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sexta-feira, 11 de março de 2011

Contas públicas: como entender este sobressalto?...

1.Depois do anúncio (precipitado?) de excelentes resultados com a execução orçamental dos 2 primeiros meses do ano, a prometer uma desejada bonança orçamental para 2011, eis que a “terra volta a tremer”...
2.Com efeito, fomos hoje brutalmente surpreendidos com o anúncio/promessa de nova vaga de medidas de austeridade:
- Novo corte em benefícios fiscais;
- Pensões de reforma acima de € 1.500 ficarão sujeitas a uma contribuição adicional (leia-se agravamento de IRS);
- Subsídio de desemprego terá de ser repensado;
- Despesas com medicamentos terão de ser reduzidas,
Etc, etc, etc
3.Lê-se, pasma-se, quase não se acredita: mas esta gente estará no seu perfeito juízo?
4.Mal começamos o ano e quando nos diziam que tudo estava a correr dentro das melhores previsões para a receita e a despesa orçamentais, vêm anunciar nova vaga de medidas de austeridade?
5.A que propósito? Será que as medidas em vigor afinal não são suficientes quando nos diziam que eram perfeitamente adequadas e até estavam a produzir resultados acima do previsto?
6.O que se passa afinal? Será que a notícia hoje publicada na edição alemão do Financial Times tem fundamento e criou uma situação de pânico?
7.Como entender esta confusão e este sobressalto súbito? E quando é que tudo isto acaba, antes de acabar connosco?
8.Por mim, confesso, tenho extraordinária dificuldade em entender esta súbita aflição!

22 comentários:

Bartolomeu disse...

Desde Abril de 74 para cá, o povo português ganhou liberdades... e pobreza!

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Quer dizer, por outras palavras, que "conquistou" a liberdade de ser pobre?
Mas não é, apesar de tudo, uma nova liberdade que o "ancien régime" tentava combater a todo o custo?!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Dr. Tavares Moreira
E qual o impacto de mais este PEC na actividade económica?A redução da despesa continua a exigir grandes sacrifícios às pessoas e famílias. Porque é que os grandes negócios (PPP, etc.) não são revistos? E não há por onde cortar no funcionamento do Estado?
A necessidade de ajuda externa parece ser inevitável. Como é que o resgate vai ser feito é que ainda não sabemos ou será que já está um plano em marcha?

João Pedro Santos disse...

"Como entender esta confusão e este sobressalto súbito?"

Basta olhar para a evolução das taxas de juro da dívida pública...

Bartolomeu disse...

Se nos sentarmos a "debulhar" as conquistas desde Abril, caro Dr. Tavares Moreira, tristemente concluiremos que conquistámos uma mão cheia de nada.
Quando se refere ao "ancien régime" temo que o caro Dr. esteja a ignorar o período Marcelista, em que efectivamente foram postas em curso, medidas que visavam um Estado social sutentado. Um estado que regulamentava a economia, um estado que priveligiava as condições de bem-estar de saúde, de higiene e de educação para a população, sustentadas por uma economia dinâmica.
Hoje o que temos, caro DR.?
Talvez seja mais fácil enumerar o que perdemos.
Perdemos ensino, perdemos estasbilidade económica, salarial e de empregabilidade, porque perdemos os principais sectores da nossa economia. Perdemos a indústria metalurgica pesada, perdemos as pescas, perdemos a agricultura, perdemos a sustentabilidade económica, ganhámos a dependência de subsídios e últimamente, a dependência da dívida.
Não temos, caro Dr. Tavares Moreira a menor capacidade para reerguer aquilo que perdemos. E porquê?!
Porque nos deslumbrámos com o lucro, caro Dr. Porque quisemos ser ricos de um dia para o outro e porque confundimos riqueza fácil, com riqueza sustentada. Porque não tivemos empresários à altura das facilidades que a europa nos proporcionou, porque não tivemos deputados à altura, para reivindicar na europa, o nosso direito a produzir. Porque não houve um sacana de um tipo capaz de firmemente dizer à cambada de oportunistas que viciou os projectos e recebeu fortunas que estoirou depois em jipes e montes no alentejo, que a riqueza se consegue trabalhando e produzindo aquilo que o país e o estranjeiro necessitam.
O que ganhámos, caro Dr. Tavares Moreira?
A hipoteca dos nossos descendentes, em troca da vã riqueza pessoal de meia-dúzia de artistas que por incrível que pareça, continuam a querer xular a miséria e não se incomodam de ver a miséria que é a vida de muitos que com o seu trabalho, contribuíram para a manutenção deste país-padrasto.

jotaC disse...

