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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Assim vamos nós

Quero dizer que gostei imenso, como sempre, de ouvir a Dra. Manuela Ferreira Leite, é uma daquelas raras pessoas que vale sempre a nossa atenção.Gostaria de a ouvir fosse qual fosse a minha preferência política, porque nos ajuda a pensar, nos interpela com inteligência e nos faz sentir parte das decisões que nos dizem respeito e que estão a ser agora ponderadas e preparadas. Para se concordar ou não, é preciso ouvir quem merece ser ouvido. Por mim, prefiro atormentar-me com dúvidas, prefiro baralhar-me com debates entre quem sabe e tem autoridade para se pronunciar, prefiro gastar tempo a informar-me e a pensar até poder formar o meu juízo, prefiro isso tudo a ficar à espreita para atirar pedradas a quem decidiu ou deixou de decidir sem eu ter querido sequer perceber porquê.
Parece-me perfeitamente saudável e desejável que, quando alguém tem uma ideia ou faz uma proposta convencido de que é a melhor para uma situação, a defenda com unhas e dentes. Parece-me perfeitamente saudável e desejável que outros contraponham as suas razões, critiquem, contra argumentem para, em boa consciência, evitarem que a situação seja, a seu ver, mal resolvida. De tudo isto devia resultar uma solução capaz de responder à necessidade que ditou o debate, eliminando riscos, aperfeiçoando ou simplesmente afastando a ideia, à medida que os dados forem devidamente ponderados. Mas não, o que acontece por cá, e por muitos lados também, é que se desencadeia logo uma guerra de trincheiras, contam-se as espingardas, marcam-se pontos, tudo se resume a “ataques”, a “defesas” e em breve está tudo a contar“golos” e penaltis, a comentar "jogadas" ou estratégias, a dizer mal dos jogadores, dos leais e dos traidores, de quanto ganham, que deviam ser vendidos na próxima temporada, julgados sumariamente ou deixados na bancada a ver jogar os favoritos dos espectadores. O problema propriamente dito, que ditou a discussão, fica esquecido na turbulência dos avanços e recuos no terreno minado ou do azar da bola à trave.
Misturei neste escrito guerra e futebol de propósito, porque me parece que situações dramáticas acabam por ser tratadas na praça pública como se fossem um jogo de pontapés numa bola. Só que quem leva o resultado e as mazelas para casa não são as equipas em confronto, somos todos nós, pobres guerreiros.



19 comentários:

Bartolomeu disse...

É fácil estarmos de acordo com a conclusão deste seu post, cara Drª Suzana Toscano. Por ser real aquilo que se passa no nosso país, relativamente aos políticos, decisores, opositores e comentadores.
Discute-se a cor dos olhos e a forma de andar, aquilo que veste (recordo-me de, aqui no "quarta", alguns autores se referirem a membros do séquito de Sócrates pela designação de "brigada Armani") "fulano-de-tal" que disse "não-sei-o-quê" à saída "não-sei-de-onde" após o decurso de uma reunião com "uns-tipos-quaisquer" para decidir uma medida que nos irá tramar ainda mais a vida.
Discute-se tudo e mais alguma, só não se discute o essencial. Porque discutir o essêncial e decidir bem, ou seja, decidir com sentido de oportunidade e de utilidade, implica um conhecimento real e profundo, sobre a matéria a discutir. É necessário reunir, para decidir. E a necessidade dessa reunião, justifica-se pela necessidade de participar nela, agentes conhecedores das várias áreas implicadas, das quais depende o bom resultado da decisão.
Por exemplo; ontem, na entrevista ao Sr. Primeiro Ministro, às tantas, veio à baila a questão dos custos contratuais das várias estradas concessionadas e o logro que era, reduzir as intervenções de manutenção, como forma de poupar "algum". O nosso Primeiro explicou que os contratos estavam firmados, reconhece-se agora que foram mal firmados, mas que era impossível denuncia-los.
Toda esta discussão anda portanto em torno de um problema, e esquece um outro muito mais importante do meu ponto de vista, que é: uma vez que existe uma rede viária que foi construida com diversas finalidades, sendo delas rainha, a facilidade de comunicação e de deslocação de pessoas e bens, com vista ao desenvolvimento do interior do país e a evitar a desertificação desse interior, facto que sobejamente se está a verificar; porque raio, em lugar de se discutir algo que não tem discussão, não se discute aquilo que é realmente importante e que pode ajudar o país, as populações e as regiões a desenvolver-se?
Ou seja, porque raio não se reune o governo com técnicos agrários, com autarquias, com associações de agricultores e estudam o que é necessário fazer em conjunto para tornar a agricultura viável?
Porque raio não se reune o governo com as escolas superiores de agricultura e de veterinária, e não estudam um plano de produção apoiado no terreno por técnicos destas áreas.
Ao contrário, discutimos a falta de emprego e de colocação para todos os que terminam os seus cursos superiores e ouvimos os protestos avulso daqueles que isoladamente bradam aos céus as famigeradas frases «ando ha um ror de anos a alaertar para esta situação...»
;)

