"Senhora, que levais em seu regaço?".
"Nada, Senhor. Rosas apenas".
"Vejamos, então".
A rainha abriu o seu avental e caíram rosas ao chão.
"Nada, Senhor. Rosas apenas".
"Vejamos, então".
A rainha abriu o seu avental e caíram rosas ao chão.
Hoje, 4 de Julho, dia da morte da Rainha Santa, dia da cidade de Coimbra.
Assisti às diversas cerimónias. Simples, elegantes, mas ricas e muito diversificadas. Património recuperado, espaços museológicos de encher a alma e os olhos, reconhecimento justo de personalidades exemplares, música, pintura, poesia, cultura, muita cultura, alegria, crianças nos parques, jovens no Mondego, calor, vento, esperança e sobretudo rosas, muitas rosas que perfumaram a Rainha mas também as almas dos cidadãos de Coimbra.
As poucas rosas do minúsculo jardim da casa foram depositadas aos pés de Isabel.
Quanto não gostaria de vos oferecer uma rosa, também!
Coimbra tem mesmo encanto....
Assisti às diversas cerimónias. Simples, elegantes, mas ricas e muito diversificadas. Património recuperado, espaços museológicos de encher a alma e os olhos, reconhecimento justo de personalidades exemplares, música, pintura, poesia, cultura, muita cultura, alegria, crianças nos parques, jovens no Mondego, calor, vento, esperança e sobretudo rosas, muitas rosas que perfumaram a Rainha mas também as almas dos cidadãos de Coimbra.
As poucas rosas do minúsculo jardim da casa foram depositadas aos pés de Isabel.
Quanto não gostaria de vos oferecer uma rosa, também!
Coimbra tem mesmo encanto....
11 comentários:
(texto que coloquei,no mês passado, em http://aguiarconraria.blogsome.com)
a propósito de um texto de Cristovão Aguiar sobre os seus primeiros tempos em Coimbra)
ALMA MATRASTA
A ler Tutear Coimbra, relembro
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Setembro, 1959
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A primeira vez que me puseram os pés em Coimbra teria eu quatro anos, trajaram-me de S.João, do que eu mais gostei foi do carneirinho, tanto assim que, quando a Mãe foi devolver a indumentária alugada, só parei de berrar à custa de outro, por sinal ainda mais branquinho e macio, que a dona do negócio me deu. É das poucas gravações, daquele meu tempo, que subsistiram estes anos todos. Essa e outra, também do mesmo dia, quando a procissão das festas de Santa Isabel foi alvoraçada pelos gritos e o reboliço que um gatuno provocou ao arrancar, de esticão, um cordão de ouro de várias voltas. Na altura, não tinha idade para dar conta das razões do tumulto, mas quando a Mãe recordava algumas cenas vividas, essa fazia parte do reportório.
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De resto, ia-se a Coimbra se houvesse azar, próprio, de algum familiar ou de algum amigo. Por reflexo condicionado, vi sempre no caminho para Coimbra, que naqueles tempos era torto e estreito, e ainda mais demorado para quem fosse de combóio, se o estado de saúde o permitisse,
a estrada para gólgota. Se Coimbra, menina e moça, era cantada e encantada, para alguns, para muitos outros "ter de ir para Coimbra" era o pior que lhe podia acontecer na vida.
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Obrigado a férias escolares prolongadas, levei o Verão de 1959 a congeminar saídas do bloqueio. Tinha poupado uns tostões e ia fazendo contas às forças com que poderia contar para dar o salto dali. Não havia muito por onde sair, a possibilidade de rumar até Coimbra não era uma utopia, porque com essa sempre se pode sonhar, mas uma hipótese que nem sonhar consentia.
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Um dia, para esgotar as alternativas, fui até à Escola Agrícola, supondo que, se baixasse a bitola, talvez passasse a fronteira. Tratava-se de um curso de nível médio, a agricultura que eu conhecia, pensei, deveria contentar-se com custos de formação compatíveis com as minhas esforçadas economias. Além disso, continuava o meu optimismo a pensar, dando eu conta do recado, e estava confiante que daria, poderia repescar uma bolsa perdida por um daqueles azares que nos levavam a Coimbra.
