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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ciência e mitos

Considero um cocktail saboroso quando a poesia, a ciência e a história enchem a imaginação construindo certas notícias, as quais são uma fonte preciosa de especulação. Especular é uma necessidade, um adorno para o nosso cérebro a relembrar belos colares e anéis, joias da mente que necessitam de espaço, de gente que as contemplem, que as copiem, que se inspirem nas mesmas, fomentando novas ideias. Adoro ler novas visões e interpretações mesmo que não correspondam à realidade, já que viver no mundo da fantasia é a aspiração natural de uma criança e a máxima de um adulto consciente.
Dizem os entendidos que o monoteísmo nasceu no antigo Egito, provocando mudanças radicais na forma de ver o mundo e na própria organização social. Claro que tal transformação não agradou a muitos, mas é certo e sabido que certas mudanças arrastam sempre consigo mal-estar, raiva e o ódio.
Naquela zona do mundo, são inúmeros os segredos. O homem gosta de os conhecer, e depois quer explicá-los com o que tem à mão e com o que não tem, neste último caso usa a imaginação. E faz muito bem. Veja-se o caso de Tutankhamon, tão sedutoramente representado naquela formosa e enigmática máscara de ouro.
Qual foi a causa da morte do jovem rei? São tantas as hipóteses, mas há um aspeto que merece ser realçado, tem a ver com características feminizantes de alguns faraós, a sua relação com doença genética que pode estar relacionada com certas formas de epilepsia temporal. Aqui colocam-se as experiências místicas quando esta zona cerebral é estimulada, sobretudo pela luz solar. Um defeito genético, que leva a convulsões místicas e religiosas, epilepsia do lobo temporal, poderá ter induzido naqueles faraós, a adoração do sol, como deus único, a liquidar e a sobrepor-se a todos os outros deuses. Belo, sem dúvida, a marcar uma nova forma de o homem se relacionar com o divino. Mas poderemos comprovar esta teoria? Não, e depois, qual é o problema? Nenhum. Toda a nossa existência como espécie está intimamente ligada a mitos, e quando se trata de mitos da criação, coloco sempre a questão, qual deles o mais belo, o mais criativo ou o mais inspirador. Eu conheço alguns, mas prefiro a espuma do mar de onde emergiu Afrodite, da mais estranha inseminação até hoje relatada. Afinal, a ciência, na sua busca incessante da verdade, consegue ser uma fonte inspiradora para a criação de novos mitos, sem os quais não conseguimos viver. É o momento de agradecer à ciência o facto de tornar inesgotável a interpretação e análise de velhos e novos comportamentos. Belo, sem qualquer dúvida, pelo menos para mim. Agora, ao ver a máscara do faraó criança, vou associá-la à beleza, ao sol, à doença, ao monoteísmo, a novas ordens sociais e a uma permanente transformação da sociedade. Vale a pena associar a poesia à ciência e à história, e depois cantá-la.

4 comentários:

Guilhotina disse...


Um conceito de ciência que faz lembrar Schlegel, Novalis, Schleiermacher.

Infelizmente, esse conceito de ciência é pouco habitual hoje. Ciência como cultura do espírito e não como mera actividade técnica.

Obrigado pelo texto, um dos melhores deste blog.

jotaC disse...

Sem dúvida, também uma imaginação recheada de beleza...

Suzana Toscano disse...

Um verdadeiro poema, este post. De facto, sem curiosidade poética, sem imaginação, sem o fascínio da descoberta e do desvendar os mistérios do passado, o que seriam a ciência e a história? Devemos associá-las, sim, devolvendo-lhes assim a sua superioridade e não apenas a sua utilidade.

Tavares Moreira disse...

Caro Professor,

Li este texto quase sem respirar, tal é o gosto que nos prende à leitura!
Uma prosa, cheia de poesia, extremamente bela e inspiradora da alma!