Estudos efetuados em esqueletos do Neolítico revelam que os nossos antepassados, que viveram há cerca de 7.000 a 8.000 anos, não tinham capacidade de digerir o leite. Hoje, cerca de noventa por cento da população que vive no norte da Europa, Médio Oriente e nalgumas comunidades africanas têm essa capacidade em grau variável. Mas nas restantes regiões do globo continuam a não poder usufruir dessa capacidade.
Beber leite sem ter o enzima necessário para digerir a lactose origina um quadro clínico bem conhecido – Intolerância à Lactose – caracterizado por mal-estar abdominal e diarreia.
O facto de não haver elementos que confirmem a presença desse gene na pré-história indicia que os nossos avós não utilizavam o leite. Aliás, a única espécie que bebe leite fora da idade própria é a humana.
Como é que apareceu esta tolerância? Segundo uns, deveria existir já uma mutação nesse sentido mas que por falta de força da seleção natural ainda não tinha capacidade de mostrar a sua importância. Outros, apontam para aquilo a que podemos chamar um comportamento lamarckiano, em que a exposição ao leite teria originado o aparecimento da tolerância. Só após o início da atividade da criação dos animais é que começou a surgir este fenómeno, que se revelou altamente vantajoso, há 9.000 anos, passando os seres humanos a ser a única espécie a beber leite fora da idade própria.
A capacidade para digerir leite fresco deve-se a um simples gene autossómico dominante. Esta circunstância facilita o seu predomínio, comparativamente aos genes autossómicos recessivos. Se a capacidade de absorver a lactose garantir, por hipótese, mais 5% de probabilidade em termos de sobrevivência, e a sua prevalência for inicialmente de 1% então podemos calcular que são necessários 325 gerações para atingir uma prevalência de 90% como se verifica nalgumas zonas do globo, nomeadamente no norte da Europa, o que corresponde a 8.000 anos de evolução, o que bate certo com o início da atividade da pastorícia.
A mutação ocorrida no gene que permite a tolerância à lactose ilustra o fenómeno de seleção natural ocorrida nos “nossos tempos”, e com uma velocidade notável. Afinal, há indícios de que a evolução continua a sua marcha.
Uma mutação feliz que deverá ter ocorrido na antiga região da cultura Funnel Beaker, onde se instalaram os primeiros agricultores da Europa do Norte.
No entanto, tudo aponta para que tenham ocorrido mutações similares, e independentes, em África, há cerca de 4.5000 e 3.000 anos.
Neste continente não se observa este gene, exceto nos povos pastores os quais apresentam um certo grau de tolerância. Compreende-se que entre estes povos (Quénia e Tanzânia) o uso do leite seria uma forma de suplemento alimentar muito importante que evitaria a fome, além de não correrem perigos de infeção. Uma verdadeira assinatura genética da evolução.
A hipótese cultural-histórica parece ser a mais correta para explicar um dos fenómenos mais curiosos da nossa evolução recente.
Nas zonas do globo onde não existe cultura do uso dos produtos lácteos, como é o caso da China, a prevalência do gene é muito baixa.
Beber leite é beber uma bebida livre de parasitas e de gérmenes, fornece energia, fornece cálcio, fornece proteínas, ou seja, é um alimento completo que desempenha uma papel muito importante quando as forças seletivas ambientais, tais como a fome, acabam por se manifestar, permitindo a sobrevivência.
Em síntese, o estudo da prevalência da tolerância à lactose é um bom exemplo da seleção natural. Desempenhou nestes últimos milénios um papel muito importante, mas, convenhamos, hoje em dia, face à produção alimentar, justificar-se-á que se mantenha esta mutação? Será correto enviar produtos lácteos para as zonas do globo em que a intolerância é uma realidade? Haverá outras vantagens no uso do leite em idades mais avançadas? Poderá contribuir para minimizar o fenómeno da osteoporose tão comum nas sociedades ocidentais em consequência do envelhecimento? Será que a absorção do cálcio poderá contrabalançar a tendência anti-hipertensiva verificada nas pessoas de mais idade? Neste caso poderá explicar, pelo menos em parte, o aumento da prevalência da hipertensão arterial nos povos do sul e os que vivem mais perto do equador, os mesmos que apresentam maior intolerância à lactose. Será que possa ter dado um contributo importante no combate ao raquitismo? Nas zonas mais nórdicas, havendo menos exposição ao sol, produzir-se-ia menos vitamina D, vitamina indispensável para a correta utilização do cálcio. O leite, sendo um dos produtos mais ricos em cálcio, ao ser digerido e utilizado pelas crianças após o desmame e durante a vida adulta, poderia contribuir para uma absorção mais eficaz do cálcio, concedendo aos portadores do gene que permite a tolerância à lactose mais hipóteses de sobrevivência.
