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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Extraordinary popular delusions and the madness of crowds

1. Nas expressivas manifestações populares de indignação do fim-de-semana, não consegui vislumbrar nenhum sinal de protesto contra os abusos incomensuráveis de despesa pública praticados ao longo de sucessivos anos de má governação que, como bem sabemos, constituem o principal factor da amarguíssima situação em que o País se encontra e da tão indesejável como inevitável austeridade a que estamos sujeitos.
2. E, salvo um ou outro impropério ou a produção de alguns grafitti nas fachadas de edifícios – fruto de natural aversão aos banqueiros maus-da-fita - também não me apercebi de que os manifestantes tenham expressado indignação pela imoderada expansão do crédito bancário, nomeadamente após a adesão à maravilha do Euro, que induziu centenas de milhares de famílias para níveis de endividamento indecorosos, de que agora não conseguem libertar-se...
3. E também não vi ninguém referir-se com animosidade ao logro enorme que foi a adesão ao Euro acompanhada por desastradas políticas económicas que, reiteradas ao longo dos anos subsequentes até 2010 (com o brevíssimo intervalo de MFL), nos lançaram na espiral de endividamento colectivo e no quase CAOS financeiro em que estamos mergulhados...
4. Ou seja, não vi nenhuma manifestação de protesto, que seria inteiramente justificada, contra os FACTOS e POLÍTICAS causadores da aflitiva situação para que fomos arrastados e contra os principais responsáveis por TAIS POLÍTICAS...as queixas focaram-se exclusivamente nas tentativas de cura (eventualmente mal calibradas ou pensadas, admito)...e, obviamente, nos forçados curandeiros, nacionais e internacionais...
5. Com uma formidável cobertura mediática a condizer, privilegiando a excitação delirante como instrumento de reportagem – de que foi exemplo caricato a descoberta de um falso “imolado pelo fogo” - este espectáculo fez-me recordar um livro que li já há alguns anos, cujo título é o deste POST, da autoria de Charles Mackay, 1ª edição de 1841, no qual são narrados, de forma verdadeiramente fascinante, múltiplos episódios de famosos enganos colectivos...
6. ...desde a crença nas maravilhas de alquimistas medievais até enormes burlas financeiras ocorridas nos séculos XVII e XVIII, em que populações inteiras se deixaram iludir ou seduzir por falsas curas, promessas de prosperidade ou ilusórios tesouros, incensando burlões ou charlatães da pior espécie, que invariavelmente desaguaram em enormes frustrações sociais...
7. A história repete-se, repete-se sempre. Estamos pois preparados, seguramente, para acolher novo engano colectivo, é só aparecer o protagonista adequado. Recomendo, a quem tiver oportunidade, a leitura do livro de Charles Mackay.

24 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Caro Tavares Moreira,

Eu estive lá, e vi. Vi de tudo: vi os que queriam o fim do governo, os que queriam a manutenção do governo "mas assim não", vi cartazes alusivos às despesas que fala no seu post, vi de t-u-d-o.

Eram mais de 500 mil e estava lá tudo. Ou seja, estava lá Portugal todo.

Não vá por aí...

Jorge Lucio disse...

Caro Tavares Moreira,

De acordo quanto à sua crítica quanto à evidente memória selectiva que se observa hoje. Mas o "monstro" do crescimento da despesa pública vem de longe, diria que desde a adesão à CEE. Sócrates tem as costas muito largas, independentemente do desvario de 2009-10...

Mas o meu comentário vai mais para a sua nota sobre os "pobres dos banqueiros maus-da-fita" e a "imoderada expansão do crédito bancário": quem é que a criou??

Podemos dizer que o mercado particular pediu esta expansão, mas lembra-se de algum banco ter remado contra a maré, a dizer que estávamos numa espiral insustentável? Ou todos ficaram satisfeitos, todos actuaram do mesmo modo, a ver a "bottom line" engordar? Quem é que devia ter parado para pensar?

No fim de contas, não foram os bancos que com belos acrónimos como CDSs ou CDOs - validados por gente inatacável como o profeta Greenspan - criaram o subprime? Os resultados colaterais como os Maddoff e Lehman foram criados por quem?