Caro Drº Tavares Moreira:
Reporto-me ao ponto 8; pergunto:
-Não compreende as medidas agora “assobiadas” porque as acha excessivas face à real necessidade, ou porque são contraditórias com a euforia positiva que o governo tem demonstrado sobre esta matéria!? Agradeço o douto esclarecimento.

Anónimo disse...

O procedimento político explicado:

1. "O que importa é convencer toda a gente que este ano nós faremos aquilo que anunciámos", disse José Sócrates à chegada a uma reunião dos chefes de Estado e de Governo europeus. O primeiro-ministro explicou que o Governo português considerou útil antecipar o anúncio de medidas, que só tinham que ser entregues em final de Março, "para que não haja a mínima dúvida sobre a determinação" de Lisboa."

2. "O ministro dos Assuntos Parlamentares vincou hoje que o PSD é "imprescindível" para a concretização das novas medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), as quais são essenciais para a plena presença de Portugal no euro.".

Hipóteses: 1ª) primeiro o PM comprometeu o PSD perante a Europa e agora vai perguntar a Passos Coelho se ele aprova em nome do partido; 2ª) o líder do PSD já concordou e não sabe; 3ª) o líder do PSD concordou mas ainda não disse nada; 4ª) o Governo é uma entidade desintegrada onde cada um fala para seu lado; 5ª) as medidas foram criadas hoje de madrugada, à pressa e como reacção a algum fenómeno oculto que entretanto aconteceu.

De qualquer modo, parece um caso brilhante de tática política.

Bmonteiro disse...

Relevando os P3-7-8.
Estava escrito nas estrelas.
E em vez de viajar saudavelmente para o futuro, condenados a viajar no tempo e regressar ao passado:
«após um ano de resistência, o governo português desistiu. Em Julho de 1892 suspendeu a amortização da dívida pública externa...»
O Dr Tavares Moreira sentenciou, o Bartolomeu traduziu.
Ambos bem, o que é simplesmente 'lixado'.
Hoje, seria caso para dizer
Que fazer?
E agora?
Tarde, agora é tarde.
Quem tiver gravado, é ir ver como começou o XVII GC (Sócrates I):
uma grande sala de exposições nas TV´s,
um magnífico power point, uma assembleia de grandes empresários,
Portugal do futuro a abarrotar autoroutes, airports & TGV's.
E do antecedente, até uma dezena de 'circus' para os gladiadores da bola em 2004.
Tratemos pois de empobrecer.
A bem do Regime.

Anónimo disse...

Segundo o director do Jornal de Negócios, o governo acaba de inventar a "Poupança Automática dos Portugueses", que ele interpreta como a necessidade de pagar salários em títulos.

Bmonteiro disse...

FlashG
Nos termos do que sintetizou,
parece-me altura de o SG do PSD, denunciar o último embuste do CEO do PS e XVIII GC. Dizer "Basta".
Mesmo que sabendo estar condenado a fazer algo de muito semelhante.
E de o PR actuar em conformidade: despedir o autor desta aldrabice.
Quanto mais tarde pior.
Pese o peso da minha costela de esquerda.

Anónimo disse...

Caro Bmonteiro,

Parece que a minha 5ª hipótese está a ganhar solidez. A Presidência da República informa que não sabia de nada. Ou isto foi um cozinhado de última hora ou há guerra declarada, o que para quem se afirma empenhado em resolver os problemas de Portugal é estranho. Provavelmente não contavam com o "buraco" de hoje e remataram à pressa um cozinhado mal acabado.

Fartinho da Silva disse...

Tanto trabalho para evitar a chegada do FMI e as respectivas consequências...

E não digo mais nada...

Tonibler disse...

