Na Audiência Geral na praça de
São Pedro no passado dia 5 de Junho, o Papa Francisco centrou a sua meditação
no tema "Cultivar e cuidar da Criação". Um discurso que vale a pena
ler, pela densidade humana que encerra, pelo sentido universal que irradia,
pela profundidade da análise que suscita, pela mobilização que impele. No final
sobressai a rara simplicidade a que o Papa Francisco já nos habituou.
O Papa Francisco chama a atenção
para o domínio da "cultura do descartável" comandada por dinâmicas
económicas e financeiras carentes de ética, em que o que comanda o mundo já não
é o homem, mas tão somente o dinheiro. Os dramas da vida humana ganharam o estatuto
de normalidade, não são dignos de notícia. As atenções mediáticas reagem à
subida das taxas de juro nos mercados financeiros ou à queda das cotações das
bolsas de valores.
O Papa Francisco inquieta-nos,
não nos deveria deixar indiferentes a descrição de um mundo dominado pela
cultura do lixo e do descartável em que as pessoas são tratadas como se fossem
resíduos. Percebemos como é fundamental cuidarmos da "ecologia
humana" e como é perigoso não o fazer...
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de meditar sobre a
questão do meio ambiente, como já pude fazer em diversas circunstâncias,
sugerido também pelo hodierno Dia Mundial do Meio Ambiente, promovido pela
Organização das Nações Unidas, que lança uma vigorosa exortação à necessidade
de eliminar os desperdícios e a destruição de alimentos. (...)
Mas o «cultivar e conservar» não
abrange apenas a relação entre nós e o meio ambiente, entre o homem e a
criação, mas refere-se inclusive aos relacionamentos humanos. Os Papas falaram
de ecologia humana, estreitamente ligada à ecologia ambiental. Estamos a viver
um momento de crise; vemo-lo no meio ambiente, mas principalmente no homem. A
pessoa humana está em perigo: isto é certo, hoje a pessoa humana está em
perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave, porque a causa
do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia,
mas de ética e de antropologia. A Igreja ressaltou isto diversas vezes; e
muitos dizem: sim, é justo, é verdade... mas o sistema continua como antes,
porque o que domina são as dinâmicas da economia e das finanças carentes de
ética. O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda!
E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra não o dinheiro, mas a
nós: aos homens e às mulheres; somos nós que temos esta tarefa! No entanto,
homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é a
«cultura do descarte». Se um computador se quebra é uma tragédia, mas a
pobreza, as necessidades e os dramas de numerosas pessoas acabam por ser
normal. Se numa noite de inverno, aqui perto na rua Ottaviano, por exemplo, uma
pessoa morre, isto não é notícia. Se em muitas regiões do mundo há crianças que
não têm do que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! E
no entanto estas situações entram na normalidade: que algumas pessoas
desabrigadas morram de frio na rua, isto não é notícia. Ao contrário, a
diminuição de dez pontos na bolsa de valores de algumas cidades constitui uma
tragédia. Alguém que morre não é notícia, mas se a bolsa de valores diminui dez
pontos é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem lixo.
Esta «cultura do descarte» tende
a tornar-se a mentalidade comum, que contagia todos. A vida humana, a pessoa já
não é sentida como um valor primário a respeitar e salvaguardar, especialmente
se é pobre ou deficiente, se ainda não é útil — como o nascituro — ou se deixou
de servir — como o idoso. Esta cultura do descarte tornou-nos insensíveis
também aos desperdícios e aos restos alimentares, que são ainda mais
repreensíveis quando em todas as partes do mundo, infelizmente, muitas pessoas
e famílias sofrem devido à fome e à subalimentação. Outrora, os nossos avós
prestavam muita atenção a não descartar nada da comida que sobejava. O
consumismo induziu-nos a habituar-nos ao supérfluo e ao esbanjamento quotidiano
de alimentos, aos quais às vezes já não somos capazes de atribuir o justo
valor, que vai além dos meros parâmetros económicos. Mas recordemos bem que a
comida que se descarta é como se fosse roubada da mesa de quem é pobre, de
quantos têm fome! Convido todos a reflectir sobre o problema da perda e do
desperdício de alimentos, para encontrar caminhos e modos que, enfrentando
seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e de partilha com
os mais necessitados. (...)
Por isso, gostaria que todos nós
assumíssemos seriamente o compromisso de respeitar e conservar a criação, de
prestar atenção a cada pessoa, de contrastar a cultura do desperdício e do
descarte, a fim de promover uma cultura da solidariedade e do encontro.
Obrigado!
5 comentários:
O Papa Francisco está a revelar-se uma personalidade com uma sensibilidade plenamente sintonizada com os problemas que afligem a Humanidade.
A sua voz e o uso que faz da sua imagem, tentando sensibilizar os poderes económicos e políticos, são merecedores de toda a nossa cumplicidade e empenho num movimento coeso e concreto que torne possível alterar o estado de carência de todos os que são vítimas dos poderes ocultos que os querem manter na situação de degradação, fome, doença e escravidão.
Não há esses poderes ocultos, caro Bartolomeu!
Essa teoria dos inimigos externos só serve para desculpar erros próprios.
Nesse caso, Dr. Pinho Cardão, qual, ou quais foram os erros que o Sr e eu cometemos, capazes de causar a fome, a doença e a exploração humana em paises asiaticos, africanos e da américa do sul?
