluta...) e por isso, enquanto achar que posso ser útil - ou vir a ser mais útil que hoje - ao país, não desisto...
Acho que Portugal está cheio de cinzentões que não sentem o que dizem e mudam demasiadamente de opinião. Podem ser muito agradáveis, mas muito têm contribuído para a infeliz situação que atravessamos...
Ora, para ser mais um cinzentão, tinha continuado de fora, não acha?...
Mas como não sei ser de outra maneira...
Aceite, pois, os meus melhores cumprimentos.
Cumprimentos aceites e retribuídos em dobro, caro Miguel Frasquilho.
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