Quando penso nos responsáveis pela atual crise económica e financeira mundial, imagino homens, e mulheres, de meia-idade ou já entradotes com os problemas usuais de saúde: hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, obesidade, sedentarismo, excesso de consumo de álcool e de tabaco, enfim, um conjunto de características próprias daquelas idades.
Mas por que raio é que embarcaram nessa aventura que acabou por nos atingir, sobretudo os mais desprotegidos? Só pela ganância? Foram atacados por algum vírus desconhecido? Alguma questão psiquiátrica? Andaram a consumir “drogas”? É muito pouco provável que se trate de algum destes motivos, tantos e tantos são os safardanas que nos meteram neste buraco. No entanto, há um fator comum a todos que é o facto de serem especuladores compulsivos acreditando que as tais “mais-valias” (nem sei se devo chamar isso!) nunca mais iriam acabar.
Mas o caráter impulsivo não é mais próprio dos jovens e das pessoas saudáveis? O pessoal já entradote caracteriza-se pelo equilíbrio, por atitudes racionais e é parca em aventuras. Às tantas, alguma das medicações que andam a fazer para tratar a saúde poderá ter tido um papel importante. E foi precisamente um colega norte-americano que começou a especular como sendo um “efeito” das estatinas, as tais drogas miraculosas que reduzem o enfarte do miocárdio, que tanto receio provoca nos decisores. Esta tese, que é original e meramente especulativa, baseia-se no facto de estas drogas terem, também, efeitos secundários, entre os quais, tudo aponta, perturbações cognitivas, que vão desde a simples perda da memória à demência, nalguns casos, e a tendências impulsivas, além de outras mais conhecidas. Mas haverá alguma conexão entre o crush mundial e o uso, ou melhor, o abuso das estatinas? Não sei, nem me interessa de momento, até, porque vão ser necessários mais estudos para provar essa associação. O que interessa aqui focar é o comportamento “colesterolfóbico” que anda por aí.
É sabido que as pessoas com colesterol elevado correm riscos de virem a sofrer um acidente cardiovascular. Sob o ponto de vista científico é inquestionável, mas o problema que se começa a colocar é se “todas” as pessoas com colesterol normal ou não muito elevado necessitam ou não desta terapêutica. Posso já adiantar que não, outras atitudes de caráter preventivo tais como a dieta, o exercício físico e o abandono do cigarro são mais do que suficientes. Estas poderosas armas terapêuticas deverão ser guardadas para os que já sofrem de doença vascular e para os que apresentam valores francamente anómalos. Mas o que está em jogo é muito mais do que propriamente o interesse pela saúde pública, é sobretudo o interesse financeiro. De facto, a principal fonte de lucro das empresas farmacêuticas prende-se com este grupo de medicamentos que só em 2006 propiciou qualquer coisa como 26 mil milhões de dólares! Quanto mais pessoas tomarem este produto mais lucro a indústria obtém.
Médicos e cidadãos entraram no jogo. Com base em inúmeros estudos, e através da informação, diria mais “publicidade”, prestada à comunidade, passámos a mamar estatinas como se fossem tremoços ou amendoins.
Sendo assim, e devido à falta de autorregulação farmacêutica, começa a surgir uma corrente de opinião contra o uso indiscriminado, ou, se preferirem, “excessivamente alargado” das estatinas.
Recordo que há ainda poucos anos, acompanhei uma campanha pública nos jornais, revistas e outdoors que tinha como objetivo informar o público, mas que acabou por ajudar a criar, e a estimular, uma verdadeira “colesterolfobia” com o beneplácito de associações científicas. Nesta campanha o colesterol era apontado como o mafarrico da saúde. Claro que faz mal, mas é preciso ter tento no juizinho e não reduzir o colesterol para valores cada vez mais baixos, caso contrário, as tais alterações cognitivas, a segunda complicação mais importante provocada por esta classe de drogas, podem aumentar de forma assustadora. Não podemos esquecer que todas as células do nosso organismo, que se contabilizam por dezenas de triliões, necessitam desta substância e que só o cérebro, que representa 2% do nosso peso, “consome” 25% de todo o colesterol. Ora, sem colesterol o cérebro não funciona como deve ser e se não funcionar corretamente deve sair asneira. Deste modo, aconselho, para já, os “especuladores” a deixarem de tomar estatinas, a comerem bons presuntos, mariscos, ovos, caviar, ovas, enchidos, mioleira, queijos, carnes vermelhas, enfim tudo o que seja mais rico possível em colesterol de modo a diminuir os seus “impulsos”, e se morrerem de ataque cardíaco, paciência, pelo menos evita que nós, os outros, entrem em stresse poupando-nos a eventuais enfartes fulminantes.
