A programação de Guimarães, Capital Europeia da Cultura, presidida por
Jorge Sampaio, resolveu fazer o Funeral de Portugal Continental. Data: 17 de
Agosto de 2012. Um caixão, com a forma de Portugal, percorreu ruas de
Guimarães, e a cerimónia teve como oficiante o programador Miguel
Januário.
Naturalmente que o povo se recusou a sair à rua para ver tão macabra,
ofensiva e reles manifestação. Cem pessoas, dizem os jornais. Contando
certamente com os que foram apanhados de surpresa na rua. Mas a logística
preparada a preceito por um Laboratório com o nome ON-OFF (espera-se que já
esteja off..) exigiu que o arraial tivesse guarda de honra e
salva de tiros perante o caixão, requisitando para o efeito seis soldados da
GNR, devidamente fardados e solenemente equipados. Com retribuição pelo serviço
parece que a cargo da GNR, para poupar dinheiro à capital da cultura.
Logo que soube, o Comando da GNR exonerou de imediato o Comandante Distrital
que autorizou a participação dos seus militares. Não quis
recusar um serviço pedido pela Administração presidida por Jorge Sampaio e foi
obrigado a sair pela porta baixa. Um excelente exemplo da instituição militar,
que envergonha a sociedade civil. Porque os responsáveis civis que aprovaram
tal porcaria nenhuma sanção receberam e continuam, impantes, nas luzes do palco. Como protectores da cultura e das
artes. E fazendo-nos pagar bestialidades destas. Depois...queixem-se da Troyka!...
17 comentários:
Caro Pinho Cardão,
Eu não me queixo da troika; a ir por aí queixar-me-ia do PM de Portugal que, a meio de uma avaliação (ou será negociação?), prefere assumir uma posição de fraqueza aumentando impostos, sobre os "usual suspects". Para satisfazer os nossos credores? Não deveria antes pensar primeiro nos Portugueses? Talvez o "enterro de Portugal", para lá de algum excesso mediático, não seja uma imagem tão errada assim...
Mas permita-me notar, sem querer "condicionar" os posts neste blog, que 3 dias após a comunicação do PM, as suas preocupações tenham sido uma apresentação em Guimarães e uma eventual decisão contrária do "árbitro" (TC).
E acrescento: ao menos o absurdo em Guimarães já teve consequências para o "prevaricador".
Aguardo, por exemplo, se os autores do Relatório sobre as Fundações, que, pelas notícias que têm saído, parece ter sido tão mal feito que quase sugere ter sido de propósito, para adiar sine die os necessários cortes, vão sofrer algum "castigo"...
Caro Jorge Lúcio.
Com todo o respeito, não, não condiciona. Ninguém condiciona. Por mim, escrevo o que quero, quando quero e como quero. Por vezes, não tão bem como desejaria, por vezes, porventura erradamente. Mas é assim. Mas todos têm a oportunidade de contestar.
Quanto ao "prevaricador" de Guimarães, os que que aprovaram o acto não foram punidos, estão lá todos firmes.
Esbanjam dinheiro em brincadeiras privadas com espectáculos que só os amigos e familiares vêem, mas estãolá.
Todavia, os militares mostraram mais uma vez que não brincam em serviço. Ainda bem.
Caro Pinho Cardão,
Permita-me uma "piada": quando se trata de brinquedos caros, os militares são inexcedíveis, especialmente se são daqueles que andam debaixo de água.
1.- Concordo com o mau gosto verificado.
2.- Considero desproporcional a sanção.
3.- Tratou-se tão só de uma manifestação com alguma plausibilidade no âmbito social.
4.- É a treta das Pussy Riot, o mau gosto envergonha quem o instiga, o promove, ou o faz. Tão só.
5.- A liberdade de expressão é uma luta neste país...
Várias pessoas, com opiniões porventura mais abalizadas que a dos adictos comentadores do "Quarta", têm vindo a alertar para a possibilidade de, no contexto politico-social actual, aumentarem as probabilidades de ocorrerem manifestações deste cariz.
