Esta questão dos swaps anda muito mal contada. Sobre o assunto, em 23 de Abril, deixei um post, aqui no 4R, onde expunha muitas dúvidas quanto ao caso. http://quartarepublica.blogspot.pt/2013/04/ainda-os-swapse-outros-produtos-toxicos.html Por mim, que comprei swaps, vendi swaps, estruturei swaps, fiz notas para as empresas sobre vantagens e desvantagens dos derivados, potenciais benefícios e riscos, e sempre enfatizei estes últimos, e não conhecendo sobre os casos apontados mais do que a comunicação social vem referindo, confesso que ainda não percebi o que verdadeiramente está em causa. Nomeadamente se se trata de cobertura de risco de taxa de juro de financiamentos reais e em carteira, e de qual o indexante, ou de coberturas de outros riscos, por exemplo, cambiais, ou de derivados meramente especulativos ou sem “activo” subjacente. Também não se conhecem prazos, nem outras clásulas essenciais. Fala-se em prejuízos potenciais. Para além e não serem reais, eles não podem ser avaliados só por si, no momento actual, mas no condicionalismo das diversas cláusulas. Não é indiferente, por isso, e por exemplo, um prazo de 3 anos ou um prazo de 10 anos. João Duque refere-se a isso, e muito bem. De qualquer forma, há swaps e swaps, como referi no meu post acima citado. E, até por isso, e ressalvando que falo apenas em teoria e sem conhecer os factos, pode acontecer que os juízes de hoje ainda possam ser os "réus" de amanhã. Uma alteração do actual quadro das taxas de juro (se os swaps forem desta natureza)pode alterar radicalmente a situação. Quanto aos Bancos, a música e conhecida: se não negoceiam, são especulativos; se negoceiam, especulativos são. Nada a fazer.
Suzana Tenho estado à espera de poder ler o relatório do IGCP sobre swaps, para perceber que swaps são, taxa de juro ou taxa de câmbio, como foram estruturados, em que é que consiste a toxidade com que foram rotulados (suponho que toxidade seja sinónimo de especulação). Os swaps fazem sentido como instrumentos de gestão do risco financeiro. Têm que ser, como muito bem refere o Dr. Pinho Cardão, analisados em função das circunstâncias. Se por hipótese as taxas de juro invertessem o movimento de descida e voltassem a subir, os swaps continuariam a ser maus? Sim, talvez, para os bancos que agora registam ganhos, mas potenciais. De um momento para o outro, deixariam de ganhar para passarem a perder. Desconfio sempre do mundo a duas cores, não se passa de bestial a besta do dia para a noite, nem de besta a bestial da noite para o dia...
Também me parece estranha a história e cheira-me que é uma daquelas que têm todos razão. O swap pode estar economicamente correcto, como diz o caro Pinho Cardão e, no entanto, estar errado numa empresa pública. Porquê? Desde há uns anos os swaps passaram a ser contabilizados como fair value, o que significa que o valor escriturado inclui não o passado, mas sim o futuro. A razão pela qual os swaps sao feitos, a cobertura de riscos futuros deveria levar à contabilização, também, dos proveitos futuros ou, em alternativa, contabilizar-se os swaps em acrual basis, isto é, apenas o passado. Se bem me lembro isto deixou de ser possível com as normas internacionais, uma imbecilidade criada por burocratas incultos. Isto significa que no registo do swap estará todo o prejuízo futuro mas nos instrumentos que está a cobrir não estarão os proveitos futuros associados ao mesmo risco. O que dá, obviamente, um prejuízo enorme do ponto de vista contabilistico, embora esteja economicamente correcto.
O problema é que as contas vão consolidar no estado e caindo no estado em que boa parte do seu futuro depende da estatîstica e aquilo que é economicamente correcto transforma-se em asneira.
Esta parece-me ser a história. O romance do Duque parece-me um perfeito disparate.
Caro Tonibler, se bem percebo a sua explicação, isso quer dizer que as normas contabilísticas inventadas por burocratas incultos (em número crescente e de vento em pôpa) acabam por nunca permitir mostrar a verdadeira situação financeira das empresas mas sim apenas a contabilidade em cada momento? Mas, a ser assim, os erros de gestão ou as boas decisões são uma espécie de Totoloto....
Sempre foram, cara Suzana. Agora - desde a Enron - são piores devido à fúria reguladora. Aqui estamos a ver swaps que foram feitos, provavelmente bem feitos. Imagine agora aqueles que seriam bem feitos mas não foram.
Eu estive um dia perante um caso semelhante de "faz swap, não faz swap" e nem sequer era um negócio com exposição ao preço do petróleo ou aos juros da dívida pública como é uma empresa de transportes, era muito mais simples. O caso era uma securitização de créditos automóveis, os créditos eram passados a uma sociedade off shore que os empacotava e emitia obrigações a taxa fixa. O dinheiro que recebia depositava no banco a taxa fixa. Como o banco deitava fora taxa indexada e recebia fixa tinha um swap embutido na operação que teria que desfazer por uma questão de risco. Mas não o podia desfazer porque, contabilisticamente, em termos consolidados, o swap iria apresentar prejuízos enormes porque os proveitos futuros não iriam aparecer. A opção do senhor que era vice do banco na altura ( e já não existe o banco) foi : eu não posso dizer ao mercado q vou ter um prejuîzo hoje porque quis salvar o banco amanhã.
Qual é a medida certa? Pois, não é fácil. O melhor mesmo é que quem não sabe, não mexe. A começar, por maioria de razão, pelo estado.
8 comentários:
Esta questão dos swaps anda muito mal contada.