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Atenderam-me cordatamente e começaram a desbobinar as condições de admissão: a entrada naquela escola do Estado pressupunha, antes de mais, finanças bastantes para custear um enxoval mais completo que o de uma noiva. Comecei a somar o preço das camisas e calças de trabalho no campo, outras para as aulas, botas de trabalho e botas de passeio, casacos, jaquetas, capa, chapéu, lençóis e cobertores, meias e um não mais quantos outros requisitos de vestimentas, tudo com a marca da escola, dizem-me às tantas, para me poupar mais trabalho de aritmética, que tudo aquilo, e só aquilo, orçava para cima de 6 contos.
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Engoli em seco e saí para apanhar o combóio de volta. Coimbra, decididamente, não era para mim, mesmo que fosse para cultivar alfaces.
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Mas não penso que tenha sido por isso que a agricultura portuguesa não saiu nem sai da cepa torta.
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De qualquer modo, Coimbra vale bem pelo cordeirinho.
Cristovão Aguiar trata por tu Coimbra de uma forma ímpar.
O seu amor não se esgota no cordeirinho...
Pois não. Mas o cordeirinho não é de Cristóvão Aguiar. É meu. A cada qual o seu animal de estimação.
Caro Rui Fonseca
As minhas mais sinceras desculpas!
A propósito, ainda tem o seu carneirinho?
Não são devidas desculpas.
Claro que tenho o cordeirinho. Se o não tivesse comigo como poderia eu contar esta história?
E eu gostei imenso, confesso.
Os meus sinceros parabéns.
Muito obrigado.
Romance da Rainha Santa Isabel
Peço graça com fervor
Do divino Manuel,
Para que haja de rezar
Da Rainha Santa Isabel:
Em Saragoça nascida,
Segundo a oração diz,
Foi rainha mui querida,
Mulher d’el-rei Dom Dinis;
Aos pobres socorria
Com entranhas do coração;
Pois de ninguém se fiava,
Sua esmola apresentava
Com a sua própria mão.
Vindo a “santa” um dia,
Com seu regaço ocupado,
Pelo tesouro que havia,
Com el-rei eis encontrada!
«Que levais aí, Senhora?
Levo cravos e mais rosas,
Para mais nossa alegria.
Bem sei que levais dinheiro,
Segundo sois costumada;
Antes que muito me cheira,
Rosas em Janeiro,
É de maravilha achá-las!»
A Senhora
O seu regaço lhe amostrou,
Cravos e rosas achou,
Um cheiro que admirava.
«Ó rainha excelente!
Meu tesouro podeis dar,
Minha coroa empenhar
Porque tudo estou contente.»
Estando a “santa” um dia
Na sua sala sentada,
Chegou-lhe um pobre chagado,
Se o podia arremediar;
Ela lhe disse
Com palavras de amor:
«Mandarei chamar o doutor,
Que vos haja de curar.
Senhora, se queredes
Ter o vosso coração inflamado,
Deitai-me na vossa cama,
Que eu serei remediado.»
A Senhora
De pés e mãos o lavou,
Na sua cama o deitou.
Um cavaleiro, que no paço
Havia encontrado,
A el-rei tudo é contado.
Vindo el-rei muito agastado,
Com tenção de a matar,
Contra a clemência que usava;
Na cama onde repoisava
Deitar um pobre chagado.
A Senhora correu o cortinado,
Achou Jesus crucificado!
Muito chorou o rei com ele
Dos milagres, que ela tinha obrado.
Em Estremoz acabou
Em Coimbra está sepultada,
No convento que formou
De Santa Clara sagrada.
n Romanceiro e Cancioneiro Popular Português
Que raio de costume este de comemorar as datas de falecimento das personagens históricas!!
Já o dia de Portugal é o da morte de Camões! Isto não faz sentido nenhum!
Caro Atreides, é que geralmente só reparamos no valor das pessoas, e como eram importantes para nós, no dia em que nos faltam. Deve ser por isso que comemoramos a morte, é como se nascessem nesse dia...
Deve ter sido uma festa muito bonita, pelo menos o perfume das rosas vinha no post!
Também gostei muito do conto de Rui Fonseca, é incrível como as crianças fixam certas coisas para a vida toda e nós, os grandes, a pensar que eles só se aborrecem quando os levamos arrastados, afinal vêem tudo. Percebo bem a paixão pelo carneirinho, eu tenho uma pequena colecção...embora nunca tenha merecido nenhum por me vestir de Santa!:)
Acredito que para alguns "isto" não faça sentido nenhum. Acredito mesmo. Mas para outros já fez! É o que me interessa...
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