Compreende-se o obvio; "o mexilhão", tal como o Professor Marcelo se refere ao povo português que se encontra a baixo do limiar de uma coisa que ninguém ainda conseguiu definir com precisão o que seja (talvez por conveniência de quem tem interesse em manter tudo no estado gasoso), está a pagar demasiado por aquilo que algumas pessoas mal-geriram e ainda, por aquilo que algumas pessoas roubaram.
Fartos de más gestões e de más políticas, é o estado do "mexilhão" (aproveito para homenagear um antigo comentador do 4R, algarvio, que rimava como ninguém, os tropeções do governo, encontrava-mo-nos à data sob o regime plenipotenciário de Socrates).
E esta fartura de se achar farto,´tem como resultado manifestações de desagrado, umas mais, outras menos de acordo com uma consciência de Estado e de Europa.
Mas por outro lado, se todos continuarmos calados, inclusivé o Sr. Presidente da República... dá-se o "enterro" sem que ninguém se aperceba.
Marcelo Rebelo de Sousa, defende que o PM, depois de anunciar os novos agravamentos de impostos, deveria anunciar a renovação do Governo; Discordo! Entra António, sai Manel, entra Maria, sai Jaquina e a coisa fica igual, ou parecida. Renovação de políticas é o que se exige, as moscas podem continuar as mesmas...
Caro Pinho Cardão,
infelizmente não encontrei informações detalhadas, por isso não posso dizer exactamente quanto foi gasto com esta performance.
Mas tenho a certeza absoluta de que se ela não tivesse sido feita, Portugal estaria agora numa posição muito mais relaxada, não seria precisa a intervenção da troika, e a dívida soberana estaria paga.
Por isso temos que continuar a dedicar o nosso tempo a assuntos da maior importância como este, para ter a certeza que as gerações seguintes não passam pelas mesmas incertezas do que as presentes.
O mesmo pode ser aplicado a qualquer outra manifestação artística que não seja considerada "útil" ou financeiramente justificada (embora não tenha ainda percebido pelos seus textos como é que estes critérios são definidos).
Aliás, tal como se vê pelo peso da cultura no orçamento geral, é aí que reside a raíz dos problemas financeiros do país. Se a cultura fosse tão bem gerida como as finanças ou outras pastas, de certeza que Portugal teria um largo excedente de meios.
Pinho Cardão diga de uma vez (se lhe aprouver, obviamente, que vivemos em aparente liberdade de regime de mentira democrática - quem melhor mente pré eleitoralmente é quem tem direito a 4 anos das maiores aleivosias) se à imagem da Suíça concorda com o plafonamento imediato das reformas nos 2000€ e, já agora, o meu amigo que penso tem como eu uma raiz social democrata, diga-nos se concorda com a redistribuição da TSU a 18% e, gestor como eu, se acha que o efeito não será idêntico ao que teve na receita pública o "muito inteligente" aumento do IVA para 23% de serviços que não impactam nos grandes dois défices nacionais: o da despesa pública e o externo.
Os meus amigos que trabalham na cultura - nos espectáculos, na arte, nos livros, nos serviços como o ensino e formação, etc... - que já mal actualmente sobrevivem antes de lhes retirarem o pequeno excedente que ainda dava para comprar revistas e serviços, agradeceriam.
No facebook há um movimento contra a pobreza dos deputados portugueses:
http://www.facebook.com/pages/Movimento-contra-a-pobreza-dos-deputados-Portugueses/114609675267407
Vamos ajudá-los!
De facto entre o "enterro de Guimarães" que refere no post, e as "7 maravilhas - Praias de Portugal" na RTP1...fico sem saber qual dos dois será maior culpado pela presença da Troika em Portugal!
Já a habitual farsa do - "vamos mais além da Troika" + "as contas estão a ir muito bem!" + "não precisamos nem de mais tempo, nem de mais dinheiro " + "somos O BOM aluno" - que invariavelmente tem acabado sempre com "mais reguadas"...
começa a ser dificil perceber o que é mais descabido: Se o "funeral em Guimarães" ...se o continuar a acreditar no futuro deste Pais com o programa em curso!