Tonibler disse...

Cara Suzana,

Numa coisa foi útil ouvir a MFL. Quando as pessoas que trouxeram o estado ao estado em que está começam a ficar todas do mesmo lado, é quando começamos a ter confiança no sucesso da solução que está a ser seguida. Como isto foi acompanhado por um belo ramalhete de calinadas técnicas (o que vindo de um ex-min das Finanças explica muito do estado do estado) então penso que foi feito um grande serviço ao país e em muito foi reforçada a minha admiração pelo Gaspar (ao qual o brilhantismo da solução da TSU devemos todos homenagem, já prestada aliás pelo Sei-lá-se-é)

Politicamente já é coisa para as pessoas do PSD resolverem, mas imagino que já estejam habituadas a esta nojice de andarem a meter facas nas costas uns dos outros. Depois queixam-se que lhes chamem nomes.


Caro Bartolomeu,

Ontem em contas de merceeiro alguém me mostrou quanto é a dívida da minha família se assumir que o estado português é para salvar. 164000 euros. Por extenso, CENTO E SESSENTA E QUATRO MIL EUROS.

Porque é que o primeiro ministro não reúne com não sei quem? PORQUE EU NÃO QUERO!!! Isto é para todos pagarem e todos vão pagar porque eu não votei em nenhum destes artistas e estou com uma dívida maior que aquela que fiz com o banco para comprar a minha casa. Ai os agricultores, ai os professores, ai os antigos ministros da finanças,... ESTÁ TUDO A PAGAR!!!!!

Alternativamente, fecha-se. Mandam-se o empregados para casa, inventariam-se activos, entregam-se os serviços aos espanhóis ou aos ingleses. Se é melhor ou não, não sei, mas só calar as MFL's deste mundo já é lucro!

Bartolomeu disse...

Tá-se mêmaver que o caro Tonibler se deixou picar pela mosca telecomandada do sono que o Primeiro Ministro pôs ontem a voar, durante a entrevista.
O caro Tonibler não se deu conta, que o senhor PM ontem, não fêz mais que dirigir a mosca, direitnha(mente) à jugular do "tuga".
O caro Tonibler não reparou na preocupação exagerada da televisão, em apresentar grandes planos do rosto do Sr. PM, com especial incidência nos olhos, na esperança de ver aflorar uma lagrimita, naqueles momentos cruciais em que apelou à honestidade e ao rigor, em que fez sobressair o sentido de estado e de pátria, e ainda, quando abriu o alçapão da cave dantesca do futuro, caso as medidas que deseja impôr, não reunão o voto dos deputados.
Mesmo depois de um dos entrevistadores lhe mandar prá frente com o perdão à Grécia, de uma parte significativa da dívida.
Mas afinal, estamos a falar de quê, concretamente, caro Tonibler? De uma teimosia, de uma imposição, ou de uma cegueira?
É que se estamos a falar de uma malvadez, de um desejo compulsivo para fazer mal... prenda-se o gajo!

Pedro disse...

