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domingo, 23 de setembro de 2012

Meu filho, deixa que te diga

Meu filho,
Chegaste a casa empolgado da manifestação, vieste com os olhos brilhantes a falar da mudança do sistema e do grande crime que as gerações mais velhas cometeram para com os da tua idade. Vieste a falar do “massacre geracional” e dos benefícios dos reformados que serão vocês que sustentam. Disseste até que são explorados hoje e que, quando for a vossa vez, não terão o dinheirinho da reforma à vossa espera. Pois, filho, deixa que te diga umas coisas para acrescentares à tua reflexão.
Eu e a tua mãe vivemos sempre do que pudemos ganhar com o nosso trabalho.Eu entrei para o Ministério como auxiliar de contabilidade, depois de tirar o curso à noite, a trabalhar de dia como vendedor, porque o meu pai, pobre agricultor, mal ganhava para o sustento dos meus irmãos mais pequenos. Nunca gostei de contabilidade, gostava era de vender, mas era uma profissão certa e eu tinha família para sustentar. A tua mãe ficou em casa, a cuidar de ti e da tua irmã, porque não havia escolas para os pequenitos e as vizinhas já não podiam tomar conta de mais crianças. Sempre sonhei montar o meu escritório de contabilista mas o que queres? Como funcionário teria direito à pensão para a qual descontava, a minha família beneficiava da ADSE, para a qual descontei, era a segurança da minha velhice e da tua mãe. Fiquei, fiquei 42 anos e reformei-me como chefe de repartição, a tua mãe com muito menos porque só descontou 20 anos como auxiliar numa escola. Com a velhice assegurada, ainda que modestamente, pagámos os teus estudos até tarde, já tinhas mais de 25 anos quando acabaste o curso na Universidade privada porque nunca tiraste média para ir para o ensino público. Foi com o meu salário que te compramos a mota, depois te demos a carta e o automóvel, foi porque pensámos que não precisaríamos de juntar para a velhice mais do que o que descontávamos que te pagámos os anos de inglês, o karaté, as viagens nas férias com os teus amigos. Sim filho, deixa que te diga, acusaste-me tantas vezes de ser conformado, de ir para a repartição e ter um salário modesto, querias que arriscasse, abrisse um negócio, como o pai da Elsa, a rapariga de quem estás divorciado, mas se eu deixasse tudo lá se ia a minha pensão e a protecção na saúde, teria que juntar para a minha velhice e da tua mãe e não poderia dar-te e à tua irmã o que tanto gostavam.
Comprámos a casa a crédito porque já não suportavas o bairro modesto, a casa alugada e velha, querias viver bem, a tua irmã dizia que tinha vergonha de levar lá os amigos do colégio, pagámos a casa mesmo a tempo de te ajudar a comprar a tua, quando casaste e o pai da Elsa já estava em sarilhos com os seus negócios. Ainda te disse para ficarem lá em casa, até endireitarem a vida, a tua irmã já estava a estudar fora, no Algarve, no curso que escolheu, com um esforço acomodavámo-nos todos, mas não quiseste, gritaste que eu era manga-de-alpaca, que nunca teria uma vida capaz, a prova é que nunca saí da repartição, a contar com a reforma e as pantufas. Pois é, filho, desculpa, pensei que podia gastar contigo e com a tua irmã o que os meus pais não puderam gastar comigo. Pensei que tinha uma reforma e por isso não precisava de proteger mais os meus anos de velho. O que eu não sabia era que te estava a explorar.
Agora gritas que me sustentas, e à minha reforma e eu não sei porquê mas talvez tenhas razão, eu devia ter sido mais prudente e guardar para mim e para a tua mãe o que te dei com tanto amor. A contar que não te seria pesado, que não terias que me sustentar como eu fiz com os meus pais e a tua mãe com os dela, lembras-te?, vieram viver cá para casa, admiraram-se com a nossa casa tão grande, com o nosso nível de vida, e dividimos com eles o que havia. Ainda bem que terei uma reforma, pensei tantas vezes, posso gastar com eles o que ganho, e com os meus filhos, talvez com os meus netos se precisarem. Nunca levei a tua mãe ao México, ou ao Brasil, nem sequer a Paris, gasta com os garotos, dizia ela, eles têm que viver o tempo deles, a gente não precisa. Tu foste, foste a tantos lados, ficavas 6 meses e mais, dizias que era dos estudos, depois voltavas cheio de ideias para comprar um computador novo, um plasma, uns sofás novos, pai, dizias, os tempos são outros, se tens dinheiro compra, para que te agarras ao dinheiro se vais ter uma reforma?
Desculpa, filho, acho que te estou a massacrar, e à tua geração Mas deixa que te diga que me preocupa muito a tua mãe, quando eu morrer ela só vai ficar com metade do que eu recebo, se ainda a deixarem receber isso, e não chega, não chega para te ajudar a pagar as pensões de alimentos aos meus netos, não chega, filho, não chega. Deixa que te diga que te dei tudo o que tinha, com orgulho e com amor. Hoje, filho, quando te ouço, penso quem me dera ter poupado para a minha velhice e da tua mãe, em vez de te ser tão pesado agora, com a minha pensão.