Sobre o assunto, em 23 de Abril, deixei um post, aqui no 4R, onde expunha muitas dúvidas quanto ao caso.
http://quartarepublica.blogspot.pt/2013/04/ainda-os-swapse-outros-produtos-toxicos.html
Por mim, que comprei swaps, vendi swaps, estruturei swaps, fiz notas para as empresas sobre vantagens e desvantagens dos derivados, potenciais benefícios e riscos, e sempre enfatizei estes últimos, e não conhecendo sobre os casos apontados mais do que a comunicação social vem referindo, confesso que ainda não percebi o que verdadeiramente está em causa. Nomeadamente se se trata de cobertura de risco de taxa de juro de financiamentos reais e em carteira, e de qual o indexante, ou de coberturas de outros riscos, por exemplo, cambiais, ou de derivados meramente especulativos ou sem “activo” subjacente.
Também não se conhecem prazos, nem outras clásulas essenciais.
Fala-se em prejuízos potenciais. Para além e não serem reais, eles não podem ser avaliados só por si, no momento actual, mas no condicionalismo das diversas cláusulas.
Não é indiferente, por isso, e por exemplo, um prazo de 3 anos ou um prazo de 10 anos. João Duque refere-se a isso, e muito bem.
De qualquer forma, há swaps e swaps, como referi no meu post acima citado. E, até por isso, e ressalvando que falo apenas em teoria e sem conhecer os factos, pode acontecer que os juízes de hoje ainda possam ser os "réus" de amanhã. Uma alteração do actual quadro das taxas de juro (se os swaps forem desta natureza)pode alterar radicalmente a situação.
Quanto aos Bancos, a música e conhecida: se não negoceiam, são especulativos; se negoceiam, especulativos são. Nada a fazer.
Suzana
Tenho estado à espera de poder ler o relatório do IGCP sobre swaps, para perceber que swaps são, taxa de juro ou taxa de câmbio, como foram estruturados, em que é que consiste a toxidade com que foram rotulados (suponho que toxidade seja sinónimo de especulação). Os swaps fazem sentido como instrumentos de gestão do risco financeiro. Têm que ser, como muito bem refere o Dr. Pinho Cardão, analisados em função das circunstâncias.
Se por hipótese as taxas de juro invertessem o movimento de descida e voltassem a subir, os swaps continuariam a ser maus? Sim, talvez, para os bancos que agora registam ganhos, mas potenciais. De um momento para o outro, deixariam de ganhar para passarem a perder.
Desconfio sempre do mundo a duas cores, não se passa de bestial a besta do dia para a noite, nem de besta a bestial da noite para o dia...
Também me parece estranha a história e cheira-me que é uma daquelas que têm todos razão. O swap pode estar economicamente correcto, como diz o caro Pinho Cardão e, no entanto, estar errado numa empresa pública. Porquê? Desde há uns anos os swaps passaram a ser contabilizados como fair value, o que significa que o valor escriturado inclui não o passado, mas sim o futuro. A razão pela qual os swaps sao feitos, a cobertura de riscos futuros deveria levar à contabilização, também, dos proveitos futuros ou, em alternativa, contabilizar-se os swaps em acrual basis, isto é, apenas o passado. Se bem me lembro isto deixou de ser possível com as normas internacionais, uma imbecilidade criada por burocratas incultos.
Isto significa que no registo do swap estará todo o prejuízo futuro mas nos instrumentos que está a cobrir não estarão os proveitos futuros associados ao mesmo risco. O que dá, obviamente, um prejuízo enorme do ponto de vista contabilistico, embora esteja economicamente correcto.
O problema é que as contas vão consolidar no estado e caindo no estado em que boa parte do seu futuro depende da estatîstica e aquilo que é economicamente correcto transforma-se em asneira.
Esta parece-me ser a história. O romance do Duque parece-me um perfeito disparate.
Pois é caro Pinho Cardão,mas nesta sucessão de réus e de juízes receio bem quem sejam as vítimas permanentes...
Caro Tonibler, se bem percebo a sua explicação, isso quer dizer que as normas contabilísticas inventadas por burocratas incultos (em número crescente e de vento em pôpa) acabam por nunca permitir mostrar a verdadeira situação financeira das empresas mas sim apenas a contabilidade em cada momento? Mas, a ser assim, os erros de gestão ou as boas decisões são uma espécie de Totoloto....
Sempre foram, cara Suzana. Agora - desde a Enron - são piores devido à fúria reguladora. Aqui estamos a ver swaps que foram feitos, provavelmente bem feitos. Imagine agora aqueles que seriam bem feitos mas não foram.
Eu estive um dia perante um caso semelhante de "faz swap, não faz swap" e nem sequer era um negócio com exposição ao preço do petróleo ou aos juros da dívida pública como é uma empresa de transportes, era muito mais simples. O caso era uma securitização de créditos automóveis, os créditos eram passados a uma sociedade off shore que os empacotava e emitia obrigações a taxa fixa. O dinheiro que recebia depositava no banco a taxa fixa. Como o banco deitava fora taxa indexada e recebia fixa tinha um swap embutido na operação que teria que desfazer por uma questão de risco. Mas não o podia desfazer porque, contabilisticamente, em termos consolidados, o swap iria apresentar prejuízos enormes porque os proveitos futuros não iriam aparecer. A opção do senhor que era vice do banco na altura ( e já não existe o banco) foi : eu não posso dizer ao mercado q vou ter um prejuîzo hoje porque quis salvar o banco amanhã.
Qual é a medida certa? Pois, não é fácil. O melhor mesmo é que quem não sabe, não mexe. A começar, por maioria de razão, pelo estado.
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