O regresso de férias mergulha-nos de novo na abundância de notícias sobre a realidade nacional vista na perspectiva ditada pela leitura apressada de relatórios tornados públicos, de números, contas e de estudos vários, tudo muito bem baralhado e decantado para dar belos títulos, de tal modo que nunca se consegue ao certo fazer uma ideia clara da situação das empresas que vão estando na berlinda mediática ou política. Um dos temas favoritos é sem dúvida o dos vencimentos dos gestores, ora drasticamente reduzidos ora escandalosamente elevados, consoante o objectivo da notícia, de preferência comparando quanto ganham os “novos” com quanto “custaram” os que saíram. Mas não me lembro de ter visto publicada a avaliação concreta do desempenho desses cargos em função dos objectivos que necessariamente lhes estavam fixados e em função dos quais lhes eram também atribuídos os prémios de gestão entretanto suspensos, assim como não tenho encontrado absolutamente nada sobre os novos objectivos que, comparados com os anteriores, deverão agora ser prosseguidos pelos que vão agora assumir funções com novas remunerações. É que o que “custaram” as administrações avalia-se em função do que fizeram em relação ao que deviam ter feito e o que se “poupa” no futuro se verá com o que forem capazes de fazer os novos responsáveis. Comparar salários e ignorar tudo o resto, tirando a reacção epidérmica e bastante demagógica, diz muito pouco sobre a economia de meios. A escolha pelo mérito é essencialmente isto, a capacidade de alguém realizar o que se fixa para uma organização, e o que dita a economia de meios é a fundada expectativa de que se consiga fazer mais e melhor com menos dispêndio. Para isso, é preciso saber o que estava a ser feito, o que se alcançou e o que vai ser agora exigido. O ponto de partida – vencimentos incluídos – e o ponto de chegada. Ou seja, só no fim dos mandatos se avaliarão as poupanças e os prejuízos, o mérito não se vê na admissão mas nos resultados, e o reconhecimento ou a crítica deviam ser parte integrante deste “pacote”. Mas parece que não há casamento possível entre as notícias de umas e de outras, por isso só sobra a confusão e o descrédito destruidor de tantas instituições e dos muitos que nelas trabalharam, como se tudo se resumisse a uma dança de salários sem mérito, sem critério e sem objectivos. É pena, assim não é fácil melhorar.
3 comentários:
É verdade. Foram-se as férias voltamos ao mesmo círculo de sempre. Retomamos o mesmo ponto. Nada se alterou...
Suzana
A bem da transparência e para evitar a demagogia e a desinformação os contratos de gestão deveriam ser conhecidos – se é que existem - assim como os resultados. O desempenho dos gestores deveria ser medido e divulgado, não apenas por razões de justificação salarial, mas porque é importante que no final dos mandatos seja feita um justo reconhecimento ou justa penalização do trabalho produzido. Ora, não é isto que acontece e na sua ausência outros critérios sem critério têm lugar com o único objectivo de satisfazer a curiosidade do escândalo que não existe mas que é fácil de criar.
Estou-me a lembrar de um caso recente. A Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Um relatório do Tribunal de Contas que me dei ao trabalho de ler elogia o magnífico trabalho feito pelo conselho de administração. Nem uma palavra foi noticiada a este respeito pela comunicação social, que achou muito mais mediático noticiar umas centenas de euros de despesas identificadas como insuficiência de justificação, denegrindo assim a imagem dos gestores e desqualificando a sua competência e o trabalho que deixaram feito na instituição.
Pois é, Margarida, à falta de avalições sérias prevalecem os julgamentos fáceis.
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