26 comentários:

Massano Cardoso disse...

Pois! É bom ler e refletir.

Rui Fonseca disse...



Perfeito.

Não tenho nada a acrescentar.

Pinho Cardão disse...

Suzana:
Retrato magistral de muitas vidas. Comovi-me.

Bartolomeu disse...

Acho que de todo este muito bem escrito texto, que muitos, ao lê-lo julgarão estar a passar por uma experiência de déja-vu, alteraria somente o último paragrafo.
Se o texto fosse da minha autoria, terminaria desta form: Hoje, filho, quando te ouço, penso, que haverá um motivo para que aquilo que ontem era uma garantia de estabilidade para a velhice, uma garantia de que não viria a ser um fardo para os meus filhos, porque passara uma vida a efectuar os competentes descontos para a segurança social e porque o Estado, pessoa de bem e acima de qualquer suspeita, quanto à sua honradez, geria esse dinheiro que todos descontávamos, fazendo com que acumulasse e ainda, que capitalizasse. Hoje, filho; o Estado diz-se falido, gastou todo o dinheiro que eu e os outros trabalhadores, descontámos e lhe entregámos, religiosamente. E sabes em que o gastou, filho? Em não deixar falir bancos mal geridos, em não deixar falir bancos que pagavam juros fantásticos por aplicações financeiras, que faziam negócios ruinosos e distribuiam lucros milionários pelos accionistas que depois colocavam esses milhões em off-shores, para não permitir ao Estado ter controle sobre eles.
Foi por isso, filho, que todo o esforço do meu trabalho e de outras pessoas honestas e igualmente trabalhadoras, desapareceu dos cofres do estado.
Hoje, filho, o nosso governo ameaça-nos que se não estivermos caladinhos, quanto às medidas de recessão que nos impõe, se refilarmos, se reivindicarmos os nossos direitos, corremos o risco de sair da moeda única e do euro, e que se isso vier a acontecer, o governo deixa de poder ter acesso ao crédito no exterior e nessa altura, deixa de poder pagar as reformas e as pensões aos mais necessitados.
Sabes, filho, sou homem de poucas orações mas, rezo todas as noites, não sei bem a quem, mas mesmo assim peço-lhe que me leve durante o sono, que me livre e que te livre deste modo de vida pungente. E peço-lhe, filho, peço-lhe com todas as forças do meu ser, que leve também todos que vivem em condição igual à minha, mas que poupe aqueles que recebem reformas milionárias, aqueles que desfalcaram o país e vivem em luxuosos condomínios, em ilhas turísticas, em paraísos fiscais. Peço-lhe que os proteja, o tempo suficiente para nos verem morrer, a todos nós, que sacrificámos os melhores anos das nossas vidas, em nome do progresso e da prosperidade do nosso país, na esperança que essa prosperidade garantisse uma sociedade mais justa, mais igual, uma sociedade em que todos podessem entrar na velhice sem sobressaltos, nem receios se no dia seguinte terão o que comer.
Sabes, filho, não me arrependo de ter gasto o pouco dinheiro que possui, proporcionando-te as coisas de que mais gostaste. Esse, a par de muitos outros, é um prazer que assiste aos pais; ver nos olhos dos filhos, o brilho da felicidade. Prazer esse, porque qualquer pai pagaria toda a fortuna que conseguisse acumular durante uma vida.
O que doi, filho, é assistirmos impotentemente ao prazer daqueles que foram capazes de nos enganar, ao desfrutar daquilo que não lhes pertence, porque representa o esforço e as privações de milhares de outros... trabalhadores e honestos.

