“What’s matter with you Portuguese guys?? Your country needs you!” Foi esta a reacção de um holandês que assistia à conversa entre vários jovens portugueses, todos com formação universitária, que faziam planos para sair do país como primeira opção. Macau, Holanda, Itália, Espanha, Alemanha, por aí fora, aqui é que não tencionam ficar.
Para lhe responderem, cada um contou a sua curta experiência no mercado de trabalho: pouco estimulante, crítica à criatividade, pouco reconhecimento, baixos salários, assédio, algumas vezes experiências humilhantes. Que não querem vender a alma por dois patacos, resumiam eles. Conheço alguns dos intervenientes e acho que fariam um óptimo lugar em muitas empresas ou trariam a necessária renovação a alguns serviços públicos que bem precisam de alargar as mentalidades. Mas estão a mandar os currículos para todos os azimutes. Aqui, na expressão deles, ficam “atrofiados”. Terão razão?
Para lhe responderem, cada um contou a sua curta experiência no mercado de trabalho: pouco estimulante, crítica à criatividade, pouco reconhecimento, baixos salários, assédio, algumas vezes experiências humilhantes. Que não querem vender a alma por dois patacos, resumiam eles. Conheço alguns dos intervenientes e acho que fariam um óptimo lugar em muitas empresas ou trariam a necessária renovação a alguns serviços públicos que bem precisam de alargar as mentalidades. Mas estão a mandar os currículos para todos os azimutes. Aqui, na expressão deles, ficam “atrofiados”. Terão razão?
10 comentários:
Sim e não. Uma carreira internacional é importante, mas pode começar ou acabar aqui. Hoje já conheço dezenas de casos de início e fim em Portugal. Em certos sectores até é bastante valorizada a experiência profissional em Portugal. Agora, o sector público não é um deles, pelo contrário.
Cara Suzana,
Considero que o mercado de trabalho em Portugal, não é, o mais estimulante, o que tem melhores condições salariais nem o que proporciona carreiras mais estáveis e estimulantes. Neste sentido, poderia parecer normal e aceitável esta conversa entre jovens portugueses. Mas, se não for a nossa juventude a lutar pelo seu país quem lutará? Penso que o estado deveria ajudar e incentivar os jovens empreendedores, deveria existir um verdadeiro estimulo a quem quer se fixar por cá e contribuir para gerar mais riqueza. Os nossos jovens, em especial, os mais produtivos, devem aliar os conhecimentos técnicos, tantas vezes, provenientes da formação académica ( e neste particular considero que Portugal tem algumas faculdades de muita qualidade, algumas delas, reputadissimas a nivel internacional, como a Faculdade de Direito de Lisboa ) a uma formação de cidadania, de respeito pela história e pelos valores. Acho que esta juventude deve mesmo empenhar-se para poder melhorar o estado a que chegamos, para que nao oiça os seus filhos e netos ter esta conversa que a Suzana referiu.
Essa das carreiras internacionais, não sei, nunca saí da cepa torta (Portugal?).
Quanto ao sector público, o que se pode esperar de uma actividade com 700.000(?) profissionais, bons e maus como em toda a parte, muitos altamente qualificados, mandados (desculpem, devia dizer dirigidos) por amadores? Amadores enquanto conhecedores dos problemas do sector, claro está, porque lá serão profissionais de qualquer coisa...
É só ouvi-los, quando lá não estão a dizer da facilidade com que resolveriam os problemas todos do sector! Mas mais perigoso ainda é quando lá estão!
É aquela coisa da brincadeira e do disparate. Sinónimos?
Cara Suzana:
O seu texto , garanto-o, reflecte uma realidade. Conheço um caso exemplar! Um jovem termina o seu curso (há cerca de 3 anos e meio) e na mesma faculdade, inicia o seu estágio. Fervilha no seu intimo uma apetencia pela investigaçao! Nem a faculdade, nem o Estado lhe dão condições para dar corpo à sua vocação! O orientador de estagio sabe da sua vontade, informa-o que não tenha esperanças, porque não há verbas para Investigação! Aconselha-o a concorrer ao complemento de estagio num Instituto de elevada qualidade,de dificil acesso, em Genebra. Concorre e, com felicidade e decerto mérito, é aceite. A um mês do fim de estagio o referido Instituto convida-o a continuar lá. O ordenado é tentador. Nenhuma empresa em Portugal lhe oferece nem o ordenado, nem condições para trabalhar naquela àrea. Aceita ficar em Genebra por um contrato de 2 anos. Ao fim de um ano e meio o proprio Instituto toma a iniciativa de o convidar a prorrogar o contrato por um novo periodo que ele proprio queira definir. Uma instituição que está atenta aos seus valores, os respeta, icentiva e aproveita! Coincide esse covite com um outro, que lhe surge de Portugal de uma empresa que trabalha em projectos internacionais. Só que não há apoio à àrea de Investigação e não conseguem sequer aproximar-se do ordenado que recebe no Instituto suiço. Nem o trabalho se assemelha.
