O novo jornal “i” dedica duas páginas centrais à magna questão dos salários dos políticos, com uma fotografia central do Parlamento - com as bancadas vazias - e outra com a fotografia e especificação dos salários e respectivos aumentos de vários políticos. O título, do lado esquerdo ao alto da página, é feito para suscitar o escândalo: “o maior aumento da última década”! O subtítulo diz duas coisas: que o aumento custará meio milhão de euros e que “na banca e empresas as remunerações vão baixar”. Na página da direita, vem o título supostamente simétrico ou seja que, por contraste, “os gestores privados vão ganhar menos”. Mas lendo o subtítulo, vê-se que Paulo Azevedo vai ganhar “menos 10% e Zeinal Bava menos 17,7%” e nas duas colunas em que se desenvolve o lado “privado” dos salários não há uma única referência a valores concretos. Ou seja, menos 10% de quê? Menos 17,7% em quanto? Do mesmo modo, as duas páginas são omissas quanto a comparações anteriores, como congelamentos durante anos seguidos, políticas de contenção que há anos vêm tornando cada vez menos atraentes os cargos políticos e menos competitivos os cargos dos altos dirigentes da administração pública e ainda ao sistemático estreitamento do leque salarial na administração pública, resultante da necessidade de não penalizar tanto os salários mais baixos. Ao longo do mesmo período, o que se assistiu nalgum sector privado foi precisamente ao absurdo dos valores de alguns prémios de gestão, como agora se denuncia com o ruído com que há pouco se aplaudiam, à diferença intolerável dos ordenados de directores em relação ao dos quadros técnicos e ao recrutamento dos jovens mais qualificados atraídos pelas perspectivas de progresso salarial ao longo da carreira.
Este é um tema que devia começar a ser tratado com alguma seriedade, fora da esquadria simplista dos "bons e dos maus", que gera descrédito e não contribui em nada para dignificar as funções públicas e para legitimar que se espere que os melhores dêem o seu contributo.
Este é um tema que devia começar a ser tratado com alguma seriedade, fora da esquadria simplista dos "bons e dos maus", que gera descrédito e não contribui em nada para dignificar as funções públicas e para legitimar que se espere que os melhores dêem o seu contributo.
É pena que um jornal que agora se estreia se limite a replicar a velha forma superficial e enganosa de abordar esta questão. É que nem todas as notícias verdadeiras esclarecem um tema, também se mente quando não se diz a verdade toda…
8 comentários:
Cara Suzana,
O problema é que é tudo verdade e há, de facto, uma diferença substancial. É que o ordenado do Bava é um problema dos accionistas da PT que, se não gostarem e estiverem em minoria, vendem e investem noutra coisa. O ordenado dos deputados é um problema dos cidadãos, que não podem deixar de o ser, e cujos fundos lhes são subtraídos compulsivamente. Pior, a PT tem capitais próprios que permitirão essa retribuição, o país vive de crédito e em défice, o que significa que os políticos se aumentaram de dinheiro que já não havia para coisas muito mais importantes, abusando do poder que lhes foi cedido.
Retirar compulsivamente dinheiro a terceiros para proveito próprio, tem nome. Quando esses terceiros estão em dificuldades crescentes, tem um nome agravado. Se a diferença de salários entre o Bava e a menina do call center é chocante, muito mais chocante é o facto de ter deputados a aumentarem-se quando há pessoas a irem para a porta do centro de saúde às 5 da manhã na esperança de ter consulta nesse dia. A menina do call center pode sempre escolher outro emprego, essas pessoas não vão sobreviver à falta de cuidados médicos porque os senhores deputados resolveram aumentar-se a si próprios. Se a menina do call center vai perder o emprego com o prémio do Bava, as pessoas do centro de saúde vão morrer por causa do aumento dos salários dos deputados. Há, de facto diferenças, que temos que discutir com seriedade. E, seriamente, do ordenado do Bava, nem eu nem a Suzana temos nada a ver.
Por isso, concordo que se trate o tema com seriedade e talvez me convençam que é preciso ter deputados que ganhem mais que o salário mínimo. Porque é que os deputados ganham mais que o salário mínimo, se no fim do dia, fazem de tudo menos ser deputados a tempo inteiro? Aliás, porque é que têm salários, porque é que não têm meras senhas de presença?
Se reduzissem os salários para metade, as listas ficavam vazias? Baixar a qualidade dos deputados é impossível, por isso, qualidade não me parece ser tema...
Caro Tonibler, os deputados são eleitos pelo povo. Não podemos esquecer que o povo tem também responsabilidade no que se passa a dois níveis: 1) quando vota nos partidos em que vota; 2) quando não milita em partidos políticos para internamente ajudar a escolher quem merece. Temos exactamente o país que merecemos.
Cara Dra. Susana,
Para quando uma listagem das tarefas dos senhores deputados ? Listagem acessível a todo o cidadão português...