Agitador disse...

Comovente mas muito triste a forma como os filhos exigem aos pais tudo e alguma coisa. Mais triste ainda a forma como os pais se submetem no falso intuito de conquistarem a felicidade para os filhos e conseguirem exactamente o contrário.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Quem trabalhou uma vida inteira, pagou religiosamente as suas contribuições para a reforma, fez o seu pé-de-meia, criou os filhos esforçando-se por lhes proporcionar uma boa educação e satisfazer os seus caprichos sempre esperou no final da vida que o Estado cumprisse com as pensões prometidas e que a solidariedade intergeracional não seria quebrada. São os mesmos que agora sofrem cortes nas pensões por causa da austeridade e são apontados pelas gerações mais novas de viverem à sua custa. Não têm como se defender e muitos sofrem a solidão e a desvalorização injusta que a economia da eficiência os remeteu. Uma cultura injusta e perigosa que nos deveria fazer reflectir sobre o mal que está a fazer à nossa sociedade. Num passo os mais novos também serão velhos. E depois?

Anónimo disse...

Cara Suzana, quantos e tantos prismas pelos quais pode olhar-se para este seu texto. As mudanças sociais que levaram os pais a dar a seis filhos o conforto material que não tiveram de seus pais é um deles. A visão «pobrete mas alegrete» substituída pelo ter e parecer como valores supremos. Outra visão é a da mudança da sociedade Portuguesa, tradicionalmente prudente e cautelosa, precavida sempre a pensar no amanhã por uma nova geração adepta da expressão Americana "Live fast, die young, and leave a good-looking corpse". A mais tocante parece-me ser a visão da volta atrás nos tempos com os filhos a voltarem a ter que ajudar os seus mais velhos, algo normal há 100 anos e que os filhos viam como natural mas para o que os de hoje não estão preparados mentalmente. Por fim, a angústia de tantos e tantos pais que se perguntam sobre que futuro os espera a eles e mais que tudo a seus filhos, que vêm o que tinham seguro a fugir-lhes debaixo dos pés. Vivemos tempos de mudança que são sempre duros. Tempos em que é bom estar vivo para assistir in loco à história a ser feita mas tempos também em que ocorrem dramas humanos que não matam mas moem.

Este seu texto é extremamente profundo, cara Suzana e, confesso-lhe, deixou-me umas lágrimas a rolar pela cara. Comoveu-me bastante, algo pouco comum.

C.e.C disse...

Que texto delicioso.

Guilhotina disse...


Olha filho, vê se te safas e inscreve-te num partido do arco do poder. Escolhe p`raí o PSD ou o PP e vais poder ajudar-nos a todos. esforça-te para arranjares um avental, a maçonaria nunca está em crise. Depois, terás sete ou oito reformas. Olha, meu filho, faz-te à vida.

Freire de Andrade disse...

Não ligue a quem quer acrescentar coisas ao seu texto. Não que não tenham razão em algumas coisas (na minha opinião só em algumas), mas o texto está bem como está e descreve uma situação em que muitos nos sentimos retratados.

Escrivão disse...

caguei
patetico

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano,
Parabéns por este texto maravilhoso a revelar com palavras doces a crueza do ponto a que chegámos, sofrível não sei até quando…

jotaC disse...

Permiti-me replicar no FB.

Pedro disse...

Suzana...há uma duvida que assola de imediato o espirito após ler o seu texto.

Mesmo relendo-o, fico dividido sem perceber se o texto fala de :

- Falhas e lacunas financeira.

ou antes de

- Falhas elacunas de caracter.


Sim, é me facil imaginar um qualquer dialogo deste tipo nos dias de hoje...mas o que me salta de imediato á vista, mais que a falta de dinheiro é :

- A falta de caracter, de humanidade, de respeito...mutuo!

