1. Estão chegando notícias, nestes dias de muito calor, sobre o não menos quentíssimo contributo negativo de um distinto grupo de Empresas Públicas para a sustentabilidade das finanças da República.
2. Esperava-se que as 7 Empresas Públicas Reclassificadas (EPR’s) – cujos défices passaram a integrar o perímetro orçamental – contribuíssem “apenas” com cerca de € 1,2 mil milhões para o défice de 2012. Essas 7 entidades são a REFER, os Metros de Lx e do Porto, as Estradas de Portugal, a Parque Escolar, a Parvalorem (herança do ex-BPN) e a RTP.
3. As notícias agora divulgadas dão conta de um considerável agravamento das condições de exploração de um conjuntoalargado de Empresas Públicas – as EPR’s e mais algumas – as quais viram os seus prejuízos quase duplicar entre os 1ºs semestres de 2011 e de 2012, de € 335,1 milhões para € 691,5 milhões.
4. Ainda de acordo com as informações divulgadas (pela Direcção Geral do Tesouro e Finanças) este agravamento fica a dever-se à subida em flecha dos encargos financeiros - o que não surpreende dado o altíssimo nível de endividamento destas infelizes empresas – pois elas até conseguiram melhorar bastante o seu resultado operacional que passou de um prejuízo de € 65,8 milhões para um excedente de € 37,2 milhões.
5. É claro que à cabeça deste infausto desempenho se encontram as empresas de transportes públicos, as quais só à sua conta apresentam um prejuízo de € 748,6 milhões, superando pois o do conjunto alargado de empresas, com destaque para os dois Metros, de Lx (- € 296,9 milhões) e do Porto (- € 247,5 milhões) – as mesmas empresas que com diligentíssima frequência vão contemplando os utentes com greves para defesa de regalias que as suas depauperadas finanças já não podem suportar...sobrando para o contribuinte, claro!
6. Neste quadro, é bem provável que o contributo das 7 EPR para o défice orçamental de 2012 venha a ser bem superior aos esperados € 1,2 mil milhões (talvez € 1,5 mil milhões ou mesmo mais), ajudando patrioticamente ao tão decantado deslizamento do défice...
7. É caso para se falar de uma verdadeira tragédia das Empresas Públicas que, justamente no ano em que começam a sair do vermelho quanto aos resultados operacionais , vêem a sua situação financeira afundar perigosamente, registando prejuízos record...
8. E é também caso para dizer que a simpática Ministra da Justiça bem nos podia ter poupado àquela rábula da comparação etérea de méritos e de eficiências entre o sector público e privado. Sem querer entrar em tal discussão, quase sempre inútil, direi apenas que, face às notícias que agora nos chegam, tal pronunciamento dificilmente poderia ter sido mais inoportuno...
19 comentários:
Se estão tão endividadas e os juros aumentam de que milagre estavam à espera? Não percebo.
Caro Dr. Tavares Moreira,
Independetemente de concordar que as repetidas greves nos transportes têm sido "selvagens", poderia ter incluído no rol de números que listou, que um dos poucos items em que se cumpriram os objectivos de redução dos custos foram as Despesas com Pessoal: 12.6%, por corte de salários e subsídios (estou a citar o Público, dado que os números do seu post são perfeitamente coincidentes com os da edição de hoje). "Os do costume", pelos vistos, terão sido quem mais contribui para a melhoria dos resultados operacionais...
Quanto aos custos financeiros, uma "conta de merceeiro" sugere que, dado haver uma melhoria de 100M€ nos Resultados Operacionais (de -65M€ para +37M€), aqueles teriam de piorar perto de 450M€...
Como o endividamento global passou de 29.4 mil milhões para 30.6, confesso alguma dificuldade em compreender um tamanho aumento dos encargos financeiros, na ordem de 40% do aumento do endividamento... a menos que resulte da degradação do rating do País, a que estas empresas estão fatalmente ligadas... e neste caso dá vontade de dizer que com tantos gurus financeiros à volta do Ministro Gaspar, nenhum previu isto!?
Cara Suzana,
Mas estariam mesmo à espera de um milagre? Acha?
Caro Jorge Lúcio,
É óbvio que o agravamento dos encargos financeiros se ficou a dever a um conjunto de factores, nomeadamente aqueles que refere.
Naturalmente, a melhoria dos resultados de exploração, significativa como sublinhei, só teria sido possível com diminuição dos custos de funcionamento, o aumento do tarifário, apesar de pesado, não seria suficiente.