Acha mesmo que no momento de contratação de um empréstimo acima das suas possibilidades, as famílias, em resposta aos "amanhãs que cantam" dos bancos, tinham capacidade de discernimento? E teriam de saber que, em simultâneo, haveria milhares de outras famílias a fazer o mesmo, e que tal estava a criar uma pressão insuportável sobre a banca nacional em termos de endividamento externo? A quem caberia esta verificação?

A minha conclusão: o sistema financeiro tem responsabilidades nesta situação. E não são pequenas!

Tavares Moreira disse...

Caro Carlos Monteiro,

Se lá este e viu, não serei eu a desmenti-lo, fico certo que assim foi.
Mas para quem só viu pelas reportagens, nada se viu...
Em qualquer caso, o grande mote foi e continua a ser contra as curas (sem prejuízo dos erros de que enfermem, repito) nunca contra as causas!

Caro Jorge Lúcio,

Terá lido o Post com outros olhos, o que lá está é uma crítica directa aos bancos que foram grandes responsáveis pelo brutal excesso de endividamento das famílias portuguesas e pelo contributo do sector privado para o enorme desequilíbrio da economia nacional.
Os bancos foram canalizar recursos do exterior, endividando-se pesadamente, para conceder crédito em condições super generosas às famílias...induzindo estas numa espiral de endividamento de que agora não conseguem libertar-se a não ser com enormes custos sociais...
E nem sequer foi preciso o sub-prime para tamanho disparate...
Já agora, se quiser fazer o favor, corrija a expressão "pobres dos banqueiros maus da fita" - o "pobres dos" está a mais, não foi isso que escrevi.
E para mim nem são pobres, são paupérrimos...

Pedro disse...

TaveresMoreira,
(e desculpa a provocação...)

o tal livro vale mesmo a pena...ou é apenas um "engano colectivo" de quem o lê?

isto é...a culpa quando há enganos colectivos...é dos enganados ou de quem os enganou ?

supostamente, e em teoria, os enganados geralmente não teem consciencia de o tarem a ser.

Já os que enganam, teem a perfeita noção de que estão a enganar...e enquanto puderem ,irão certamente insistir!


Já agora: Acredita mesmo que a Economia vai melhorar em 2013 ? ia jurar que tinha ouvido isto no Pontal! Seria mais um "engano colectivo" ?

Jorge Lucio disse...

Confirmo: o "pobres" é da minha lavra, mas a colocação das aspas pode sugerir o contrário, peço desculpa.

Mas lá que os banqueiros têm gostado de se apresentar como aqueles que apenas cumpriram ordens, como se fossem simples bancários.... (sem desprimor para estes!).

Tonibler disse...

A manifestação era de pessoas que acham que a dívida se deve pagar mas não deve ser paga por elas. Um pouco à imagem daquilo que foi dito na sexta-feira à noite e tem sido a posição geral dos responsáveis pelos poderes do estado português, do legislativo ao judicial.

Não entendi no fim se a conclusão é que a dívida deve ser paga por mim. Se calhar isso subentende-se, se os beneficiários da despesa pública não vão pagar, se os que não são beneficiários também não...

Também concordo que se está a perder o espírito de Abril, porque depois de não sei quantas eleições legislativas ainda há uma carrada de gente que acha que não teve nada a ver com aquilo que os políticos fazem, o que revela que se calhar a democracia ainda não chegou aos pontos mais recônditos do país, como Odivelas ou Campo de Ourique.

Dos manifestantes, eu acho que têm razão. Acho que devem esperar que a dívida seja paga pelo Sócrates, pelos especuladores da economia de casino, pelo BPN, pelas PPP's, pela Merkel, pelo Sarkozy em férias e pela banca em geral. E por mim, claro. O que eu sugeria era que escolhessem outro sítio para esperar que não a Praça de Espanha, primeiro porque faz falta a quem trabalha e, depois, para esperarem pelo telefonema do banco a dizer que o ordenado e o subsídio de desemprego não caíram é melhor fazerem-no em casa.

Carlos Monteiro disse...

Cruz,

Há poucos com a capacidade de ser mais demagogos que tu. As pessoas têm estado a pagar.

E tu, tens?

Tavares Moreira disse...