Obvio que se entende que o "Jovem" é digamos dque um "ingrato" com o "rei na barriga"...

...mas será que o Estado Financeiro em que nos encontramos hoje. não advem da "cultura e educação semeada" pelo "contabilista", que deu no "fruto" que deu ?

Quem falhou ? o filho ...ou os pais ? ..ou ambos ???


é me dificil concluir...mas para mim, o seu texto poe a nu, talvez uma das (ou mesmo "A") causas mais profundas desta crise e do actual estado deste pais...

Suzana Toscano disse...

Caro Pedro, o papel de "vítimas" que as novas gerações estão a assumir (alguns, mas com grande eco jornalístico)são ilegítimas e levam a que se façam grandes injustiças. É só isso, mais nada, a mim interessa-me muito pouco esse processo de descobrir "culpas", só serve para que ninguém assuma as suas e, pelo caminho,se sacrifiquem os que não podem defender-se.

Frederico Lucas disse...

Cara Suzana,
Tenho imensa admiração por si, e apenas por isso vou comentar este texto com o qual discordo.

As opções individuais de cada familia pertencem à intimidade dessa familia.

"Aquilo que eu faço com o dinheiro que tenho na minha carteira, só a mim me diz respeito. O que faço com o dinheiro público diz respeito a 10M de portugueses."
Sei que me compreende.

Quer o modelo retributivo da Função Pública, com progressões na carreira sustentadas na cronologia e não nos resultados, quer o cálculo de valor de reformas, são atentados à geração dos filhos de Abril.
Nenhum deles se poderia defender nas datas destes "eventos legislativos".

Sobre mim:
Orgulho-me de trabalhar desde os meus 14 anos, tendo começado na Tesouraria da Fazenda Pública de Algés (Programa OTL). E deixei de receber mesada com 19 anos, altura em que saí de casa dos meus pais.

Aceite um abraço


Frederico

Pedro disse...

Suzana,
quando escevi o meu comentário, não foi por estar propriamente num "processo de descobrir "culpas"",

foi, e digo-o sinceramente, porque perante o texto que escreveu, fico dividido.

E sim, se me é facil de imediato, perceber o "interseirismo, exigencia e encosto" do filho...
...de imediato me sruge tambem a questão : quem construi este filho ?

Não sou ainda reformado...mas tb não só já só apenas filho.

E não sabendo o que o Futuro me reserva, uma coisa tou certo:
- Os meus filhos, não irão nunca ter uma atitude destas...quanto mais não seja, porque hoje quando ainda são pré-adolescente, já participam (na medida do possivel) na gestão corrente do dia a dia...já teem a noção que a não compra de uns tenis NIKE de 80 Euros...correponderam a uma semana num ATL de Dança e Teatro nas ferias.

...e tambem sabem que não há PaiNatal, nem nenhum saco de dinheiro!

Assim como eu sei que todos os cortes que hoje ocorrem nas actuais pensões dos meus pais...são já cortes na minha "futura pensão" apesar de eu ainda não estar a recebe-la!

E lá está, eu, por educação e por olhar o mundo e tentar percebe-lo, não vou apontar o dedo aos meus pais, ambos reformados, por estarema usufruir de um nivel de pensão q eu já sei nunca irei receber!

Não me preocupa particularmente o "processo de atibuir a culpa"...mas sem que este seja feito, será tambem vacuo e suoperficial qualquer exercicio de critica.

seja a quem for!

Pedro disse...

(no limite, e perante o texto dá vontade de dizer!)

-Bem, eu, "jovem"...perante o que vejo...o melhor é mesmo não descontar (visto q o mais certo é não vir a ter reforma1)..e ir poupando para a minha velhice!

Mas se todos os fizermos, a SegSocial, colapsa!

este é o dilema..e não creio (no meu caso concreto q não tive nem apartamentos nem carros oferecidos ) que a culpa seja minha..ou dos meus pais...

Suzana Toscano disse...