Quanto aos ditos "gurus" e sua missão, disso percebo mesmo muito pouco...
Cara Drº Tavares Moreira,
Mais umas "pinderquices" que cabem no mesmo saco das coisas que correram mal, tal como o tão apregoado objetivo de redução do déficite que muitos garantiam a pés juntos que iamos conseguir, mas que agora começaram a sacudir a àgua do capote dizendo que a culpa é da troika e tal...
Também me chamou a atenção a ligeireza da comparação feita pela senhora ministra, que vem de resto ao arrepio do que o governo de que faz parte assume no seu programa. Mas enfim, há que reconhecer que o problema, por vezes, não é a falta de sentido de estado, é mesmo a falta de senso...
Dr. Tavares Moreira
É uma tragédia nacional. Com este "brilhante" desempenho - é preciso não esquecer a brutal subida dos preços dos serviços prestados pelas empresas de transportes - não há 13º e 14º meses que cheguem.
Caro jotaC
Não deve dizer que correu mal, se o défice ficou ou está acima do previsto...
Para quem se tem manifestado contra as políticas "neoliberais", estas notícias deveriam ser recebidas com júbilo, cantando hinos de louvor, sem cessar!
Caro Ferreira de Almeida,
Às vezes a falta de assunto ou o cansaço degeneram no produção de vulgaridades ou de coisas sem nexo, também pode ter sido o caso, concordo!
Cara Margarida,
O Ilustre Tribunal Constitucional não quererá meditar sobre esta enorme cratera financeira, para se congratular ainda mais pela brilhante e oportuna criação jurisprudencial com que nos brindou?
O que acho graça nesta situação toda é que é dito que estas empresas públicas são geridas. É que pelas justificações que são apresentadas eu diria que ou não são geridas ou fazem corretagem de dinheiro. Pronto, os juros subiram perdemos dinheiro. Maçada...
Os custos que não controlamos sobem, paciência, aquilo que não podemos fazer é baixar os custos que controlamos. Valem bem o dinheiro que ganham aqueles gestores públicos. Pelo menos pela cara de pau de apresentar desculpas dessas, já merecem um prémio natalício.
Caro Tonibler, sem querer entrar na polémica da Ministra da Justiça, e sem conhecer qualquer dos gestores de que fala, o facto é que houve imensas empresas privadas que faliram por razões muito semelhantes, se estivessem obrigados a manter as portas abertas por prestarem serviços indispensáveis se calhar não teriam feito muito melhor...
Caros Suzana e Tonibler,
A Suzana tocou num ponto fulcral: houve empresas privadas que FALIRAM (ou ficaram insolventes)por razões muito semelhantes...
Ocorre perguntar: quantas empresas públicas tb faliram por essas razões?
É aqui que está o busilis da questão: no caso das EP's,quando enfrentam a insolvência, lá vem o pronto-socorro do contribuinte, suas Excelências não podem suportar a humilhação da solvência!
Isso é para os privados, que são gente de segunda ordem!
Cara Suzana e Tavares Moreira,
Não querendo parecer arrogante, NENHUMA empresa privada faliu porque o custo do dinheiro foi demasiado elevado. Podem ter falido por não receberem pagamentos, por não terem conseguido baixar os salários, porque o consumo baixou, porque as indemnizações seriam demasiado elevadas para despedir. Agora por causa de um custo que não controlam, isso não foi de certeza. A não ser que vendessem dinheiro, como os bancos.
O mal aqui não está no resultado. Por exemplo, a Parvalorem dificilmente pode dar um resultado relevante. Está na justificação que é apresentada ao dono daquelas porcarias - que sou eu, não é o ministro. Uma empresa de transportes pode não conseguir baixar os seus custos de operação para compensar a subida dos custos financeiros. Mas o problema é não baixar os custos de operação e então quero uma justificação pela qual não é possível baixar os salários(por exemplo). Até admito que não seja possível, o que não admito é que nem sequer seja dado ao dono - que sou eu - a possibilidade de proporcionar aos gestores a possibilidade de gerir uma empresa. Isto porque um conjunto de gestores públicos resolveu aldrabar o accionista que, sublinho, sou eu.
Só isto deveria ser suficiente para se entender da completa inviabilidade de uma empresa pública no enquadramento ético do estado português. Aquilo que esta justificação apresenta é "esta empresa não tem qualquer valor acrescentado" independentemente do resultado financeiro que é dado.
