1. Nas últimas 2 semanas tem-se assistido a uma inversão na tendência de queda dos juros da dívida pública portuguesa, em sintonia com o comportamento de outras dívidas públicas, do Euro e não só.
2. O caso mais notável é até o da dívida pública dos EUA: em duas semanas as yields da dívida a 10 anos passaram de cerca de 1,6/1,7% para 2,11% (ontem) e a 30 anos de 2,8/2,9% para 3,27% (ontem).
3. Na zona Euro as variações mais acentuadas ocorreram nas yields da dívida dos “periféricos”: dívidas irlandesa, italiana, espanhola, portuguesa e grega foram bastante afectadas por este movimento, com agravamentos de cerca de 50 bps nos 3 primeiros casos e de cerca de 80 bps nos casos das dívidas grega e portuguesa (já de braço dado?).
4. Na origem desta inversão generalizada no comportamento dos mercados de dívida está a expectativa, na sequência de declarações do seu presidente Bernake no Congresso, de mudança da política ultra-acomodatícia (também chamada de Quantitative Easing ou QE) que o Banco de Reserva Federal (FED) tem vindo a executar desde há vários anos...
5. ...declarações que deixaram no ar a ideia de que o FED, face à acumulação de sinais de retoma da economia americana, em especial a persistente redução do nº de desempregados e a forte recuperação do mercado imobiliário, poderia em breve rever a calibragem da política de QE, reduzindo os montantes de compras de dívida, pública e privada (ainda em USD 85 mil milhões/mês).
6. Esta política do FED, como aqui já temos referido, contribuiu decisivamente para manter em níveis muito baixos as yields das dívidas pública e privada no mercado americano (e não só...), tendo facilitado a milhares de empresas o acesso a financiamento em condições muito mais favoráveis dada a enorme importância do marcado de capitais americano no financiamento da economia (que contrasta com o mercado de financiamento na Europa, em que os bancos assumem um peso muito maior).
7. Assim, uma eventual alteração do FED a esta política de estímulo monetário, reduzindo ou no limite cessando mesmo o programa de compra de dívida, terá inevitavelmente um forte impacto nos mercados de dívida, fazendo subir as taxas...e perante tal perspectiva, os mercados antecipam tal movimento como seria de esperar.
8. Apesar da “desculpa” deste (poderoso) factor externo, a subida das yields da dívida pública portuguesa, hoje já cima de 6,1% para o prazo de 10 anos – quando há duas semanas chegaram a aproximar-se de 5,2% - deveria ser (obviamente não vai ser) motivo de séria reflexão em Portugal, muito em especial para os simpáticos, mas perigosamente naive, Crescimentistas...
9. Se continuarmos a barafustar por tudo e por nada – e, neste particular, as ondas de greves que se aproximam, de fortíssima inspiração política, bem como o estado absolutamente DELIRANTE de grande parte da comunicação social, nomeadamente pública, não auguram nada de bom...
10. ...ainda nos aguardam sérias dores de cabeça, nomeadamente com um regresso ao mercado da dívida bem mais difícil que há pouco tempo se admitia...muita ATENÇÃO, pois...
9 comentários:
"9. Se continuarmos a barafustar por tudo e por nada – e, neste particular, as ondas de greves que se aproximam, de fortíssima inspiração política, bem como o estado absolutamente DELIRANTE de grande parte da comunicação social, nomeadamente pública, não auguram nada de bom..."
Ainda bem que há homens clarividentes como o Senhor.
Faltou identificar outros protagonistas do "bota a baixo" e "Maria vai com as outras". Alguns são os se sempre, mas outros são da geração a substituir (não encontrei identificação mais antipática), de que eu esperava mais senso e humildade que a idade deveria conferir. E não estou a falar do Dr. Mario Soares ou do Sócrates que defendem interesses concretos. Estou a falar de pessoas da área do PSD que estão a emperrar este processo de regresso à normalidade.
Caro Tavares Moreira,
Aqui está uma boa razão para evitar os mercados e emitir divida directamente como parte dos pagamentos do estado.
Como o Ilustrissimo aqui escreveu há umas semanas, onde pára o BCE ?
Caro Agitador,
Não posso deixar de compreender e de subscrever a observação que faz...
Mas já não posso dizer o mesmo em relação ao epíteto de clarividente que amavelmente me dedica: é que não me considero nem clari, nem vidente, e muito menos clari+vidente!
Caro Paulo Pereira,
Desacordo total e absoluto em relação à sua primeira observação.
Muito bem visto, é o comentário que posso fazer em relação à segunda observação!
Sr. Dr. Tavares Moreira:
Quer fazer o favor de comentar este pequeno (3,58 minutos) vídeo?
http://youtu.be/RFEf9_swh3s
E a seguir desmascarar estas ideias tolas de José Gomes Ferreira.
A sensação que fica é que os ventos sopram de todos os lados e os países - ou as dívidas e os juros. - andam à deriva...
Caro Manuel Silva,
Irei tentar, irei tentar...
Cara Suzana,
Mas é sempre assim que os mercados funcionam - os mercados funcionam por sinais, se lhes damos sinais errados é problema nosso - "nós" é que "nos" convencemos de que sabemos tudo, muito mais do que os outros, mas na hora de fazer as contas...ficamos sempre a perder!
Caro Tavares Moreira,
Eu entendo bem que discorde em absoluto com a colocação de divida directa pelo estado como parte dos pagamentos do estado.
Seria uma ação que demonstraria a capacidade de qualquer estado tem de obter parte da sua soberania monetária.
Alem disso demonstraria que o sistema actual de submissão aos mercados á custa da sociedade é uma opção ideologica.
Caro Paulo Pereira,
Eu não discordo coisa nenhuma, pode estar certo! O que penso é que a solução avançada padece de uma impossibilidade técnica, isso nunca poderá funcionar.
Não há submissão aos mercados nem meia submissão, nem ideologias nem nada disso: há simplesmente coisas que funcionam e outras que não!
É bem mais simples do que lhe possa parecer!
Caro Tavares Moreira,
Qual a impossibilidade técnica de pagar 5 a 10% dos valores do estado com titulos ?
No tempo em que os sistemas bancários e financeiro não eram totalmente electronicos e desmaterializados poderia ser complicado.
Hoje em dia é simples.
Mas depreendo que à parte a questão pratica, concorda com o principio , já que não defende a subjugação aos mercados ?
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