Isto anda mesmo bonito! Anda, anda!
Mas por que raio é que embarcaram nessa aventura que acabou por nos atingir, sobretudo os mais desprotegidos? Só pela ganância? Foram atacados por algum vírus desconhecido? Alguma questão psiquiátrica? Andaram a consumir “drogas”? É muito pouco provável que se trate de algum destes motivos, tantos e tantos são os safardanas que nos meteram neste buraco. No entanto, há um fator comum a todos que é o facto de serem especuladores compulsivos acreditando que as tais “mais-valias” (nem sei se devo chamar isso!) nunca mais iriam acabar.
Mas o caráter impulsivo não é mais próprio dos jovens e das pessoas saudáveis? O pessoal já entradote caracteriza-se pelo equilíbrio, por atitudes racionais e é parca em aventuras. Às tantas, alguma das medicações que andam a fazer para tratar a saúde poderá ter tido um papel importante. E foi precisamente um colega norte-americano que começou a especular como sendo um “efeito” das estatinas, as tais drogas miraculosas que reduzem o enfarte do miocárdio, que tanto receio provoca nos decisores. Esta tese, que é original e meramente especulativa, baseia-se no facto de estas drogas terem, também, efeitos secundários, entre os quais, tudo aponta, perturbações cognitivas, que vão desde a simples perda da memória à demência, nalguns casos, e a tendências impulsivas, além de outras mais conhecidas. Mas haverá alguma conexão entre o crush mundial e o uso, ou melhor, o abuso das estatinas? Não sei, nem me interessa de momento, até, porque vão ser necessários mais estudos para provar essa associação. O que interessa aqui focar é o comportamento “colesterolfóbico” que anda por aí.
É sabido que as pessoas com colesterol elevado correm riscos de virem a sofrer um acidente cardiovascular. Sob o ponto de vista científico é inquestionável, mas o problema que se começa a colocar é se “todas” as pessoas com colesterol normal ou não muito elevado necessitam ou não desta terapêutica. Posso já adiantar que não, outras atitudes de caráter preventivo tais como a dieta, o exercício físico e o abandono do cigarro são mais do que suficientes. Estas poderosas armas terapêuticas deverão ser guardadas para os que já sofrem de doença vascular e para os que apresentam valores francamente anómalos. Mas o que está em jogo é muito mais do que propriamente o interesse pela saúde pública, é sobretudo o interesse financeiro. De facto, a principal fonte de lucro das empresas farmacêuticas prende-se com este grupo de medicamentos que só em 2006 propiciou qualquer coisa como 26 mil milhões de dólares! Quanto mais pessoas tomarem este produto mais lucro a indústria obtém.
Médicos e cidadãos entraram no jogo. Com base em inúmeros estudos, e através da informação, diria mais “publicidade”, prestada à comunidade, passámos a mamar estatinas como se fossem tremoços ou amendoins.
Sendo assim, e devido à falta de autorregulação farmacêutica, começa a surgir uma corrente de opinião contra o uso indiscriminado, ou, se preferirem, “excessivamente alargado” das estatinas.