Caro Tonibler,
Tem o meu acordo em 79% do que afirma no seu último comentário, nomeadamente a conclusão final (aqui o grau de concordância é superior a 79%).
A diferença para os 100% está na sua afirmação de que "nenhuma empresa privada faliu porque o custo do dnheiro foi demasiadamente elevado"...
Conheço N casos de empresas que cairam na inviabilidade porque o preço do dinheiro disparou - mas, sejamos sinceros, disparou para um valor muito mais consentâneo com o risco do que o preço anterior.
É claro que uma razão dessas nunca está só, faz sempre parte de um conjunto de factores que, mais tarde ou mais cedo, lançariam essas empresas na insolvência - o excesso de endividamento, em boa parte e irresponsavelmente consentido pela banca, é um desses factores.
As EP's, felizmente para elas e talvez tb para Sxa a MJ, estão totalmente ao abrigo do agravamento dos custos financeiros, graças ao seu bolso, ao meu e de mais uns quantos tontinhos que ainda conseguem admitir que o dinheiro dos seus impostos é bem utilizado...
Caro Tavares Moreira,
o que eu queira dizer é que se uma empresa está exposta dessa forma ao custo do dinheiro, então a culpa não é do dinheiro... Nos mesmos bancos onde foram buscar o dinheiro podiam tê-lo feito protegendo-se.
Ou está a falar de empresas que vivam de linhas de crédito onde as linhas fecharam? Isso não tem nada a ver com o custo do dinheiro, tem a ver com todos os outros factores que fazem as empresas andarem a viver de linhas de crédito. As linhas fecharam, mas o que gerou o problema foram os pagamentos, não o crédito para suprir a falta deles.
Tonibler, pode contar com o meu voto. Ainda o hei-de ver na economia, o país precisa de gente assim radical, sem meios mas, que saiba o caminho certo...
Conte comigo, amigo! :)
Caro jotaC,
Pode estar descansado. Suspende-se a constituição, o direito de associação, decreta-se a lei marcial, proíbem-se os partidos e nomeio-me presidente vitalício, generalíssimo dos exércitos e pai dos povos. O meu programa não falha, apesar de ser pouco original!!! :)
Caro Tonibler,
A tomar o seu "case" até às últimas consequências, será forçoso concluir que as empresas não deveriam recorrer ao crédito bancário, a não ser quando...dele não precisem, pois nesse caso poderão libertar-se do crédito sem quaisquer consequências.
Creio que haverá uma zona de equilíbrio entre o radicalismo anti-creditício de Tonibler e o completo descontrolo e irresponsabilidade de que bancos (sobretudo) e empresas deram provas, nos muitos anos que se seguiram ao anúncio da adesão ao Euro até à declarada insolvência do País, em Abril de 2011!
É uma questão de nos esforçarmos um pouco e seremos certamente capazes de descobrir, através de um complexo sistema de equações, essa zona de equilíbrio (definida como correspondendo a um nível de endividamento em que mesmo em cenario de exterma adversidade, as empresas poderão cumprir, sem constrangimentos, o serviço da dívida bancária)!
Caro Tonibler, também não é nada original a sua proposta para conservar o poder :)
Caro Tavares Moreira,
Mas eu não sou contra o crédito nas empresas, longe disso. sou contra o crédito à tesouraria de forma estrutural como se faz neste país de caloteiros, mas não contra o crédito. E crédito que é feito com um objectivo concreto não tem qualquer risco de taxa de juro, a não ser que se ande à procura dele.
Caro Tonibler,
Vamos aproximando as nossas posições, embora ainda subsistam diferenças...
Risco de taxa de juro, neste sistema viciado na negociação de taxa variável - nomeadamente para os créditos de médio/longo prazo - existe sempre.
Mas compete às empresas mutuárias avaliar esse risco e definir limites de endividamento que não as exponham excessivamente a esse mesmo risco...
Mais uma vez os bancos foram aqui grandes responsáveis pois em muitos casos - em fusões e aquisições, por exemplo - incentivaram as empresas-pivot a endividarem-se até à "ponta dos cabelos" excedendo em muito os limites de uma gestão financeira prudente.
E agora toca a subir os spreds a todo o gás, criando enormes incentivos à acumulação de crédito mal-parado!
É admirável esta novela e esta qualidade de gestão!
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