O governo teve que responder de forma cabal aos ataques dos especuladores da economia de casino que vitimam, não só o estado social português, como milhares de pessoas no Japão devido ao terramotos, que só os mais distraídos é que não associam à voragem dos capitalistas de Wall Street.

Estava só a fazer uma previsão da crónica do Mário Soares da próxima terça-feira. Mal posso esperar, deve ser de partir a moca!!!!

Anthrax disse...

Tenho a certeza absoluta que todas as famílias carenciadas (e outros que para lá caminham),que lêem todos os dias os jornais económicos e percebem, lindamente, estas cenas das taxas de juros e dos mercados, vão conseguir fazer poupanças. Aliás, acredito fervorosamente que é a primeira prioridade delas todas!

Suzana Toscano disse...

Pareceu-me ouvir o Primeiro Ministro dizer em Bruxelas que ia lá provar que Portugal faria tudo para contribuir para a recuperação da Europa e a salvação do euro...O Ministro das Finanças falou em consolidação do esforço orçamental...

Anthrax disse...

Delírios, minha querida, delírios.
O consumo excessivo de drogas psicodistropticas costuma degenerar nesse tipo de comportamentos... é o que está na Wikipedia pelo menos, para informações mais detalhadas seria preferível questionar o Prof. MC. :)

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Permita-me usar as "virtualidades" do seu post para o comentário que se segue:
As medidas proclamadas pelo governo podem, num acto caridoso, ser apresentadas como a contrapartida de uma negociação mais ampla; numa análise cruel (está na moda desde 4ª)trata-se de adequar o orçamento de 2011 à realidade económica, isto é, corresponde, grosso modo, à provisão necessária para cobrir os efeitos da recessão.
No primeiro caso, o estado de necessidade existe, no segundo, estamos perante a boa e velha ignorância atrelada à incompetência a que já estamos habituados.
Em qualquer dos casos é uma questão de intendência, o que gostaria de realçar é o seguinte:
As medidas foram apresentadas à surrafa em dia de cimeira europeia; pela calada da noite foram comunicadas (?) ao chefe da oposição e, curiosamente, nem, o PR nem, os representantes da nação foram previamente, avisados ou, sequer, consultados.
Nos países ditaturiais, a falta de respeito pelo próximo é inversamente proporcional ao escalão na hierarquia social; a democracia caracteriza-se. exactamente, por ser o inverso do que acima expus.
Permita-me colocar-lhe a prespectiva do norte da europa, quanto ao comportamento do PM.
Tenho, pela frente, um PM que negoceia um conjunto de medidas sem consultar ninguêm, acresce que, este PM, nem sequer tem maioria absoluta.
O que posso esperar das promessas que me fez e das juras que proferiu? na melhor das hipóteses o eleitorado do seu país são uns frouxos e, na pior das hipóteses, não tem como cumprir o que prometeu.
Em qualquer dos casos, o PM não tem qualquer respeito pela democracia nem pelos seus concidadãos; como posso esperar que tenha respeito por mim (norte europeu) e pela palavra dada?
Será que, o país, está à altura das responsabilidades de participar no projecto europeu? Quem, realmente, é esta gente?
Como vê, "isto" que se está a passar vai ter mais consequências do que, à primeira vista, pode parecer.
Por isso é que considero que estamos no acto final de uma, razoável, ópera bufa e, a avaliar pelos comentários supra, os nossos conidadãos não se aperceberam do buraco negro onde estamos.
Cumprimentos
joão

Anthrax disse...

:O!!!!

Estamos num buraco negro??? A sério??? Daqueles que absorve tudo?
OMG!!!! (sigla para a designação inglesa Oh My God! exclamação de pânico e surpresa). E eu que pensava que era só o contexto internacional!

Opá que chatice, estava eu aqui, descansadinha a comer ananases na lua (em conserva é claro, porque com o corte no meu ordenado isto já não dá para comprar o ananás inteiro, já viram a como é que está o quilo do ananás?) e agora aparece-me um buraco negro?!! Não está certo.

Bolas! Agora fiquei triste. Estamos a ser sugados por um buraco negro e não sabemos. Ao menos que fosse uma anã branca, agora um buraco negro... que aborrecido.

