1. Nesta bem poética expressão – "rays of hope, pockets of gloom" – se pode sintetizar o que se passa hoje com a economia mundial, dos USA até à China e ao Japão, passando pela Europa.
2. Diversos indicadores apontam nesta altura uma clara melhoria de clima económico em relação ao que prevalecia no final do ano passado – e só passaram 4 meses...
3. Tomando como exemplos a confiança dos consumidores americanos, o mercado imobiliário nos USA, a confiança dos empresários na Alemanha, alguma animação da economia chinesa – para não falar da aparente estabilização do sistema financeiro e da impressionante recuperação dos mercados accionistas, cujos índices se encontram em terreno francamente positivo em relação ao início do ano - a situação mudou para bastante melhor nos últimos 4 meses, não restam grandes dúvidas.
4. Temos pois “rays of hope” bem visíveis no horizonte, aparentemente num crescendo prometedor...
5. Ao mesmo tempo, porém, continuamos a assistir ao generalizado aumento do desemprego, ao encerramento de muitas unidades industriais e à redução da actividade de muitas outras, a quebras muito acentuadas na procura de bens duradouros e de bens de investimento, à continuação da crise profunda de muitos mercados imobiliários, embora com ritmos de abrandamento menores...
6. Temos pois ainda “pockets of gloom” um pouco por toda a parte, nomeadamente na Europa e no Japão, onde a crise parece ter vindo para residir por mais tempo do que nos USA e noutras importantes economias da Ásia...
7. É preciso ter presente que uma crise da extensão mundial e da profundidade da que tem atingido as economias não se resolve em “duas penadas” como certos teóricos do optimismo “pacóvio” quase todos os dias nos querem induzir a pensar...
8. A saída duma crise económica como esta supõe três andamentos: (i) desaceleração do declínio económico, (ii) estabilização da actividade e (iii) retoma da actividade uma vez percebida pela generalidade dos agentes económicos que a estabilização tem bases sólidas...
9. Estaremos nesta altura já bem dentro do 1º andamento, assistindo-se a uma clara desaceleração (não tanto entre nós, infelizmente) do ritmo de declínio em diversos sectores, desde serviços até à construção habitacional/comercial...
10. Resta saber, porque esta crise tem características muito peculiares, qual será o tempo necessário para se passar ao 2º e depois ao 3º andamentos...só em 2010? Antes de 2010? É possível que até seja antes, mas é inútil confundir desejo com realidade...
11. Um ponto muito importante para a qual o Presidente da Reserva Federal chamou hoje a atenção: qualquer percalço no processo de estabilização do sistema financeiro poderá implicar um enorme atraso para os 2 andamentos seguintes...
12. Tenho a noção de que nesse particular a situação não é ainda satisfatória e que algumas autoridades nacionais preferiram apoptar umas medidas de remendo a enfrentar o problema de forma estrutural, aberta e decisiva...a ver vamos...
13. Mas venham mais "rays of hope"!
2 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Qual o perigo de se chegar ao terceiro patamar sem se ter o segundo bem assente? Ou por outras palavras, quais as consequências em caso de mau deleveraging?
Caro André,
Não existe esse tipo de perigo...por definição não se pode passar do 1º para o 3º...é como na condução de um automóvel em aceleração passar de 60 kms/hora para 180 kms/hora sem passar por 100, 120, 140...
Pode haver a tentação de se pensar que já se chegou ao 3º patamar quando ainda nem se saiu do 1º...isso é outra coisa e, nesse caso, a consequência é não se sair mesmo do 1º...
Podemos estar a incorrer nessa ilusão neste preciso momento, pelo que se está passando nas bolsas de valores...
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