Tonibler,

(em jeito de golo com grande frango do teu gr, tóma lá...)

então e se morreres á fome, porque empenhaste os papo-secos para a taxa da TSU, como pensas pagar dos tais CENTO E SESSENTA E QUATRO MIL EUROS, que referes ?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
É triste que se tratem as questões graves do país como quem relata um jogo de futebol. É uma espécie de bate e foge e já está. Tratar questões importantes como "espuma do dia" é deprimente e leva-nos ao deserto da ignorância e do engano. A entrevista da Dra. Manuela Ferreira Leite - goste-se mais ou menos, concorde-se mais ou menos - foi um excelente momento. Uma entrevista com conteúdo e pensamento, com ideias articuladas e emoções que tanta falta fazem, em que a Dra. Manuela Ferreira Leite foi capaz de vestir vários "chapéus" num mesmo momento, o de economista, o de política e o de cidadã, o que convenhamos não é fácil e é raro de se ver.

Suzana Toscano disse...

Caro Bartolomeu, acresce que nem sempre é necessário um conhecimento técnico profundo para as pessoas formarem uma opinião - diferente de terem capacidade de executar - , ou a democracia e o direito de voto a todos os cidadãos, em pé de igualdade, não teria sentido. Daí a importância de se explicar a quem não sabe de modo a que essa opinião se possa formar honestamente, com os elementos centrais, em vez de se dispensar explicações e se tentar fazer passar as coisas como fatalidades ou certezas sem discussão.
caro tonibler, se não acha útil ouvir MFL (o que estranho, uma vez que várias vezes o li aqui dizendo coisas muito semelhantes ao que ela andou a dizer durante anos!) leia ao menos com cuidado a tal entrevista do "sei-lá-se-é", é que a mim pareceu-me que é exactamente o que diz o nome, tudo menos certezas excepto uma, clarinha como água: foi o Governo que escolheu esta medida "criativa" (sic)e ele vai ficar a ver o resultado, muito curioso, a tomar notas para futuros casos...
Caro Pedro, descontada a ironia, acho mesmo muito bem perguntado.
Margarida,é porque é raro e difícil reunir todas essas competências e qualidades...

Anónimo disse...

Suzana, como bem diz na nota sobre o comentário do nosso Amigo Bartolomeu, se a democracia se praticasse só entre quem tem conhecimento técnico, então não era democracia, mas sim uma oligaquia de tecnocratas ou uma tecnocracia. Para oligarquia (neste caso de burocratas) bem nos basta a que detém o poder em Bruxelas!
Quem detém a vantagem do conhecimento pode e deve manifestar opinião, ajudar a esclarecer o que não está ao alcance do cidadão comum. Mas é este quem legitima a decisão, e por isso tem o estrito direito a pronunciar-se sobre ela.
Quanto ao nosso indispensável Tonibler, há dias já o elogiei pela sua enorme versatilidade, só igualável pela capacidade manifesta de reverter argumentos. Para além da sua fé e atração pelos modelos, que comunga com o nosso ministro das finanças, a alteridade de que o nosso caro Tonibler é capaz, e a facilidade com que argumenta contra si próprio, colocá-lo-ia nos primeiros lugares do ranking da advocacia nacional. Ele diz que não, mas eu aposto que sim com a autoridade de quem está habituado a selecionar os que distinguem pela dialética.

Tonibler disse...

Quanto à MFL, atendendo que a senhora fez a sua cena de "há vida para lá do défice" será talvez de nos questionarmos se quem perdeu o referencial não foi ela, e não eu que a estou a contestar. Continuo a dizer as mesmas coisas que ela dizia, ela é que aparentemente não.

Quanto aos modelos, que compreendo que para os economistas sejam coisas importantes, mas algo não é um modelo só porque envolve mais que uma operação aritmética. É baseado em primeiros princípios da ciência económica que qualquer economista deveria saber na ponta da língua (eu não sou e sei). Aqui podem realmente dizer que me estou a contrariar, porque achava o homem um estagiário e na realidade parece ser o primeiro ministro DE finanças de facto desde há décadas.

Caro Bartolomeu,

eu não vi a entrevista do PM senão alguns do momentos que foram destacados nos jornais da meia noite. Eu defendo esta medida desde que fiz as contas e, sempre, no pressuposto que há um estado para salvar. Será disso que falará quando fala em teimosia, mas podemos deitar isso tudo fora.