Recordo que há ainda poucos anos, acompanhei uma campanha pública nos jornais, revistas e outdoors que tinha como objetivo informar o público, mas que acabou por ajudar a criar, e a estimular, uma verdadeira “colesterolfobia” com o beneplácito de associações científicas. Nesta campanha o colesterol era apontado como o mafarrico da saúde. Claro que faz mal, mas é preciso ter tento no juizinho e não reduzir o colesterol para valores cada vez mais baixos, caso contrário, as tais alterações cognitivas, a segunda complicação mais importante provocada por esta classe de drogas, podem aumentar de forma assustadora. Não podemos esquecer que todas as células do nosso organismo, que se contabilizam por dezenas de triliões, necessitam desta substância e que só o cérebro, que representa 2% do nosso peso, “consome” 25% de todo o colesterol. Ora, sem colesterol o cérebro não funciona como deve ser e se não funcionar corretamente deve sair asneira. Deste modo, aconselho, para já, os “especuladores” a deixarem de tomar estatinas, a comerem bons presuntos, mariscos, ovos, caviar, ovas, enchidos, mioleira, queijos, carnes vermelhas, enfim tudo o que seja mais rico possível em colesterol de modo a diminuir os seus “impulsos”, e se morrerem de ataque cardíaco, paciência, pelo menos evita que nós, os outros, entrem em stresse poupando-nos a eventuais enfartes fulminantes.
Isto anda mesmo bonito! Anda, anda!
2 comentários:
Grande análise, caro Professor Massano Cardoso, aliás, como sempre.
Dá que pensar e remete-nos para a evidência do reconhecimento do cerco em que nos deixámos enredar.
Remédio!?
Mandar isto tudo às urtigas, tornar-nos objectores de consciência política e social, desmobilizando-nos dos actos públicos, da voluntariedade e da cidadania? (eu sei que não a esta conclusão que o seu texto pretende chegar).
Ou... esperar paulatinamente o surgimento da tal tão desejada e necessária 4ª República!?
Sim, claro que ha uma terceira opção, que sendo contrária em tudo à primeira, culmina na segunda.
;)
Obrigadíssimo caro professor, por toda a lucidez colocada nos escritos que nos oferece.
Senhor professor:
De facto o peso da indústria farmacêutica e do dinheiro, tem muito, senão tudo, a ver com a perscrição das mais variadas drogas para a cura de "todas" as doenças incuntindo nas pessoas a fobia dessas mesmas doenças.
Ao ler este "post" de Vª.Exª, não resisto em contar um episódio relacionado com o colesterol e que se passou comigo.
Aqui há uns 15, 20 anos ao passar por umas instalações do SLAT (só as refiro por serem de um organismo público)verifico que se está a proceder a um rastreio ao colesterol levado a efeito por determinada empresa (hoje não recordo qual)e sob o patrocínio de um conhecido cardiologista.
Na altura (teria 45 a 50 anos) não exitei e submeti-me ao controlo, muito por curiosidade pois até aí não tinha efectuado qualquer medição dessa natureza. Como resultado, após a análise sanguínea, saí de lá com veredicto de colesterol elevado e com um documento (receita)para aviar na minha farmácia, isto a exemplo de práticamente todos os outros que como eu se tinham submetido ao rastreio.
Rapaz bem mandado e assustado, lá fui à farmácia. Porém, à entrada, encontrei um médico amigo que me interroga sobre a razão daquela visita.Expu-la em breve resposta e imediatamente me foi mandado suspender o avio da receita e submeter-me a novo controlo por ele requisitado em laboratório privado. Aceitei a proposta, fez-se o controlo e veio a verificar-se que, na altura, o meu colesterol estava dentro de valores razoáveis que não justificavam a tomada do medicamento.
Perante isto perguntei-me e pergunto-me, como é possível este tipo de acções em colaboração, mesmo que ingénua, com instituições e técnicos credenciados? É para pensar...
Para terminar, devo dizer que hoje estou à beira de completar 65 anos, tomo estatinas mas estou muito sèriamente a pensar em rever esta situação pois os meus níveis de colesterol não ultrapassam em muito os níveis médios estabelecidos. Continuo (sem abusar) a comer o meu presuntinho e a beber o meu "copinho" mas necessito urgentemente de arranjar vontade para fazer exercício.
Queira o Sr. Professor aceitar os meus respeitosos cumprimentos e a minha consideração.
Salvador Silva
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