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quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

O exemplo da Liga das Nações

Foi há precisamente 87 anos, a 10 de Janeiro de 1920, que no rescaldo do primeiro conflito mundial se instituiu oficialmente a Liga das Nações, ou, como também ficou conhecida, a Sociedade das Nações.
Nasceu com o Tratado de Paz de Versalhes, com o propósito de evitar uma nova guerra à escala planetária. E morreu, de modo inglório, exactamente porque foi incapaz de se opor às movimentações bélicas do Eixo, ao rearmamento da Alemanha, após a invasão da Manchuria pelo Japão e da Abissínia pela Itália.

Evoca-se o exemplo da Liga das Nações no momento em que um novo secretário-geral das NU inicia funções, numa situação internacional extremamente complexa, de uma paz e segurança internacionais particularmente frágeis.
O novo secretário-geral e o novo secretariado da ONU, bem como o Conselho de Segurança, têm pela frente a missão de afirmar a Organização, reformando-a e redefinindo-lhe o papel face aos novos desafios, designadamente no que à resolução pacífica dos conflitos e à prevenção da guerra diz respeito.
Redefinir o papel das Nações Unidas passa também por transformá-la no principal agente para a solução dos problemas mundiais, reocupando um lugar que, terminada a guerra fria, tem sido claramente preenchido por uma só potência.
Tarefa gigantesca e que tem de ser levada a cabo com enorme realismo, uma vez que o princípio da igualdade entre soberanias é uma bonita proclamação doutrinária, mas não tem qualquer relação com a realidade do mundo actual.
Também aqui servem as lições da História. Porque, apesar da ideia da criação da Liga das Nações ter partido do presidente norte-americano Wilson, como é sabido os EUA nunca integraram o organização, impedidos pelo Senado. No não envolvimento dos EUA na Liga das Nações residiu afinal o princípio do fim do projecto. A correlação de forças - afinal o factor que conta - obriga a que se crie um movimento de pressão internacional, dinamizado pelo secretário-geral, no sentido de persuadir a Administração norte-americana a confiar na Organização o essencial das missões de garantia da segurança internacional e de restabelecimento da paz, pondo termo a este período em que o unilateralismo tem tido o terrivel preço das dezenas, senão centenas de milhares de vidas perdidas nos conflitos das últimas décadas.

Ingenuidade? Talvez, mas porventura a única solução que permite assegurar a sobrevivência da ONU e a crença na bondade dos seus objectivos.


3 comentários:

Pinho Cardão disse...

Boa e oportuna lembrança, caro Ferreira de Almeida. A paz é preciosa e tudo o que por ela se faça não tem preço. Curiosamente, não ouvi a comunicação social mencionar o facto. Há coisas mais importantes!...

Rui Miguel Ribeiro disse...

O problema principal da ONU não são os EUA, mas a Rússia e a China que nos últimos anos bloqueiam por interesses próprios a resolução de graves problemas internacionais, nomeadamente no que diz respeito à proliferação nuclear. Veja-se como Moscovo "protege" o Irão e Pequim "apadrinha" a Coreia do Norte.
É claro que para além destes dois países, todos os outros tentam, legitimamente, promover os seus interesses: está no código genético das Relações Internacionais! Acho, portanto, que o seu desejo se não é utópico, anda lá perto.

Anónimo disse...

Da minha ingenuidade, eu bem que avisei, caro Rui Miguel Ribeiro. Só que a alternativa realista a essa utopia é a inutilidade das NU. É a isso que inevitavelmente conduzirá o unilateralismo.