Caro Pedro,

A medida da TSU é um imposto sobre os produtos importados que será tanto maior quando maior e mais estágios de transformação um produto tem em Portugal. A carcaça deverá baixar de preço ao longo do tempo.
Mas repare, esse é o lado para onde durmo melhor. Podemos mandar os credores às favas e ficamos a ver o pessoal a imolar-se pelo fogo no Terreiro do Paço como vemos na Grécia.

Caros todos,

de uma coisa estou certo, se o orçamento não passar meto o dinheiro todo fora de Portugal e imagino que boa parte dos meus conterrâneos com dois dedos de testa façam a mesma coisa porque o estado fica entregue ao seu destino. Espero que a economista, política e cidadã tenha tido isto em mente quando foi fazer aquele apelo.

Suzana Toscano disse...

Caro Tonibler, há coisas que nunca saberemos, por exemplo o que aconteceria se fosse aplicada a TSU, caso improvável de ir para a frente, ou o que aconteceria se não fosse aplicada. Uma das coisas ficaremos sem saber mas o que sei é que, se é assim tão criativa e se não há nenhum país no mundo que o tenha aplicado desta forma, não é caso para perguntarmos por que motivo são todos tão pouco criativos?

Tonibler disse...

Cara Suzana,

Há razões para ser criativo, uma delas é o estado estar completamente falido, outra delas é ter chegado à falência para lá do limite dos impostos cobráveis e, finalmente, para além de estar completamente falido, ter ultrapassado o limite dos impostos cobráveis, é funcionalmente imprestável, como o Tribunal Constitucional mostrou que é.

Não sei se perspectiva que isto não possa estar pior do que está, mas posso dizer-lhe de várias pessoas com quem falei que a minha perspectiva é de que se o apelo da MFL fosse levado avante e o OE for chumbado, os bancos ficariam sem depósitos na semana subsequente porque mais ninguém vai acreditar que seja possível salvar o estado português. A circulação de euros pára em Portugal em menos de uma semana.

É criativa por ser nova e brilhante. Sabe que os portugueses sabem fazer coisas novas e brilhantes, tão novas e brilhantes como o resto dos europeus todos? Estou certo que os técnicos da troika quando a entenderam concordaram logo com ela. Se é que não foi criada por eles e calaram-se, atendendo que na práctica é um imposto sobre a importação. Como "explicou" o Gaspar, é semelhante à desvalorização da moeda mas de efeito permanente.

Agora, podemos todos chegar à conclusão que esta sociedade que temos de ter uma empresas de serviços a que chamamos de estado português não funciona. E eu até acho que não funciona. E fecha-se.

Se quer dizer que é improvável que a medida vá em frente, esse informação é boa porque assim vou acelerar as minhas coisas.

Tonibler disse...

Cara Suzana,

afinal, de originalidades, a Suécia anunciou ontem que vai fazer mas com dinheiro do orçamento de estado. Vantagens de não se estar falido ...

http://www.bloomberg.com/news/2012-09-13/sweden-to-cut-corporate-taxes-to-attract-business-create-jobs.html

Carlos Sério disse...

E para aqueles, sabe-se lá porquê, menorizam o valor da poupança financeira do aniquilamento da administração paralela parasitária, devo dizer que esse valor está estimado em cerca de 6%do PIB.

Bartolomeu disse...

Caro Tonibler, não faço a menor ideia, do grau de dificuldade das contas que fêz.
As que faço, são do mais simples que possamos imaginar e resumem-se ao seguinte: se o poder de compra dos portugueses é hoje menor, porque sofreram uma redução nos ordenados, o corte do subsídio de férias e do 13º mês, o agravamento das taxas moderadoras na saúde, o agravamento dos impostos sobre a habitação e sobre os bens de consumo alimentar e básicos; se essa redução do poder de compra se reflectiu no volume de vendas e por conseguinte nas suas receitas, conduzindo à recessão e ao encerramento e falência, muitas delas, com o consequente aumento do desemprego. Como quer o caramigo, que mais uma redução nos ordenados, levem os portugueses a consumir o suficiente para que as empresas recuperem e se mantenham.
E não me dê a resposta que o Sr. PM deu ontem aos entrevistadores, dizendo que as empresas, ao embolsarem o valor da redução da taxa, ficam em posição de reduzir os preços dos produtos. Essa não serve porque o ministro Vitor Gaspar, avisou logo que esse diferencial ía para uma conta específica, de onde só seria retirado para fins de formação profissional ou renovação de equipamentos de produção.
Portanto, um euro, não pode ao mesmo tempo comprar um euro de batatas e um euro de cascas de alho... é necessário optar por um, ou pelo outro.