Caro Pedro,

Não provoca nada, esteja à vontade, isto é uma tribuna livre...
Eu recomendo a leitura do livro, acho que vale bem a pena, alguns episódios são verdadeiramente fascinantes quanto à capacidade de enganar com que certas pessoas foram dotadas... e de ser enganado que as sociedades revelam quando seguem o "herd behaviour".
Quanto à economia em 2013, se for verdade que passa de uma queda (da actividade) de -3% em 2012 para -1%em 2013, os matemáticos poderão dizer que melhora, os cepticos que por este andar nunca mais lá vai, os pacíficos e pacientes que será uma evolução insuficiente mas no sentido do positivo...
Não sei em que categoria se insere...
Se ouviu alguma coisa no Pontal, terá sido em 2011 ou anos anteriores, creio que este ano a feira mudou de local...como nunca lá fui, nada posso comentar a esse respeito.

Caro Jorge Lúcio,

Se os banqueiros cumpriram ordens, eles lá sabem...mas nesse caso devem esclarecer qual a origem das ordens que receberam, para que não se fique a pensar ainda pior da sua acção...

Caro Tonibler,

Na esteira do seu apurado raciocínio, eu diria que uma grossa fatia dos manifestantes abraça fervorosamente a tese que está inscrita em cartazes do clarividente Bloco: "cortem na dívida, não nos salários".
Eu confesso-lhe que depois do anúncio dos € 50 mil milhões (30% do PIB) que o lider do PS diz que vai conseguir arrecadar com um novo imposto sobre transacções financeiras (em base onírica, certamente), creio poder estar mais descansado quanto ao pagamento da dívida.

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Caro Tavares Moreira,

Então o meu amigo aconselha livros cuja versão kindle é gratuita!?

Assim ninguém lê...

Aconselhe um livro que custe pelo menos, mais de 40€. Se o pagode paga isso por um livro de um génio galáctico como Miguel Sousa Tavares. Imagine quanto valerá esse das mad "cows"...

Cumprimentos, IMdR

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Caro Carlos Monteiro,

Os 500 mil, como conseguiu contá-los?

Via excel do Tonibler?

Ou apareceu na National Geographic com música assustadora?

Cumprimentos, IMdR.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

30% do PIB é ... 3 vezes 6... ora as transacções são... é fazer as contas.


Se a alminha soubesse como é que o PIB é medido saberia a dimensão da calinada que mandou. Mas como estamos em época do tiro aos patos e andam a cair que nem tordos (grande trocadilho ornitológico!) Mas a nossa tragédia não anda pelos grito dos ignorantes, esse é inocuo...


Pinho Cardão disse...

Caro Jorge Lúvio:
Diz que "Sócrates tem as costas muito largas, independentemente do desvario de 2009-10...", referindo-se à despesa pública.
Acontece que os anos de 2009 e 2010 foram apenas o clímax, pois em nenhum dos seus anos de governação cumpriu o défice de 3% do PIB. Em 2005, o défice foi de 6,5%, de 4,6%em 2006, de 3,2%, em 2007, de 3,7% em 2008, de 10,2% em 2009, de 9,8% em 2010. Os défices acumulados nesses anos foram 63,3 mil milhões de euros!...
Como é que se pode dizer que Sócrates tem as costas largas?
A magnanimidade é uma grande virtude; mas só se pode ser magnânimo para quem reconhece o erro. Sócrates nunca reconheceu. E o Partido Socialista também não.

Pinho Cardão disse...

Caro Tonibler:
Para a opinião pública sensata ou esclarecida António José Seguro praticou ontem hara-kiri público. Suicidou-se frente às câmaras.
Mas muita da opinião publicada é por demais ignorante ou cega. Alguém fez referência a essa impostura de obter 50 mil milhões de euros no imposto sobre as transacções financeiras?
Mas nada é de admirar no PS. Não dizia o secretário de Estado de Mário Lino, de nome Paulo Campos, que não havia problema nenhum com o endividamento da Estradas de Portugal, já que daqui a 70 anos o equilíbrio estava assegurado?
Pois foi esses pessoal que nos governou, ou que deixámos que nos governasse.

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

o nosso problema não são estes zés-ninguém. Estes são produto dos partidos porque compreendem bem "o mercado do voto". O verdadeiro problema está naqueles que estão embrulhados em sofisticação, em cátedras de pseudo-ciência ou com embrulhos de seriedade sóbria. Esses são o verdadeiro problema porque esses produzem verdadeiras avalanches de asneira. Os outros são tão pequenos que ninguém lhes liga.