Há cerca de 3 meses o pai desse jovem, está com ele a jantar em Genebra e pergunta-lhe: e agora? como pensas será o teu futuro? E o jovem responde: Pai, perante o que me oferecem aqui, ou algures noutro local onde este Instituto tem prologamentos, não prevejo um regresso proximo a Portugal! Nenhuma empresa portuguesa me garante a realização pessoal e profissional que aqui me oferecem! Em termos financeiros a diferença é tb abismal. Que motivação me leva a regressar? Apenas o afecto da minha familia, dos meus pais , da minha irmâ! Só que isso é efemero. Cada um segue seu caminho, e o risco é ficar daqui a pouco, sozinho e frustrado!
Esse jovem é meu filho!
Mas ele não tem culpa de ter nascido aqui! E, apesar de tudo, como ele gosta do seu país!
Caro Rui Vasco,
Os meus parabéns, pelo seu filho e pelo seu testemunho.
Mas esse (este) é o caminho. Só conhecendo outros mundos é que se pode alterar o nosso. Mantenha-se o gosto pelo nosso país e regresse-se mais maduro, pronto para encabeçar coisas novas.
Não tem sido assim com muitos (maioria?) dos bons exemplos quer empresariais quer de centros de investigação?
Não foi também assim com os nossos emigrantes, os outros, que, ao seu nível, também ajudaram a mudar muita coisa por cá, no seu regresso?
Não foi assim com o Sebastião José (desculpando as sangrias - mas eram os métodos da época...) e tantos outros?
E não esqueçamos que não foi também assim com o António que só se afastou uma vez 40 Km da fronteira...
Em tempos, em conversa com um Professor alemão, há já alguns anos em Portugal, ele dizia-me não perceber a falta de iniciativa do povo num país que tinha "dado novos mundos ao mundo" e tantos emigrantes que mostravam arrojo e iniciativa por esse mundo fora.
Eu só lhe consegui responder: pois, professor, nós somos os que ficaram!
A questão principal não é a do salário, há muitos que até trocam de trabalho ficando a ganhar menos e não se queixam disso. O que venho concluindo é que NÒS lhes criámos uma ambição a que agora não sabemos corrsponder, convencidos que essa história da realização pessoal é uma conversa para meninos ricos (e eles hoje são de facto mais ricos!. Acontece que eles têm consciência do seu valor, ou da sua capacidade, e a bilateralidade é assumida de uma forma que há uma geração era impensável. Não lhes damos espaço nos empregos, a criatividade é anulada, a hierarquia aperta quem sente a liberdade como um estímulo a que podem corresponder.Os velhos moldes de trabalhar, sobretudo de dirigir, já não servem, e não é, essenciamente, uma questão de dinheiro, até porque vão muitas vezes para países mais pobres. Também não é por preguiça, porque são capazes de trabalhar muito. Pelo contrário, até fazem mais coisas, trabalham e tiram pós graduações, viajam imenso, é uma sofreguidão espantosa. Os nossos filhos vão-se embora, não porque precisam, como há 50 anos, mas porque querem crescer. Ainda os podemos prender pelos afectos, se os soubémos criar, mas até isso é injusto, é como se cobrássemos uma dádiva...
E, já agora, não sei porque é que no Estado não há-se ser possível. Até devia ser mais fácil, num sector tão grande e com áreas tão importantes.
Por muito que me custe, tenho de concordar com os jovens.
Depois de uma experiência no Erasmus, em Inglaterra, regressei ao país em 1995. Na altura, as perspectivas eram diferentes. O país estava a crescer, tínhamos ultrapassado a Grécia, parecia que lentamente acabaríamos por convergir com a média europeia.