Tonibler disse...

O ministro das finanças disse isso sem pensar porque isso é impraticável. Estou certo que isso não vai acontecer. Quanto às dificuldades dos portugueses, vou-me repetir mas das duas, uma, ou se salva o estado português, ou não. Se é para salvar, ele só vai ser salvo pelos portugueses. Todos. Porque o sacrista do Sócrates e os outros todos antes dele não foram lá postos nem pela Merkel, nem pelas agências de rating, nem pelos especuladores da economia de casino. Portanto, quem vai pagar são os portugueses. Não sei que ideia tem de "pagar", mas sim é isso mesmo. E são 40 000 euros que o meu amigo deve, não sei se o seu 13º mes é desse montante, espero que sim, mas para ter uma ideia do que tem que está dever, é isso.
Se calhar o que temos para optar é se mantemos o estado português ou se acabamos com ele. Olhe, o presidente da república parece inclinado para esta última opção.

Bartolomeu disse...

Caro Tonibler, uma vez que lhe deu para se virar para a futurologia, adianto-lhe que em minha opinião e em termos de futuro, naquela conversinha entre Vitor Gaspar e o ministro das finanças alemão, o sr. Wolfgang Schaeuble... aquele que deu agora uma volta de 180º na política de empréstimos aos paises + à rasca... foi dito ao nosso ministro o seguinte: «vai em frente Vitinho, massacra esses gajos que andaram a navegar pelo mundo e que foram para o norte de França mandar morteirada para cima dos nossos. Vai confiante que eu estou na rectaguarda a proteger-te de qualquer risco. E se os gajos se armarem ao Grego, não tens problema, agente arranjames aí mais uns cobres para lhes calar a boca e tu e o teu patrão, saem em ombros pela porta alta com meia dúzia de rabos e outras tantas orelhas... cortados. Vai, homem, manda-te com confiança ao touro, e se no fim o caldo se entornar e fores colhido... podes contar com a cadeirinha de rodas. Vais ver que ainda formamos o "gangue da cadeira de rodas", capaz de fazer corar de inveja a Bonnie e a Clyde...

Tonibler disse...

Caro Bartolomeu,

Os 40000 já deve hoje. No futuro, ainda vamos ver ...

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Só ontem tive tempo de ver a entrevista de MFL. Achei que o entrevistador muito fraquinho o que reduziu a qualidade da entrevista.

Compreendo que quem seja da geração e do estrato social de MFL tenha uma grande empatia pela sua entrevista. MFL fala de problemas relevantes a esse conjunto de pessoas. Devo dizer que não sou da geração de MFL (podia ser seu filho) e tenho dificuldades em compreender certas coisas.

Por exemplo, é-me incompreensível que uma classe média reformada que vive com reformas muito acima da riqueza que criou e muito acima da riqueza que o país pode suportar, tenha a lata de se lamuriar em público. Foi o momento Cavaco Silva de MFL. Todos devem contribuir inclusive os reformados. Haverá situações dramáticas em muitos lados, mas um reformado sempre tem a reforma, enquanto que um desempregado nem subsídio de desemprego terá. É-me incompreensível porque eu também sustento os reformados e não vou ter reforma.

Outro ponto que me causou impressão foi o da pobreza. É ou não inevitável que todos saiamos mais pobres da aventura socialista da última década? Não percebo que perante um facto evidente haja esta recusa. É evidente que todos vamos pagar a factura e ficar mais pobres. É uma tragédia.

Depois há um argumento de prudência, que colhe, mas que depois não é muito coerente com um apelo à revolta da bancada do PSD.

Outro contras senso é argumentar com as limitações dos modelos económicos (com o qual se pode concordar) mas depois não ter a prudência de reconhecer que qualquer outro meio de previsão (como o "bom senso") também será limitado.

