Quando me preparava para comentar o extraordinário espectáculo em curso da discussão sobre erros, dúvidas e passa culpas dos mentores e executores dos processos de resgate dos países en dificuldades, dei com este resumo das várias fases em que se desenrolam as Tragédias Gregas. Querem descobrir em que fase do guião nos encontramos na Europa?
Elementos essenciais da Tragédia Grega
Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de uma acção ou comportamento que se assume como um desafio aos poderes instituídos (leis dos deuses, leis da cidade, leis da família, leis da natureza).
Elementos essenciais da Tragédia Grega
Hybris - Sentimento que conduz os heróis da tragédia à violação da ordem estabelecida através de uma acção ou comportamento que se assume como um desafio aos poderes instituídos (leis dos deuses, leis da cidade, leis da família, leis da natureza).
Pathos - Sofrimento, progressivo, do(s) protagonista(s), imposto pelo Destino (Anankê) e executado pelas Parcas (Cloto, que presidia ao nascimento e sustinha o fuso na mão; Láquesis, que fiava os dias da vida e os seus acontecimentos; Átropos, a mais velha das três irmãs, que, com a sua tesoura fatal, cortava o fio da vida), como consequência da sua ousadia.
Ágon - Conflito (a alma da tragédia) que decorre da hybris desencadeada pelo(s) protagonista(s) e que se manifesta na luta contra os que zelam pela ordem estabelecida.
Anankê - É o Destino. Preside às Parcas e encontra-se acima dos próprios deuses, aos quais não é permitido desobedecer-lhe.
Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.
Anagnórise (Reconhecimento) - Segundo Aristóteles, "o reconhecimento, como indica o próprio significado da palavra, é a passagem do ignorar ao conhecer, que se faz para a amizade ou inimizade das personagens que estão destinadas para a dita ou a desdita." Aristóteles acrescenta: "A mais bela de todas as formas de reconhecimento é a que se dá juntamente com a peripécia, como, por exemplo, no Édipo." O reconhecimentopode ser a constatação de acontecimentos acidentais, trágicos, mas, quase sempre, se traduz na identificação de uma nova personagem, como acontece com a figura do Romeiro no Frei Luís de Sousa.
Catástrofe - Desenlace trágico, que deve ser indiciado desde o início, uma vez que resulta do conflito entre a hybris (desafio da personagem) e a anankê (destino), conflito que se desenvolve num crescendo de sofrimento (pathos) até ao clímax (ponto culminante). Segundo Aristóteles, acatástrofe " é uma acção perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes."
Katharsis (Catarse) - Purificação das emoções e paixões (idênticas às das personagens), efeito que se pretende da tragédia, através do terror (phobos) e da piedade (eleos) que deve provocar nos espectadores.
10 comentários:
Quanto a mim, estamos inquestionavelmente no inicio da fase Anagnórise.
Começamos a reconhecer complexos de Édipo nos múltiplos personagens predestinados mais à desdita que à dita, devido a reconhecermos também que os acontecimentos acidentais, trágicos, não se traduzem numa só personagem, mas que se estende a quase todos os atores.
Resta-nos esperar pela entrada em cena do "peregrino" que nos apresente sinais inequívocos de ser o verdadeiro D. João de Portugal, para que o reconheçamos e o aclamemos, evitando passar pela "Catástrofe" e pela "Katharsis"
Ainda não li o texto, que muito promete; fá-lo-ei mais tarde, no entanto, no plano económico, a Europa - e não só - encontra-se no inverno de Kondratiev.
Suzana,
temo bem que se esteja mesmo á beira da "Catástrofe".
Atendendo até a estas declarações de um dos "pontos" da peça:
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=657712&tm=6&layout=121&visual=49
Cara Suzana:
Li e gostei. E vou dar a minha opinião sobre o momento em que estamos. Todavia, o post merece comentário digno e apropriado. Em post que irei redigir para o efeito.
Caro Bartolomeu, também me parece, o modo como o "reconhecimento" é traduzido à praça pública, eu diria com total displicência perante os efeitos causados e, em muitos casos, irreparáveis, leva a temer o pior.
Caro António Barreto, começam a escassear as comparações que dêem algum ânimo!
Caro Pedro, não conhecia essas declarações do ministro alemão mas fiquei chocada com a frieza com que se comenta um desastre que ele acompanhou e apoiou, quem não se lembra dos esforços desesperados do ministro Vinezelos, a tentar conter a violência do castigo infligido a título de punição moral? É realmente aterrador.
Caro Pinho Cardão, este texto pedagógico também me deu que pensar, logo a começar pelo número de tragédias que detectamos e que, em parte, se sobrepuseram, há que lembrar que muitos olharam estes planos de resgate como a fase da "catarse" da tragédia das dívidas soberanas desencadeada em 2008, mas afinal antes da catarse iniciou-se nova tragédia, só que sem a fase da hybris. Para muitos, a catástrofe já se deu, como agora se reconhece ao ponto de senhores até há pouco tão seguros e acusadores virem agora falar de "lavar as mãos" e "atirar a água suja para os outros". Como se apresentará a catarse de tudo isto?
Suzana
Excelente ideia, um exercício nada fácil. Mas ao fazê-lo impressionam-me as Tragédias Gregas Portuguesas!
Já estamos na fase da Catástrofe, mas tenho dúvidas que tenha atingido o seu apogeu, pelo que a fase da Catarse ainda não terá chegado. A catarse implica a consciência de o querer fazer e como. Declarações de erros cometidos sem os corrigir impedem o início da fase de Catarse.
Margarida, quero acreditar que o "reconhecimento" venha a traduzir o firme empenho em evitar o clímax e a catástrofe. Apesar de o tempo correr mais depressa para nós, somos "apenas" uma pequena parte da peça em palco na Europa e o desfecho dependerá em boa parte do que aí se desenrolar. Apesar de esse reconhecimento mais parecer, neste momento, uma tentativa de sair de cena do que a de procurar evitar o destino que ameaça os povos.
O povo está no Phatos e continuará.
Os que escrevem este blog estão na Plateia.
Tavares Moreira não passa de um elemento do sistema financeiro que é frio e insensível e cruel . O sistema financeiro põe todo o mundo a trabalhar para o sustentar . O sistema financeiro é escravocrata e não olha a meios para se impor a todos sem excepção.
Tavares Moreira é...
Esse blá blá de social democracia é isso mesmo , só blá blá.
eu vi o vídeo , quem é aquele moleque que gaguejou o tempo todo ? hum hã ..gu hã gã hum ..sim pois .. ele não estava a entender patavina , quem é aquele moleque ?
Porque o Tavares Moreira apagou o comentário ? Ó Tavares , isto agora é assim ? apagas e pronto ? não perdes pela demora , eu mesmo vou colocá-lo lá e tu podes apagar mas eu recolocarei e vamos ver quem aguenta mais
Enviar um comentário