Passados estes anos todos, sinto que as minhas expectativas sairam defraudadas. O país não cresce, cometemos a proeza de sermos pobres e estarmos a divergir da Europa. Os países do Leste estão a ultrapassar-nos e a Grécia afasta-se. Morando em Espinho, sinto que está tudo concentrado em Lisboa como nunca esteve - e que a oferta de emprego no Norte é quase inexistente (sendo quase impossível fazer carreira sem ir viver para Lisboa ou, pelo menos, passar lá grande parte da semana de trabalho).
Trabalho numa empresa participada pelo Estado, onde as oportunidades de progressão e de mobilização interna são inexistentes. Apesar de tentativas e convites já recebidos, estou há 11 anos no mesmo departamento onde entrei. (Sair da empresa não é opção; sendo esta monopolista, também significa que as oportunidades de emprego não abundam na minha área). A minha mulher é professora e está farta da situação do ensino em geral, e da sua falta de exigência.
Para piorar a situação, atingimos uma carga fiscal confiscatória. O que custa é que sentimos que pagamos imensos impostos e não recebemos serviços em troca - sendo quase todo este dinheiro desperdiçado. O esforço de pagar estes impostos e ter, quase obrigatoriamente, de matricular as nossas filhas no privado (depois de averiguar as condições oferecidas pelo público na nossa área de residência, e que deixam imenso a desejar), deixa muito pouca margem para ter um nível de vida compatível com o que trabalhamos.
Neste momento, o que nos prende são sobretudo as nossas filhas, que tornam o "salto" muito arriscado (sobretudo para quem tem a prestação para pagar). Mas, apesar disso, a hipótese de sair tem sido ponderada e debatida por nós. Compreendo, por isso, que jovens que não tem essa obrigação, e que já conhecem bem o estrangeiro, nem pensem em voltar. (Já agora, os recém-licenciados que conheço foram para o estrangeiro - sobretudo Espanha -, para Lisboa ou estão no desemprego; não conheço ninguém das minhas relações que se tenha licenciado recentemente e encontrado emprego no Norte).
eu tenho 27 anos e confesso que a minha integração no mercado de trabalho não tem sido fácil.salários miseráveis , patrões que vivem de esquemas , empresas que vivem à conta do estado...não é facil a um sub -30 ,que vé o tempo a passar , a passar , fazer projectos de vida. Não é preciso muito para concluir que Portugal não tem muito para oferecer a portugal.muitas vezez sinto que as gerações dos quarentões/cinquentões estão confortavelmente instalados na vida e que não deixam os jovens entrar no mercado de trabalho apenas com medo que sejam passados para trás.
EU muitas vezes penso que Após ter acabado o 12º ( onde isso já vai ..) devia ter saido de Portugal nem que fosse para Londres a lavar pratos.Provavelmente lá teria muito mais oportunidades do que em Portugal..O meu amor por Portugal é cada vez menor.
Enfim..isto foi mais a titulo de desabafo..
Caro Menino Mau:
Desabafe sempre...e lance mesmo impropérios!...
Uma pessoa como o meu amigo vence sempre!...
Acredito e sei que alguns quarentões e cinquentões fazem barreira...mas cada vez mais estes também estão no fio da navalha...
Por isso, pensando defender-se, seguem o caminho errado ao não delegarem , não ensinarem,não estimularem, não fazerem progredir o seu serviço ou departamento, que facilmente conseguiriam com nova gente a seu lado. Quando dão conta, são disponibilizados...
Concordaria também com os jovens.
Frequentei a licenciatura em Física até ao 4º ano. Nesse mesmo ano (1992) comecei a dar formação em informática e aulas de matemática, o que fiz ainda durante 4 anos consecutivos. Entretanto, por ver o curso entregue à ortodoxia e ultraformalismo da classe docente (e inércia institucional conexa...) abandonei e fui... para a Banca! Onde fiquei 11 anos. Depois atingi um certo patamar de "páraquedas", saltei fora e estabeleci-me por conta própria a fazer o que gosto mais: ensinar, apoiar, traduzir, inventar em cima do joelho soluções para os que não as conseguem criar sozinhos.
Alguns colegas de faculdade com 35 anos ainda estão por lá, à conta das bolsas de 150 contos, a fazer mestrado, depois, doutoramento, depois um pos-doc, outro... vivem com os pais, ou foram para Genéve, ou para Turim...
Honestamente? Votar em branco é a melhor solução.
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