Não tem sido bonito ver Mário Crespo despedir-se do espaço noticioso que conduz na SICN referindo-se à RTP, sobretudo após a divulgação de carta por si subscrita (cuja autenticidade não vi desmentida) afirmando veementemente o seu interesse em voltar a trabalhar para a estação pública. Claro está que do outro lado (do lado da RTP e não só...) não tardaram reações do mesmo calibre das provocações de Mário Crespo num lamentável espetáculo de arremesso de lama.
O panorama mediático assenta hoje muito nestes fenómenos de vedetismo. Cada pivot deixou de ser um apresentador da notícia, um dinamizador do debate, um facilitador da revelação do facto. Apresenta-se como ator, quando não parte da própria notícia. Ou condiciona o debate com a sua opinião, quebrando a neutralidade que se espera de um mediador. E não raro se assiste a paineis de discussão exclusivamente entre jornalistas que minutos antes narravam o facto que momentos depois analisam e comentam sob o ponto de vista da sua perspetiva individual, agora no estatuto de estrelas.
Há quem aprecie o estilo. Há quem julgue natural que sejam apresentados em gigantescos cartazes como vedetas de telenovela (numa aproximação à realidade, diga-se). Há até quem aponte o outro lado do atlântico onde, dizem, reside o verdadeiro jornalismo que é assim, baseado na capacidade opinativa do jornalista e não tanto na competência para anunciar o facto nas suas diferentes vertentes, deixando o juizo sobre a sua bondade ao destinatário. Mas eu, que nunca amei as pátrias do sol, fossem a oriente ou sejam a ocidente, continuo a prefirir a moral do velho e sábio provérbio: cada macaco no seu galho.
3 comentários:
De facto, o estilo não aprecio por aí além. Mas devo dizer que face à enorme campanha que o patrão e chefes dele estão a fazer, sem dar a cara, em sentido contrário, devo dizer que dá uma mostra de enorme independência e de um volume hortícola. Se o verdadeiro jornalismo é este, duvido porque a insistência num facto é a omissão de outros. Que me é simpático, isso sem dúvida nenhuma.
O problema é que há mais macacos que galhos.
Caro Ferreira de Almeida:
Tenho por vezes criticado, aqui no Blog, a RTP, não enquanto empresa, mas enquanto má prestadora do chamado serviço público.
Mas a atitude de Mário Crespo não é informação, é mera propaganda. Má propaganda, misturada com informação, o que é bem pior. Não é admissível. Mas, neste país, tudo se vem permitindo.
Caro Tonibler:
Levanta uma boa questão. Mas a deontologia profissional devia arredar da informação essas matérias. Sobretudo no modo.
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