Caros comentadores, sim, admito que haja muitas perspectivas possíveis e, num processo de ajustes de contas há sempre mil e uma maneira de encontrar justificação para que alguém pague as culpas. Não há "inocentes" neste processo ou seja, todos contribuímos, com mais ou menos consciência,raiva, impaciência ou aplauso, para o que estava a suceder, por essa Europa fora também, como está à vista, só que eles são mais ricos que nós e o choque pode ser mais amortecido (ainda não sabemos).Mas o que eu não posso aceitar é que uma geração que beneficiou de tudo, mas de TUDO o que foi sendo possível ter, geração essa que agora é adulta, se vitimize e alimente processos de "cobrança" às gerações mais velhas, agora que estas não podem defender-se nem pedir a devolução do que deram aos mais jovens. Não sei se podiam ou não ter educado os filhos de outra maneira, não foi um fenómeno episódico, da vida pessoal de cada um, foi um fenómeno colectivo, apoiado em milhares de textos, de correntes de pensamento, de pedagogias, de psicologias, o tempo dos pais inteiramente dedicados aos filhos, concentrados nos filhos, orientados e atemorizados com eventuais falhas em relação aos seus filhos que pudessem depois vir a ser chamadas para justificar insucessos destes, complexos, falta de ambição, igualdade de oportunidades, desculpem, mas querem que lhes lembre que nunca houve, até agora, geração de pais mais pressionados para o bem estar e cuidado com os seus filhos? Para quê? Para os estragarem com mimos inúteis? Nâo, para que, de acordo com o que se entendia, não ficarem para trás, para chegarem ao tal sucesso que a todos orientava,não me venham agora com "culpas" ou com as luzes da nova moral austera, se uns pais tivesse possibilidade e não permitissem aos filhos usufruir dela eram muito criticados e a própria pressão dos filhos era difícil de enfrentar. Porquê? Porque, precisamente, o sistema providencial tinha transferido o risco para o sistema de pensões, libertando a liquidez das famílias ( e a capacidade de endividamento, já agora) para o consumo. Quem isola agora, depois de gastos os proventos,as atitudes do seu contexto não está a proceder com justiça, está a querer justificar que se chamem "privilégios" e "abusos" ao que mais não foi do que confiança.
Caro Frederico Lucas, agradeço-lhe o seu comentário, como referi acima, não creio que se trate de "opções individuais", tratou-se de facto de um movimento, de uma época que, como tantas outras, deram origem a problemas que as gerações seguintes têm que resolver,solidariamente e não com condenações em direito a defesa, a menos que se acredite no fim da História. E, claro, nem todas as famílias foram iguais, mas a generalidade acabou por seguir este modelo, não podem ter sido todos malévolos e inconscientes para com o futuro dos seus filhos. Aliás, os idosos são as primeiras vítimas desta alteração de circunstâncias, não merecem a amargura de se verem acusados pelos que alimentaram. Por isso escrevi o texto, para, como digo logo de início, "ajudar à reflexão", para não serem só uns a apresentar a factura.
Caro Pedro, permita-me que recorra à minha experiência de pertencer a uma família muito grande e com muitos filhos já adultos para lhe dizer que nunca, mas nunca, poderemos afirmar nada com certeza absoluta em relação ao que vão fazer os nossos filhos, como vão pensar e como vão julgar-nos. O mais que podemos fazer é,em cada momento, agir da forma que consideramos melhor para eles, o que eles fizerem com isso, como vão interpretar e incorporar na sua própria vivência, vai ser sempre um exercício de adivinhação.
Obrigada a todos por esta excelente troca de argumentos, espero que os mais novos não venham a ser apanhados desprevenidos como os actuais idosos, mas duvido, a vida é tão surpreendente que se formos sempre duvidar de tudo, prevenir tudo, lutar contra tudo, nunca faremos coisa nenhuma!

just-in-time disse...

