Espero. Espero que entrem. Espero que acabe o trabalho. Espero poder ir para a estrada, andar devagar e olhar as margens aquecidas de um rio que corre nos dois sentidos. Olho, sempre a olhar, sempre à espera de um verso, de uma imagem, de um som, de um movimento, de uma lembrança, de um pretexto. Espero, como é habitual. E quando menos espero encontro, o quê, não sei, mas espero encontrar algo que justifique a espera, porque estou sempre à espera de encontrar. Que coisa. Sempre à espera, à espera de descobrir e de ser descoberto. Enquanto espero, escrevo e registo pouca coisa. A senhora entra, é nova, com uma barriga bem empinada.
- É uma menina?
- É!
- Tem todo o aspeto de ser uma menina. Não sei qual é a diferença entre uma menina e um menino na barriga da sua mãe, mas apeteceu-me dizer, e não fui interpelado nesse sentido. Fiquei à espera, porque se fosse, já tinha construído uma resposta que decerto faria sorrir a jovem mãe.
- É o primeiro?
- É.
- Nasce quando?
- Fins de agosto, princípio de setembro.
- E como é que se vai chamar?
- Leonor.
- Não me diga! Está bem arranjada.
- Estou?!
- Ai está, está! As "Leonores" têm uma personalidade muito forte, ninguém lhes faz o ninho atrás da orelha.
- Não me diga! Não é o primeiro que me diz isso.
- Eu sei o que digo, também tenho uma Leonor. Ria-se com boa disposição e a conversa e o exame fez-se à custa do nome da criança e da importância que os nomes têm no desenvolvimento da personalidade de uma pessoa. A sua disposição era mais do que visível. À saída perguntou-me:
- Mas são meigas, não são?
- Se são, são superdeliciosas! Sorriu com tamanha disposição, dizendo:
- Nunca mais me vou esquecer do senhor doutor e do que me disse acerca das "Leonores".
- Espere para ver se tenho ou não razão.
- Nunca mais me vou esquecer desta conversa. Obrigado, senhor doutor.
- Uma boa hora!
Continuo à espera...
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