Caro João Pais:
Apreciei a ironia, mas discordo do conteúdo da mensagem.
Não basta pôr-lhe o rótulo de cultural, para se falar de acontecimento cultura. Não basta pôr-lhe o rótulo de cultural, para se falar de uma obra cultural. Não basta um sujeito escrever um livro, para dizer que se trata de criação cultural. A cultura, a verdadeira, perde significado perante a avassaladora cultura do facilitismo, da imagem sem conteúdo.
Sei também que a cultura, a verdadeira, é rentável financeiramente.
Incultura é aceitar que toda a obra pífia, manifestação, instalação, colagem, filme, livro, seja considerada obra cultural.
Essa é a melhor forma de produzir e reproduzir incultos.
Caro Pinho Cardão,
a minha mensagem tinha duas partes:
- financeiro: não sou eu que lhe vou decidir sobre o quê e quando escreverá. Mas comparando uma pequena (?) performance com a troika, até parece que a cultura dispende bilhões por dia, e é o problema principal de Portugal; enquanto que na realidade o "período alto" foi quando Carrilho conseguiu um ano que o orçamento cultural fosse 1% do total - e só durou 1 ano, penso eu. Hoje em dia já nem há ministério para a cultura.
Se quer reclamar sobre Guimarães, sugiro que investigue os honorários dos dirigentes (alguns acomulando várias funções): aí os números já sobem um pouquito mais, embora ainda sejam apenas "peanuts".
Ou pensa que cada um dos actores/performers ganhou o suficiente com esta actividade para comprar um carro novo? Não sei se conhece muita gente da cultura pessoalmente, os que eu conheço garanto-lhe que não vivem em facilidades.
- cultural: tem que me explicar o que é a "cultura verdadeira", que eu não sei o que é isso. Por exemplo, se a música clássica ou ópera é cultura verdadeira, esta não é rentável financeiramente sem o apoio dos estados (e antes apenas o era porque a monarquia ou mais tarde a burguesia a apoiava). Por outro lado, a música ligeira (ou pimba) rende bastante - é "cultura verdadeira"?
Um urinol deitado é "cultura verdadeira"? Há um muito famoso que vale milhôes, enquanto que todos os dias usamos um que não valerá mais que 30eu. Qual destes é mais importante?
E o que não falta são exemplos de obras hoje em dia famosas, importantes e diariamente referenciadas, que no momento da criação foram reduzidas a zero pelo público.
Posso-lhe fazer um teste sobre "cultura verdadeira", infelizmente usando apenas o meu campo de conhecimentos: imagino que é conhecedor de alguma música clássica, por exemplo música barroca. Sabendo que este período se extendeu por mais de um século, diga-me o nome de compositores barrocos alemães excepto Bach, Haendel e Buxtehude (sem ir à net ou à fnac).
O objectivo não é o de o classificar a si como mais ou menos conhecedor, mas de perguntar: todos os outros eram maus, o que fizeram não deve ser classificado de cultura, e os seus manuscritos podem ser deitados para o lixo? Quem decide isso?
Caro João Pais:
Começo por agradecer a atenção que dá ao 4R nestes temas, o que pressupõe ser um leitor regular. Os seus comentários são sempre bem vindos.
Quanto à fronteira do que é cultura ou não, concordo que a linha é difícil de traçar. Mas, noutra vertente, sabe-se que Badajoz fica perto, Mérida não fica longe, mas Moscovo e Los Angeles nada têm a ver com proximidade a Portugal.
Assim também algumas manifestações esta de Guimarães ou uma outra, denominada "vi:-ela sentada", ou semelhante ficam longe, muito longe da fronteira. Admitir que ficam perto,traduzir-se-ia num colossal downgrading da cultura e num embuste.
Sei que a cultura é rentável. As pessoas vão a Paris ou a Londres, ou a Viena para ver monumentos, a pintura, a escultura, museus vivos sempre repletos, espectáculos musicais, música nas igrejas, as últimas novidades nas livrarias. A arte e cultura atraem mais gente a Paris do que as praias ao Algarve. Sei de tudo isso. E sei que não salientamos o bom que também temos. Por exemplo, alguém conhece a rota do românico, que alia preciosidades monumentais à paisagem e à gastronomia?