Tenho a certeza que o cidadão comum, com uma família para sustentar, compreende perfeitamente a cumbersinha de adequar o OE 2011 à realidade económica.

Bartolomeu disse...

Tudo indica que sim, caro João, que possamos estar a assistir impávidamente, ao acto final de uma opera bufa.
Ninguem duvida contudo, que estamos assistir a um desafio claro e prepotente do primeiro ministro, às restantes forças políticas e sobretudo à figura do Presidente da República.
Seria de elementar justiça, penso, que perante tamanho desrespeito, o PR decidisse demitir o governo, no mínimo, seria esperável que o principal partido da oposição, subscrevesse a moção de sensura ao governo.
Mas não.
Tanto o PSD, como o Presidente da República, vão engolir mais este sapo, apesar de Passos Coelho declarar não aceitar as novas medidas recessivas que Socrates apresenta.
E porquê?
Porque o PSD, partido melhor colocado para suceder a Socrates , no governo, não possui um programa governamental-alternativo, menos contundente que aquele que o governo apresenta. Porque a governar, o PSD teria de adoptar medidas mais rígidas e mais devastadoras para os cidadãos, sempre, sempre, sempre incidentes nos salários e nas regalias sociais de cada trabalhador e de cada reformado e de cada pensionista.
Então que assuma o governo, a despesa.
A coroar esta acção do Primeiro Ministro, a reacção favorável de Ângela Merkle.
Portanto, não tenhamos ilusões, vamos ter Socrates e mais Socrates, até à chegada do Rei D. Sebastião.

Tavares Moreira disse...

Cara Margarida,

No momento em que estou a responder-lhe já é público que estas medidas "delirantes" não deverão ter suficiente apoio parlamentar para serem aprovadas.
Esta perspectiva coloca a questão de saber qual será a sucessão de episódios políticos, muitos deles tremendamente burlescos estou convencido, que vão suceder-se a partir de agora até se encontrar uma solução política que responda à incapacidade do Governo para resolver um problema cuja criação lhe cabe em grande medida...
Em qq caso, dir-lhe-ei que a aplicação de novas medidas de austeridade do tipo das anunciadas poderá ter como efeito uma contracção mais acentuada do que os -1,3% do PIB antecipados pelo BdeP no seu último Boletim Económico.
Será bastante, por exemplo, atentar na parte desse documento em que são discutidos os pressupostos em que assenta a dita previsão.

Caro JotaC,

O ponto que suscitei tem a ver com a contradição entre os anúncios de uma excelente execução orçamental nos dois primeiros meses do ano (porventura precipitados, mas a culpa não é minha...) e logo a seguir a proposta de novas medidas de austeridade...
Como compreenderá, isto não bate certo, não tem lógica e, ao contrário de alguns (agora já menos...) comentadores iluminados, vai revelar-se politicamente suicidário...

Cara Suzana,

Ainda que a sua audição não tenha sido perfeita, pode estar certa que a salvação do Euro e da Europa estão nas nossas mãos...
Essa constatação decorre, logicamente, de sermos hoje, graças aos insondáveis sucessos da política económica dos últimos 6 anos em especial, o motor da economia europeia e o principal garante da solvabilidade externa da zona Euro!

Caro João,

Aprecio sempre seus avisados comentários.
Entretanto passaram algumas horas, o que me permitiu ter cogitado um bocado mais e, nomeadamente, ter repassado algumas declarações governamentais dos últimos dias.
Assim, confesso-lhe que para além das muitas razões tentativamente explicativas deste aparente desvario governamental, tenho de admitir que pode haver uma que se sobreponha às demais.
Essa razão dará pelo nome BPN...veremos se não tenho razão...

Caro Bartolomeu,

Sempre com o maior respeito pelos seus comentários e pela honestidade intelectual com que os apresenta, quero dizer-lhe que, desta vez, não subscrevo em especial a parte final do seu último comentário...

Bartolomeu disse...

Que Deus o oiça (leia), caro Amigo , Tavares Moreira!

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Já ouviu dizer que "Deus escreve direito por linhas tortas!"?
Pode bem ser que nos encontremos perante mais uma aplicação deste velho brocardo...