Como cidadão simpatizante de MFL, esta entrevista cheirou-me muito a esturro. Há de facto um enorme cheiro a esturro no ar que não deixará de ser aproveitado pelas "forças de bloqueio".

Num ponto estou de acordo com MFL. Há de um problema de comunicação do governo, em parte solucionado com a prestação de PPC na entrevista à RTP, mas que não deve ser subestimado.

Suzana Toscano disse...

Caro tonibler, não sei se a criatividade é em si mesma uma qualidade, já vi criativos de que me apetece fugir a sete pés mas, se não interferirem com a minha vida, não tenho nada a contrariar. Quanto à Suécia tem razão,é muito diferente fazer com o orçamento de Estado do que com o dinheiro dos empregados, por alguma razão eles não copiaram a nossa criatividade e está longe de estar demonstrado, como se viu pelo estudo do ano passado, que, neste caso, a ordem dos factores nãoé arbitrária.E o seu diálogo com o caro Bartolomeu, que aduziu vários argumentos importantes, mostra bem como nem todas as variáveis dos modelos estão esclarecidas...E todos queremos salvar o Estado, de preferência com êxito nas intenções.
caro Ilustre Mandatário do Réu, poderá haver um problema geracional que se traduz no facto normalissimo de cada geração ser mais sensível aos seus problemas que aos dos outros (e cada corporação, e cada família e cada pessoa...) mas talvez pudesse revisitar a entrevista porque creio que entendeu menos bem as partes que refere. MFL não disse nunca que os reformados não deviam contribuir, pelo contrário. mas disse que muitos já suportam uma carga fiscal da ordem dos 70% ou seja, mais do que a generalidade dos do activo e disse também que não se pode simplesmente transpor para os que já estão reformados a lógica salarial, porque não se trata de um salário mas de uma pensão formada ao longo da vida com contribuições definidas por lei, é uma entrega ao Estado, e este não pode agir como um "patrão".Quanto à pobreza, não disse que não haverá um empobrecimento, o que disse é que não se devem tomar medidas que nos conduzam irremediavelmente à pobreza sem retorno, que o objectivo das políticas, mesmo nas actuais circunstâncias devem ter a prudência de ir guiando o País, num contexto de grande indefinição internacional, de modo a não nos levar "à desgraça". Quanto às limitações dos modelos económicos, são bastante óbvias para quem sabe de política. Quanto ao esturro, caro mandatário, entra no campo da intriga política, do tal jogo de bola que, francamente, me parece não conduzir a nada a não ser desviar as atenções do que é do interesse de todos e não dos grupos de poder. Mas, claro, posso ter entendido mal.

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Cara Suzana Toscano,

1) Pedia-lhe o favor de explicar melhor quem são os reformados que suportam uma carga fiscal de 70%. Pedia-lhe que apresentasse um caso genérico exemplificativo desse grupo.

A existirem serão uma minoria que como é óbvio não pode ser comparada com a generalidade . Este argumento em que se compara o caso isolado de uma população com a generalidade de outra é falacioso.

Sobre as pensões que refere e por muito que a minha amiga refira a lei, não rebateu o meu argumento. Criaram essas pessoas a riqueza que suporta a pensão irão receber ao longo da vida? Se não criaram então não é verdade que se possa dizer que foram formadas por contribuições ao longo da vida.

2) Sobre as limitações dos modelos económicos. O meu ponto não era sobre se eram ou não limitados. Até disse que eram limitados. O meu ponto foi sobre a falácia de MFL ao dizer que A é limitado e depois apresentar B, sem referir as limitações de B. Mas aqui até concedo que no tempo real da entrevista não seja abordado e o entrevistador não cumpriu o seu dever. Mas fica o ponto que é importante.

3) Sobre a pobreza "sem retorno" isso é algo que não se pode prever. Aliás este é o problema central da postura defendida de MFL. Critica (e está no seu direito e faz muito bem pois cumpre o seu dever cívico) mas não propondo nada a não ser ideias vagas com as quais estamos todos de acordo acaba por não fazer uma contribuição positiva ao debate. O que propõe exactamente MFL?

Cumprimentos, IMdR
PS: O esturro não era nenhum ataque pessoal a MFL por quem sempre tive muita simpatia e respeito. É apenas "feeling".