Evolução. Sempre presente!
Beber leite sem ter o enzima necessário para digerir a lactose origina um quadro clínico bem conhecido – Intolerância à Lactose – caracterizado por mal-estar abdominal e diarreia.
O facto de não haver elementos que confirmem a presença desse gene na pré-história indicia que os nossos avós não utilizavam o leite. Aliás, a única espécie que bebe leite fora da idade própria é a humana.
Como é que apareceu esta tolerância? Segundo uns, deveria existir já uma mutação nesse sentido mas que por falta de força da seleção natural ainda não tinha capacidade de mostrar a sua importância. Outros, apontam para aquilo a que podemos chamar um comportamento lamarckiano, em que a exposição ao leite teria originado o aparecimento da tolerância. Só após o início da atividade da criação dos animais é que começou a surgir este fenómeno, que se revelou altamente vantajoso, há 9.000 anos, passando os seres humanos a ser a única espécie a beber leite fora da idade própria.
A capacidade para digerir leite fresco deve-se a um simples gene autossómico dominante. Esta circunstância facilita o seu predomínio, comparativamente aos genes autossómicos recessivos. Se a capacidade de absorver a lactose garantir, por hipótese, mais 5% de probabilidade em termos de sobrevivência, e a sua prevalência for inicialmente de 1% então podemos calcular que são necessários 325 gerações para atingir uma prevalência de 90% como se verifica nalgumas zonas do globo, nomeadamente no norte da Europa, o que corresponde a 8.000 anos de evolução, o que bate certo com o início da atividade da pastorícia.
A mutação ocorrida no gene que permite a tolerância à lactose ilustra o fenómeno de seleção natural ocorrida nos “nossos tempos”, e com uma velocidade notável. Afinal, há indícios de que a evolução continua a sua marcha.
Uma mutação feliz que deverá ter ocorrido na antiga região da cultura Funnel Beaker, onde se instalaram os primeiros agricultores da Europa do Norte.
No entanto, tudo aponta para que tenham ocorrido mutações similares, e independentes, em África, há cerca de 4.5000 e 3.000 anos.
Neste continente não se observa este gene, exceto nos povos pastores os quais apresentam um certo grau de tolerância. Compreende-se que entre estes povos (Quénia e Tanzânia) o uso do leite seria uma forma de suplemento alimentar muito importante que evitaria a fome, além de não correrem perigos de infeção. Uma verdadeira assinatura genética da evolução.
A hipótese cultural-histórica parece ser a mais correta para explicar um dos fenómenos mais curiosos da nossa evolução recente.
Nas zonas do globo onde não existe cultura do uso dos produtos lácteos, como é o caso da China, a prevalência do gene é muito baixa.
Beber leite é beber uma bebida livre de parasitas e de gérmenes, fornece energia, fornece cálcio, fornece proteínas, ou seja, é um alimento completo que desempenha uma papel muito importante quando as forças seletivas ambientais, tais como a fome, acabam por se manifestar, permitindo a sobrevivência.
Em síntese, o estudo da prevalência da tolerância à lactose é um bom exemplo da seleção natural. Desempenhou nestes últimos milénios um papel muito importante, mas, convenhamos, hoje em dia, face à produção alimentar, justificar-se-á que se mantenha esta mutação? Será correto enviar produtos lácteos para as zonas do globo em que a intolerância é uma realidade? Haverá outras vantagens no uso do leite em idades mais avançadas? Poderá contribuir para minimizar o fenómeno da osteoporose tão comum nas sociedades ocidentais em consequência do envelhecimento? Será que a absorção do cálcio poderá contrabalançar a tendência anti-hipertensiva verificada nas pessoas de mais idade? Neste caso poderá explicar, pelo menos em parte, o aumento da prevalência da hipertensão arterial nos povos do sul e os que vivem mais perto do equador, os mesmos que apresentam maior intolerância à lactose. Será que possa ter dado um contributo importante no combate ao raquitismo? Nas zonas mais nórdicas, havendo menos exposição ao sol, produzir-se-ia menos vitamina D, vitamina indispensável para a correta utilização do cálcio. O leite, sendo um dos produtos mais ricos em cálcio, ao ser digerido e utilizado pelas crianças após o desmame e durante a vida adulta, poderia contribuir para uma absorção mais eficaz do cálcio, concedendo aos portadores do gene que permite a tolerância à lactose mais hipóteses de sobrevivência.
Evolução. Sempre presente!
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