Senhora Dr.ª Margarida Corrêa de Aguiar:
Peço-lhe desculpa por deixar aqui este comentário, mas é para evitar que seja apagado no post a que se destina (tal como foram outros 2 anteriores).
Alem disso, a senhora é também aqui visada, pelo que não é a despropósito que o deixo aqui.
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Sr. Dr. Tavares Moreira:
No meu último comentário, que distribui por um número considerável de posts deste blogue, para evitar que o senhor me cortasse o pio como fez duas vezes há pouco tempo, disse-lhe que não voltaria cá mais.
Faço-o apenas esta vez, EXCEPCIONALMENTE, porque o senhor me interpelou directamente, e pior, numa atitude de ingénuo, qual virgem ofendida que não sabe porque o foi.
Há dias, no seu post «Juros da dívida pública voltam a subir...muita ATENÇÃO...» deixei-lhe esta pergunta: «Sr. Dr. Tavares Moreira: Quer fazer o favor de comentar este pequeno (3,58 minutos) vídeo? http://youtu.be/RFEf9_swh3s E a seguir desmascarar estas «ideias tolas» de José Gomes Ferreira.»
Ao que o senhor respondeu: «Caro Manuel Silva, Irei tentar, irei tentar...»
Percebi logo o seu incómodo pela pergunta, pelo que não respondeu.
Mais tarde, no post «Economia: mais uma importante (NÃO) notícia...» voltei a lançar-lhe o repto e fiz algumas considerações sobre o facto de o senhor andar a vender-nos a ilusão da condescendência dos mercados para connosco, quando os juros continuam usurários, 5,63%, havendo maneiras ao nosso alcance de os fazer baixar.
É essa a questão que José Gomes Ferreira põe ao Dr. Moreira Rato, com a qual ele fica verdadeiramente embasbacado, respondendo NIN, ao passo que o senhor nem me respondeu.
E pior, censurou-me, apagando o meu comentário e indo à raiz da pergunta, o 1.º comentário, apagando-o também.
Perante o meu protesto de ontem repôs o meu 1.º comentário mas sonegou o 2.º.
Ora, tanto o 1.º como o 2.º foram feitos de forma educada, cordata, como faço sempre, pois costumo respeitar os outros para que me respeitam também a mim.
Pelos vistos o senhor nem suporta sequer uma ideia que o contradiga. Lamento.
Esta minha decisão é definitiva, pode crer, com muita pena minha de perder a leitura dos posts de pessoas como Susana Toscano, Margarida Corrêa de Aguiar, Massano Cardoso, José Mário Ferreira de Almeida.
Mas não se pode ter tudo na vida, só para não me cruzar com os seus posts, e encarar o seu nome, não voltarei mais ao 4R.
E poderia fazê-lo, não sob o meu verdadeiro nome – Manuel Silva – mas sob um «nick» qualquer. Mas nem assim.
Será definitiva a decisão.
Agradeço os posteiros referidos aquilo que me deram, embora eu pouco lhes tenha dado com os meus comentários.
Manuel Silva; eu também já havia interpelado o Dr Tavares Moreira acerca do mesmo assunto (a não preferência de aforristas particulares, aos bancos e entidades financeiras) o Dr Tavares Moreira respondeu-me na altura - antes da entrevista de José Gomes Ferreira colocada no Youtube, que os particulares poderiam fazê-lo através dessas entidades. Claro que não era essa resposta a que esperava obter, mas, não insisti. E não o fiz por uma questão de respeito pelo Dr Tavares Moreira.
Em minha opinião, é necessário que nós os leitores e comentadores do blog, consigamos perceber que quem posta, não é responsável pelas decisões do ministro das finanças e do BdP. Eu sei que o Manuel Silva se insurge também contr o sentido que o Dr. Tavares Moreira dá aos seus posts. Fazendo crer que tudo são decisões boas para a finança potuguesa e para a economia.
No entanto, ele tem todo o direito de escrever aquilo que entender e de responder àquilo que entender, da forma que achar melhor.
A nós, assiste-nos um de três direitos: ler e comentar, ler e ignorar, ou, não ler sequer.
Eu, como gosto de conhecer as opiniões de quem, á partida, sabe imensamente mais, opto por lêr tudo, depois, quando comento, e como sou danado prá brincadeira, ironizo sempre que posso. Por vezes, amuo e não comento, porque não responderam ao meu comentário. Outras alturas penso; bah! vou passar somente a ler os posts e a não comentar; afinal, que sei eu para me permitir opinar sobre assuntos que todas estas pessoas sabem muito mais que eu?!
Outras vezes penso: bem, se leio e não comento - mesmo que a opinião no meu comentário vá num sentido totalmente oposto ao expresso no post - demonstro que li e que aquilo que o autor escreveu, motivou a minha reflexão e a minha formaçõ de opinião, possivelmente, aumentou também os meus conhecimentos.
E para finalizar, Manuel, vou confessar-lhe: para mim que já sou velho, este diálogo blogosférico, funciona como um revitalizador para a capacidade de raciocinar e de manter o cérebro activo.
Se não fosse o exercício mental que estes diálogos blogosféricos me proporcinam, não faria outra coisa que andar a perseguir as auxiliares aqui do lar da terceira idade.
Já imaginou, eu, que mal posso andar, a percorrer os corredores, de bengala em riste a babar-me atrás das moçoilas?!
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