Caros
Concordando com o post e muitos dos comentários, parece-me este tema um pouco "luso-focused". Será?
Recordo um francês, nos anos setenta, contando que tinha casado enquanto estudante universitário porque já estavam ambos fora de casa, tinham tido as criancinhas aos vintes e, quando chegaram aos quarentas, os rebentinhos estavam também a sair de casa, permitindo ao casal retomar a sua vida própria.
Lembro também um Prof, igualmente francês que, pela mesma altura, ao inteirar-se do nosso ensino universitário, exclamava: "mais vous formez des enfants prolongés!"
Mais recentemente, quando uma estudante portuguesa na Holanda contava ter vivido até aí com os pais, perguntavam se tinha algum problema, porque lá saiem todos aos 18 anos, trabalhando e recebendo apoio do Estado, enquanto estudam.
É verdade que os nossos jovens enfrentam hoje uma crise muito séria mas antes terão sido um pouco "des enfants gâtés"

Blogeer Teste disse...

Os Homens medem-se pelas suas Obras. Relembro, que foram as Gerações anteriores ,talvez, as mais bem preparadas que criaram:
Pirâmides; Torres , Pontes,e.t.c;
Máquina a Vapor;
Eletricidade; Lâmpada; Motores
Penicilina;
Combustivéis:
Automóvel; Barcos;
Comboio;
Avião;
Que foi que criou o Automóvel;
Válvula;Transístor;
Microprocessador;
Fibra Óptica;
Rádio e Televisão:
Autómatos,Robots;
Software; Hardware;
Computador (P.C), Portátil;
Futebol;Desportos;
Jogos P.C;
Músicos; Professores,Cientistas;
Telefone; Telemóvel;
W.W.W.

strik disse...

Este texto parece-me mais um ''deja vu'' típico portuga, lamurias, mais lamurias, mas no fim a verdade é como o azeite, a pequenez e egocentricidade dos europeus está na sociedade atual sem qualquer escrúpulo e sem qualquer ética de valores, é preciso viajar por países de outros ''mundos'' para dar-mos com a realidade, os ocidentais viveram e continuam a viver muito acima das suas possibilidades, sob o meu ponto de vista muitos deles não produzem para um prato de sopa, enfim, o futuro me irá dar razão, que o materialismo e ocidentalismo são formas de vida social demasiado opacas e que irão desaguar a um Oceano de contingência da verdade pura e crua!

mfcosta disse...

Muito bem! Obrigada.

Zé Luís disse...

Eu acrescentaria mais umas frases: Não sei como será a nossa vida, ambos reformados, vivendo perto do limiar da pobreza, como parecem desejar estes e muitos dos políticos que nos (des)governam/ram. Tenho receios, pois talvez nem nós nem tu tenhamos o suficiente para os medicamentos, alimentação, etc. Penso muito nisso e cada vez estou mais céptico. Também eu espero um milagre...

Unknown disse...

Achei o texto um pouco lamechas e desinteressante... não sei se por ser um monólogo ou por tentar transmitir uma mensagem 'intergeracional' (ou ambos). Nem este pai é representativo de todos os pais, nem o filho de todos os filhos.

Creio ainda que fiar-se nos filhos para o sustento na velhice não seja estratégia que se recomende a ninguém. Nem hoje, nem nunca.

sao matos disse...

Boa tarde,
é a primeira vez que entro neste blogue, para subscrever inteiramente a alteração do último parágrafo proposta pelo Bartolomeu.
É revoltante ver a forma como a classe política que tem governado este País, e sempre os mesmos em regime de alternância, porque teimosamente o povo assim o vai permitindo com o seu voto. Dizia eu, como é revoltante ver ao estado a que chegámos, de perdermos a nossa identidade, a nossa qualidade de vida conquistada depois do 25 de Abril. Como é possível recuar em certos aspetos, repito em certos aspetos, 40 anos?

João Pacheco Loureiro, não considera o texto representativo, mas acaba por sê-lo, porque a partir do momento em que sabemos de muitas famílias, milhares de lares destruídos, este texto acaba por ser representativo. Se todos estivéssemos empregados, todos os jovens estudando ou a trabalhar, em Portugal, se os reformados estivessem gozando o descanso merecido, sem preocupações, a nossa economia próspera, no fundo um governo que nos respeitasse como cidadãos e não pensasse no povo apenas para o voto, etc. etc. há pois com certeza o texto era descabido. Infelizmente torna-se bem real!
Todos os que têm votado na manutenção deste estado de coisas, devem refletir de que a continuar assim também vão levar penalizações e a qualidade de vida que ainda tenham vai desaparecer.