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domingo, 20 de março de 2011

Lua Grande no Dia do Pai


É lindíssimo olhar o céu numa noite limpa, cheia de estrelas e com a lua a brilhar. No campo, longe dos candeeiros brancos de luz estridente e do bulício que nos prende ao concreto, podemos ficar a olhar o céu durante muito tempo, até o silêncio se deixar ouvir e a abóbada celeste nos envolver no seu esplendor. É incrível como o céu cresce, se alarga e aproxima até tudo desaparecer à nossa volta e nos encontrarmos de repente perdidos naquela imensidão sem caminhos, numa espécie de levitação entre as estrelas, a passar entre elas devagarinho, pé ante pé, para não lhes perturbar a ordem e a quietude cintilante.
Quem me ensinou essa magia de passear entre as estrelas foi o meu pai, sempre fascinado e curioso por esse abismo de mundos que o homem tenta decifrar com os seus telescópios imensos, com estudos, matemáticas e cálculos infinitos, de onde em onde um sobressalto haverá vida noutros planetas, e só houver como será?
Era ele o guia desse exercício de levitação, olha até não veres mais nada senão o céu, mergulhamos nele como no mar, e depois, pai, não nos perdemos, parece tudo igual! As estrelas misturam-se à nossa volta, de repente são milhares, pontilhados minúsculos e caóticos, aqui e ali há uma que parece porto seguro, talvez se nos fixarmos nelas…Deixa, não pares aí, essas não têm graça nenhuma, são sozinhas, se olhares mais longe com atenção vês as formas, um trapézio, um W, um bule, a auto estrada da Via Láctea, procura, procura… Distraíamo-nos no passeio até que passava por nós a correr uma estrela cadente, o primeiro que a visse dizia faz um desejo, faz um desejo!, apanhávamos a boleia e num instantinho voltávamos a casa.
Hoje foi dia de Lua Grande, a maior em 20 anos, fiquei a olhá-la no silêncio do campo ali quase ao alcance da minha mão, lá estavam os olhos, o nariz e a boca, hoje está a rir-se, pai, parece mesmo que quer falar, isso é a tua imaginação, diria ele, só a vês melhor porque a órbita é em forma de elipse e está agora no ponto mais próximo da terra, é o perigeu, quando está no oposto é o apogeu, não te lembras?
Linda!, a Lua Grande, a rir-se tão perto e a iluminar tão intensamente o Dia do Pai.

7 comentários:

Bartolomeu disse...

Se o texto fosse vazio de interesse, salvar-se-ia pela imágem.
Mas não. O texto é lindo, talvez mais até que aquela Lua imensamente prateada que iluminou a noite, os sonhos, as memórias e... tal como esse seu saudoso pai que já partiu -como o meu- mantem-se, guardiã, atenta, aconselhante.
Preduram na memória as palavras sábias e carinhosas que esses homens, imensamente mestres, inventaram para nós.
Excelente, Drª Suzana Toscano!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Muito bonita a viagem pelas estrelas com o Pai, com a Lua carregada de luz e energia, no meio do céu infinitamente grande e profundo.
Sempre gostei de olhar o céu, de imaginar e sonhar as estrelas, descobrir-lhes as formas e marcar o seu sítio, para no dia seguinte as voltar a procurar. A aldeia, longe da poluição, dá-nos o céu e as estrelas para contemplar e pensar a vida.
Bela lembrança do Dia do Pai!

Anónimo disse...

Texto lindo e brilhante como a lua de ontem

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Caros amigos, ainda bem que a beleza da lua grande nos contagiou!
Caro Paulo, agradeço-lhe o presente de todo o coração, não conhecia e parece ter sido feito para eu ouvir, uma, outra e mil vezes. Adorei.

jotaC disse...

Muito lindo, muito sentido...
E já agora, cara Dra. Suzana Toscano, oiça esta música lindíssima, uma das minhas favoritas.

http://www.youtube.com/watch?v=IigRv6B763k

Suzana Toscano disse...

caro jotac, já tinha saudades de ouvir My Father's Eyes, de Erc Clapton!Muito obrigada, já a recuperei para a minha lista. Não deixe de ver o link que o caro Paulo aqui deixou...