1. Assistimos nas últimas semanas a oscilações nos preços de mercado dos activos financeiros como já há muito tempo (quase 5 anos) não se via; no caso dos títulos de dívida pública essas oscilações traduziram-se numa forte subida das "yields" (taxas de juro implícitas na cotação dos títulos) e consequente queda dos preços.
2. No caso da dívida pública portuguesa, que já aqui referi, o agravamento das yields da dívida a 10 anos atingiu quase 150 pontos base nas 3 últimas semanas, partindo de 5,2% e atingindo quase 6,7% em meados da semana passada.
3. Estas alterações resultaram da expectativa criada pelas declarações do Presidente do Banco de Reserva Federal (FED) dos EUA, a 22 de Maio último, as quais foram interpretadas como anuncio de uma iminente redução ou mesmo suspensão do programa de compra de dívida, pública e privada, que o FED vem realizando há longo tempo (USD 85 mil milhões/mês) - em aplicação de uma política monetária ultra-acomodatícia - e que contribuiu para uma generalizada e acentuada descida das taxas de juro nos mercados de dívida, nos EUA e não só...
4. Acontece que nos últimos 3 dias a tendência altista das "yields" foi invertida, tendo no caso da dívida portuguesa a 10 anos baixado novamente para um nível próximo de 6,2%.
5. Esta correcção dos últimos dias está associada à expectativa de que o FED venha a clarificar amanhã a sua política, no sentido de que a redução (ou, por maioria de razão, a suspensão) do programa de compra de dívida não está em causa para já e que, quando tiver de acontecer, será feita de modo a não por em causa a estabilidade dos mercados e os interesses da economia...
6. A verdade é que os mercados se tornaram “viciados” nos apoios dos bancos centrais, em especial do FED, de tal modo que se chegou ao ponto de más notícias sobre o desempenho da economia serem hoje recebidas como boas notícias para os mercados, por justificarem a manutenção “sine die” dos apoios dos bancos centrais...
7. Será, pois, que o FED vai voltar a dar-nos a mão, fazendo acalmar os mercados e permitindo, no caso da República Portuguesa, o tão esperado regresso ao mercado da dívida de longo prazo? Amanhã se saberá...
5 comentários:
Caro Tavares Moreira,
A prova da estupidez do BCE está aqui no que escreveu.
Depender dos EUA é um absurdo inaceitável.
Caro Paulo Pereira,
Perdor-me-á o comentário, mas a sua observação peca por dolorosa miopia...
As intervenções do FED, ao abrigo dos sucessivos QE (1, 2 e 3) teriam sempre inevitáveis, óbvias consequências nos mercados de dívida, tanto pública como privada,um pouco por todo o Mundo, até nas economias em desenvolvimento, qq que fosse a política do BCE...
Assim sendo, associar essas repercussões a uma alegada "estupidez" do BCE, e, pior do que isso, brandir uma suposta de+endência dos EUA, afigura-se uma declaração ao mesmo tempo anodina, gratuita e de um requintado mau gosto...
Em conclusão, o que eu escrevi não serve para demonstrar nem a inteligência, nem a estupidez do BCE, pela razão simples de que este fenómeno se verifica independentemente da intervenção do BCE...
Caro Tavares Moreira,
A estupidez do BCE revela-se porque não faz o mesmo que o FED apesar da economia da Zona Euro estar em recessão e a dos EUA em expansão.
Além de que membros preponderantes do BCE além de insistirem na estupidez da acção do BCE propõem que a estupidez seja agravada ou seja que o BCE não continue com a sua timida politica actual .
Acho que o termo estupidez é bem suave face á gravidade da actuação do BCE que poderia até ser interpretada como uma deliberada intenção de sabotar a economia da Zona Euro por opção ideológica.
Caro Paulo Pereira, o BCE limita-se a cumprir os seus estatutos que proibem expressamente a compra de dívida aos países da moeda única. E os estatutos do BCE não cairam do céu. Foram aprovados pelos países membros da moeda única aquando da sua criação. E foram-no por bom motivo, aliás.
Caro Paulo Pereira,
Mas então essa "estupidez" do BCE, em que insiste, nada tem a ver com os impactos da intervenção do FED, como agora se conclui da sua resposta...
Mas já agora, para além da razoável explicação dada pelo comentador Zuricher, já imaginou o que seria se à política ultra-expansionista do FED se viesse juntar uma política de igual calibre do BCE, do tipo da que o Banco do Japão anunciou há pouco tempo?
Estaríamos, com altíssima probabilidade, mergulhados numa bolha especulativa sem precedentes nos mercados financeiros...da qual iríamos sair bem pior do que da crise financeira de 2008/9, tb com altíssima probabilidade...
E o Senhor ainda considera "estupidez" o BCE não nos ter arrastado para uma situação dessas...
"Assusto-me", só de pensar naquilo que seriam, para si, medidas de política monetária inteligentes...
Enviar um comentário