Ver notícia:
"Auxiliares obrigados a listar tarefas"
http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=732E07D1-F613-4D19-A378-DDFB63FD6633&channelid=ED40E6C1-FF04-4FB3-A203-5B4BE438007E
Para quando uma avaliação de desempenho dos senhores deputados ?
Não acha que temos deputados a mais ? Pra quê tanta gente ?
Por mim só ficava 1/3 dos deputados da AR, proporcionalmente distribuídos pelas diversas forças partidárias e de acordo com os resultados eleitorais.
E passariam os cidadãos a votar por referendo, as leis. Por "pacotes". tipo .... suíça.
Poupavam-se tantas "maçadas" aos deputados, coitados, que "são tão" mal pagos.....
:-)
Cumprimentos,
Boa semana.
Com toda a honestidade, quando leio aquele cartaz que diz “não brincamos aos políticos” fico a pensar como é possível um deputado subscrever tão grande disparate. Eu entendo que o mentor do dito queira fazer a diferença, é esse o seu papel, mas fazer a diferença insinuando que todos os outros brincam aos políticos, parece-me que não dignifica a sua própria condição.
Por tudo isto, e mais o que não digo, acho que há quem ganhe muito e quem ganhe pouco…
Caro TAF,
O facto de lhe roubarem a carteira quando está distraído, não desculpa o ladrão, só lhe dá culpa a si.
Caro Tonibler, quando precisa de alguém para lhe trabalhar para si oferece um salário baixo, sujeitando-se a quem o aceite, porque quer gastar pouco ou procura uma pessoa capaz, a quem possa exigir, mesmo que isso implique que lhe pague um salário adequado? O problema público ou privado é exactamente o mesmo, com a pequena diferença de que muitas vezes se espera (vá lá saber-se porquê) que no público se trabalhe bem e com cada vez menos, tudo o que se gaste parece mal gasto mas afinal quando alguma coisa corre mal a indignação surge como se se estivesse à espera de um desempenho de excelência. Não, caro Tonibler, não somos bons patrões para o sector público, o estranho é que exigimos um bom serviço. Quanto à imagem que usou para ilustrar o caso, quero acreditar que nem o caro Tonibler leva a sério esse exemplo...
Concordo, caro TAF, é isso mesmo.
Cara Pezinhos, posso pedir um dia a um deputado que a deixe acompanhá-lo num dia de trabalho, se tiver curiosidade, agora não é um trabalho de operário, com rotinas de entrada e saída e objectivos de produção diária. Mas que são avaliados, claro que são, quer maior avaliação que o voto?
Caro jotac, é claro que há sempre quem não merece o que ganaha, isso é como em todo o lado, mas a questão é saber se é por esses que devemos marcar a bitola, e eu acho que não é.
Cara Suzana,
Estamos a falar dos políticos, não estamos a falar do sector público(para quando a lei que proíba os funcionários públicos de exercer cargos políticos???). Estamos a falar dos nossos representantes, não dos nossos criados. Quando os nossos representantes começam a comportar-se como criados, é nessa altura que se lhes tira o dinheiro.
A imagem é real, o bolo é o mesmo.
Cara Dra. Susana Toscano, muito grata pela atenção que me deu e pelo convite. Mas evito as "más" companhias .....estou a ironizar, claro....:-))))
Hoje no Fórum da TSF o debate foi:
A relação entre os partidos e os cidadãos
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=1230423
retirei quase aleatoriamente, um excerto de um comentário de um participante online (iniciativa por sinal muito interessante da TSF, de colocar o forum da manhã na net)
"... Os deputados deviam ser deputados a tempo inteiro, com um horário semelhante a toda a função pública, das 9 às 18h. Não ganham o mesmo por isso se tiverem de trabalhar para além disso, que assim seja.
Não se compreende como é que os deputados assinam o livro de presença e assim que um colega seu começa a falar no plenário metade dos deputados saia e vá fazer seja lá o que for. Se numa reunião de trabalho de uma empresa 1 trabalhador se ausentasse sem dar justificação, alguém o iria chamar a atenção de tal forma que não se repetia a gracinha.
Qual foi a penalização para os deputados que sairam mais cedo da assembleia antes do feriado ? O que levou à falta de deputados para haver deliberação ?
É por estas razões que os deputados são vistos como oportunistas e não como representantes do povo, levando que pessoas competentes se afastem da ambição de serem deputadas porque não se querem confundir com o que o deputado, infelizmente, representa aos olhos do povo. O senhor Presidente da Assembleia que os meta na ordem.
Outra questão é o facto de para além do Presidente da Assembleia (numero 2 da nossa republica) haverem deputados com carro de serviço, acho inadmissível, se lhes querem dar carros, que dêem mas opel corsas ou smarts que também andam, agora BMW serie 5?? É uma vergonha."
Se tiver um pouco de tempo, Cara Dra., vale a pena ler os comentários dos participantes, na citada página.
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