As verbas são smpre baixas, mas quando se deitam ao lixo em espectáculos como o referido, ainda diminuem mais.
Enfim, perdoe-se a caricatura, com o contínuo downgrading do que é cultural promovido por incultos, mas mediáticos, pensadores profissionais, não tarda que nos especializemos nestas bambochatas culturais para vender a turistas, ao lado dos bonecos da Rosa Ramalho.
De facto, como comparar este enterro amador com o enterro do país anunciado por Pedro Passos Coelho? A capital europeia da cultura anda distraída! Deveria ter convidado PPC a fazer o seu anúncio de austeridade a partir de Guimarães - e sem protecção policial...
Os Senhores João Pais e Pinho Cardão, permitam que "meta a colherada". Quanto a cultura, ao nível em que os caros pretendem classifica-la, o que conta no nosso país, é a opinião que os midia ficcionam "e dão a comer" a comer à populaça.
Passa-se o mesmo, em escalas diferentes, no âmbito da política, do futebol e tudo o que respira através das "guelrras das "massas".
Caro Bartolomeu:
Infelizmente, assim é. E vendem produto falso como produto de qualidade. E ninguém lhes pode ir à mão, porque é censura.
(demorei-me a responder por "razões técnicas")
Há de facto imensa gente que visita as várias capitais de muitos países para ver museus, monumentos, ... Mas, se percebi bem a sua imagem de "verdadeira cultura", todo (ou quase todo) este património é apoiado pelos respectivos estados. Assim que começam a haver cortes em algum lado, o serviço começa a diminuir - menos conteúdo, menos obras no catálogo, ...
Não tenho tempo para procurar exemplos abrangentes, só dou um concreto: a orquestra SWR der Freiburg (uma das melhores da Alemanha, e que já actuou em Portugal) vai ser em breve fundida com outra em Estugarda. As razões são obviamente financeiras, e se esta fusão continuar, perde-se o esforço de várias décadas que esta orquestra faz para promover a música contemporânea. Mas asseguro que os concertos desta orquestra não estão às moscas, inclusive as muitas iniciativas educativas para cativar novos públicos que são feitas.
A sua terminologia "verdadeira cultura" também leva ao que pode ser o ponto principal da discussão. Pela descrição que fez, é cultura apenas o que foi feito há muito tempo, e tem um selo de aprovação. Nesta lógica, é cultura apenas o que existe há xxx tempo, tudo o que é novo não é "cultura", mas apenas "experimentalismo", ou lixo, ruído, desperdício, ...
Se for ver as críticas da recepção das obras mais marcantes/conhecidas das artes (música, teatro, escrita, etc), vai ver que maior parte dos casos tiveram uma recepção semelhante à que dá agora a estas performances. Ora estas obras não surgiram do nada, um artista teve que tomar o risco de criar o que não existia. Algumas vezes sai algo que dura muito tempo, outras vezes algo que (até por razões práticas) desaparece. Remeto para a pergunta que fiz no último comentário. Ou para um caso "caseiro": antes do terremoto de 1755 estava em Lisboa uma das maiores bilbiotecas musicais da Europa. Com ele perdeu-se definitivamente património de muitos compositores portugueses, que só agora começam a ser conhecidos.
Não para dizer que os eventos por si enumerados tenham a mesma qualidade que outras obras. Mas apenas por o perfil não passar pela sua imagem de "cultura verdadeira", é dinheiro desperdiçado. Em vez de estar a tocar pela XXXXXX vez a mesma obra do artista y, nascido há zzz anos, estão a desperdiçar recursos com alguém que pode fazer algo de contemporâneo...
E uma outra coisa é o meio: há muitas obras de música clássica que não são muito interessantes, mas como são apresentadas num sítio respeitável, com pessoas engravatadas, ganham a aura de "cultura séria".
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