Tavares Moreira disse...

Caro IMR,

Mas M. S. Tavares também escreve? Confesso que não sabia, fico com curiosidade em ler algum dos seus livros, qual me aconselha?
Quanto à contagem de manifestantes não se preocupe, tanto faz 400 ou 500 mil como 1 milhão, é como a arrecadação do imposto sobre transacções financeiras do SG/PS, tanto podem ser € 50 mil milhões como ele diz ou 50 cêntimos - como feitas as contas não vai arrecadar coisa nenhuma, não há qq prejuízo com esse exercício de confabulação numérica...

Guilhotina disse...


A responsabilidade é dos governos que nos governam desde o 25 de Abril, isto , do PSD,PS,CDS. Os responsáveis pela gestão danosa da coisa pública deviam ser chamados à justiça e condenados como vulgares ladrões e traidores de Portugal.

Tavares Moreira disse...

Justiça popular é o que sugere, caro Bonaparte? Se não for, onde vai buscar o sistema de justiça para aplicar essas medidas sancionatórias, a Marte?

Jorge Lucio disse...

Caro Pinho Cardão,

Eu não desculpo Sócrates, nem o seu desvario, nem a falta de reconhecimento dos erros.

Mas olhando para os números que indica (6.5% - 4.6% - 3.2%, de 2005 a 2007), poder-se-ia falar de uma tendência sustentada de diminuição, até ao início da crise financeira de 2008, não é?!

E, já que fala na falta de "mea culpa", porque é que ainda não ouvimos da parte do PM/Ministro Gaspar uma explicação para o que correu mal em 2012? Um desvio do défice previsto de 4.5% para mais de 6%, na "Escala Sócrates" teria que classificação?

Sísifo disse...

O Tavares Moreira não viu...

Eu vi um mar de gente a protestar contra as políticas deste governo. E note-se que, até agora, não houve protestos dignos de registo com as medidas tomadas até à TSU. E Estamos a falar de cortes generalizados para todos em 2011, cortes de dois vencimentos para a FP, aumento brutal de todos os impostos, do IMI, do imposto automóvel, do desemprego, etc., etc., etc.

A malta suportou tudo isso, só que agora achou que era demais. E porquê? Porque lhe disseram que iam sofrer, mas que haveria resultados. Um imbecil disse mesmo há tempos que 2012 seria o início da recuperação; outro imbecil disse, há 3 semanas, que em 2013 já haveria crescimento.

3 semanas depois, o mundo mudou, tal como no tempo do Sócas, e afinal vamos continuar em recessão.

É normal que o povo se chateie.

Tavares Moreira disse...

Caro Sísifo,

Eu vi o que vi, não posso inventar o que não vi...
Também não me apercebi que a grande manifestação de insatisfação popular fosse dirigida contra a alteração do cenário económico de 2013, de crescimento 0% (média anual) para crescimento -1%...
Fico com a impressão de que o reporter Sisifo navega nas mesmas aguas panfletárias da generalidade da comunicção social, mas pode ser só impressão minha, pode nem ser verdade...

Sísifo disse...

Tavares Moreira, cada um, pelos vistos, vê o que quer e o amigo tem visto o que lhe interessa.

Curiosamente, não «desmentiu» nada do que escrevi, antes optou por uma imagética oca a balofa.

E acabem lá com essa do «crescimento negativo», uma palermice oximórica linguística.

Sísifo disse...

O Blair, por sua vez, assume a arrogância de afirmar que os manifestantes eram aqueles que queriam que a dívida fosse paga, mas não eles, pelos outros.

O sardanápola ignora, por exemplo, os desempregados que participaram na coisa e que foram dos primeiros a pagar pela dívida.

Não há pachorra para estes merdilheiros.

Tonibler disse...

Cara Sisifo, não é uma questão de arrogância, é mesmo por ser superior. E já me deixei de sardanápolas desde a minha adolescência.

Ah, percebi, não estão a dizer que querem que eu pague a dívida, foram porque estão desocupados, é isso? Já agora, recebem subsídio de desemprego que é pago por quem?

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Terá sido este Sisifo o "pândego" que fingiu imolar-se pelo fogo?
O argumentário do cavalheiro tem uma conotação própria de quem anda em permanente labareda! Safa!